Quando um paciente apresenta uma infecção até 72 horas após a sua estadia em uma unidade de saúde – sendo comprovado que o quadro não existia no ato da sua entrada ? podemos dizer que estamos diante de um caso de infecção hospitalar. No Brasil, segundo dados da Comissão Nacional de Biossegurança (CNB), pelo menos 100 mil pessoas morrem ao ano por causa do problema, que atinge tanto as instituições públicas, como as privadas. E os altos números não são exclusividade nacional. Nos Estados Unidos, por exemplo, surgem pelo menos 1,7 milhão de infecções anuais resultando em cerca de 100 mil óbitos. Na Europa, são registradas 4,5 milhões infecções que provocam ao menos 37 mil mortes por ano.
Para pensar no problema precisamos antes entender as suas causas. Uma infecção hospitalar está relacionada, basicamente, a dois fatores: o consumo exagerado de antibióticos pela população e o controle e a profilaxia ineficientes por parte dos hospitais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 50% das prescrições de antibióticos em todo o mundo são inadequadas, sem somar os incontáveis casos de automedicação. Essas medidas favorecem a multiplicação de bactérias resistentes aos medicamentos vigentes e são responsáveis pelos casos de mortes causadas tanto pelas infecções comuns, quanto pelas causadas pelas chamadas ?superbactérias?. Atualmente, o estado do Rio Grande do Sul está em alerta por causa desse problema, que recentemente também atingiu os Estados Unidos, a Índia e o Canadá.
O segundo fator relacionado ao problema é a falta de controle por parte dos próprios hospitais já que, ainda de acordo com a CNB, cerca de 80% de todas as instituições de saúde brasileiras não fazem a prevenção e o controle adequados. Como consequência, 14% dos pacientes internados se tornam vítimas de uma infecção hospitalar. O que mais preocupa é o fato de que pelo menos metade desses casos poderia ser evitada se os profissionais de saúde adotassem medidas simples, como a lavagem frequente de mãos.
Desafio
A prevenção e o controle das infecções é um dos maiores desafios atuais da saúde pública. A melhor maneira de enfrentar o problema é através do rígido controle da qualificação em todas as etapas do atendimento médico, da entrada do paciente à sua alta hospitalar. Esse controle é baseado em normas de qualidade e segurança do paciente.
No Brasil, há instituições acreditadoras da qualidade e segurança. A Joint Commission Internacional (JCI) é a maior do segmento em todo o mundo. Instituições acreditadas seguem padrões rígidos para o controle da segurança. Para obter o selo de acreditação da JCI, por exemplo, uma instituição de saúde leva, em média, dois anos para corrigir pontos falhos e atingir padrões internacionais de qualidade e segurança do paciente.
Recentemente, o Senado Federal aprovou o projeto de Lei 126/2012, que dispõe sobre a obrigatoriedade de avaliação, acreditação e certificação dos hospitais públicos ou privados, vinculados ou não ao Sistema Único de Saúde (SUS). Espera-se que a Câmara dos Deputados também dê sinal verde para esta política da qualidade na Saúde. O resultado será um ambiente mais seguro para todos, sejam pacientes, médicos ou demais profissionais da saúde.
*Maria Manuela Santos é médica e superintendente do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), instituição que representa a JCI no Brasil. Há 13 anos, o CBA vem avaliando instituições de saúde brasileiras
*Este 15 de maio é o dia do Combate à Infecção Hospitalar