Difícil imaginar uma relação positiva entre o automóvel e a saúde. A primeira situação que vem à mente são os impactos negativos que este primeiro pode causar ao corpo humano. Mais curioso ainda é entender a ligação desses dois elementos na construção e gestão de uma entidade centenária. A instituição em questão é a Associação Beneficente e Filantropia São Cristóvão (SP), que nasce pelas mãos do associativismo dos antigos motoristas de praça no início do século 20 e se transforma com ensinamentos adquiridos na indústria automobilística quase cem anos depois.,13,A trajetória da entidade se confunde com a própria história da capital paulistana. No início do século passado, na ?Paulicéia Desvairada?, descrita por Mário de Andrade, cerca de 260 mil habitantes disputavam os espaços da cidade com o trânsito de bondes e com os chamados motoristas de praças. Foram os acidentes entre os choferes e estes extintos veículos, que deram origem à Sociedade Internacional Beneficente dos Chauffers do Estado de São Paulo, fundada com o objetivo de defender os interesses de classe, ou seja, em sua maioria, estes taxistas. ,13,Inicialmente, a associação tinha apenas uma representação jurídica. Depois isso se ampliou à assistência médica. ?O plano de saúde nasceu antes do hospital, com os choferes. Em 1911, havia um problema de acidentes de automóveis com os bondes?, conta o CEO da entidade, Valdir Pereira Ventura. ,13,O segundo passo da entidade foi a construção de um sanatório em Campos do Jordão, no interior de São Paulo, para cuidar dos problemas de saúde dos associados. Longe do perfil epidemiológico dos nossos tempos, as doenças enfrentadas por essa classe eram epidemias como a tuberculose. E, como, eram expostos, diariamente, a grande quantidade de pessoas, inclusive imigrantes, se fez a necessidade da construção do Sanatório. O espaço foi desativado na década de 80 e hoje, no mesmo lugar, funciona o Hotel Recanto São Cristóvão. ,13,Coisa de família,13,Na década de 50, a capital paulista não parava de crescer e assim também acontecia com o número de consultas, exames e internações da associação. A construção de um hospital para os beneficiários se tornava necessária, ainda mais porque eles recebiam assistência médica na sede da entidade, no centro paulistano, e, em razão de abalo por obras vizinhas, os atendimentos foram transferidos para instituições como o Beneficência Portuguesa. ,13,Na época da construção do hospital na Mooca, o local deixava de ser uma zona industrial para dar lugar a uma região residencial, de comércio e serviço. O bairro também era a residência de alguns membros da diretoria, como José Augusto Ventura e Américo Ventura, avô e pai de Valdir, e um ponto de ligação com moradores da zona leste paulistana como Brás, Tatuapé, Belém e Belenzinho, que na época estavam em constante expansão.

Choque de gestão,13,Ao saber do começo da história, seria fácil imaginar que o atual CEO seguiria os passos do avô e do pai em uma carreira aparentemente óbvia. Mas não foi isso que ocorreu, pelo menos não de imediato. Em decorrência de um acontecimento pessoal, Ventura, que estava indeciso entre a medicina e a engenharia fez sua escolha. ?Minha mãe estava com o canal lacrimal entupido. Enfiaram uma agulha nos olhos dela para desobstruir, e eu desmaiei?, lembra, dizendo que o fato foi essencial para seguir com a engenharia. ,13,Foi assim que, apesar de ser um associado da instituição, Ventura seguiu em sua carreira no setor automobilístico e longe de bisturis e pronto-socorro. ?A Ford me enviou para Michigan, onde cursei o MBA em Planejamento Estratégico. Lá eu alcancei o cargo de diretor- adjunto de negócios?, conta. De volta ao Brasil, foi convidado para trabalhar em Camaçari (BA), onde ficaria ?full time?. O período coincidiu com o adoecimento de seu pai e tal a situação fez com que Ventura optasse pelo retorno a São Paulo e deixasse a montadora.,13,?Eu não podia trabalhar em área relativa à automobilística, pois fazia parte do departamento estratégico. Quando eu ia trabalhar na Natura, me chamaram para assumir à direção da entidade?, relembra.
O aprendizado na Ford foi fundamental para conduzir os negócios no novo posto. Ainda mais porque o executivo encontrou a instituição passando por uma crise financeira e a hora era de transformação. Algumas pessoas, inclusive ocupantes do alto escalão saíram da instituição durante o período. ?Aprendi muito na Ford e apliquei o conhecimento? diz Ventura. E completa: ?Falavam que eu era louco por processos, que eu queria
construir caminhãozinho?, relembra, de forma descontraída.,13,Diferente de outros setores da economia, a Saúde e, mais precisamente, a assistência médica não combina com a escala. Mas, por outro lado, nada a impede de adotar processos para mitigar custos e melhorar a qualidade, inclusive com metodologias como o Lean, grande conhecido do setor automotivo, que foi implantado em sua adaptação healthcare no pronto-socorro da instituição e está sendo implementado no centro cirúrgico. ,13,?A mudança mais marcante foi na cultura. Tínhamos muitas linhas de pensamento. Durante este período, resolvi mudar a cultura, criei o planejamento estratégico e um departamento de qualidade?. 
O choque de gestão comandado por Ventura rendeu à instituição sete certificações em quatro anos e um salto de 41 para 76 mil vidas no plano de saúde. ,13,No ano de seu centenário, a instituição foi reformulada e ampliada e recebeu R$ 42 milhões para ampliação e projetos de melhoria. Com o investimento, a entidade chegou aos 225 leitos. Mas as obras não param por aí. O bairro da Mooca ganhará uma unidade na avenida Paes de Barros com foco em três especialidades: cardiologia, dermatologia e pediatria com investimento avaliado em R$ 2 milhões.,13,Há também o projeto na avenida Sapopemba, outro bairro da zona leste paulistana, de um hospital voltado à saúde da mulher. Ventura brinca dizendo que a inspiração não vem da família – o executivo é casado e pai de três filhas – mas o empreendimento terá o foco no diagnóstico e tratamento de doenças femininas, internação, centro cirúrgico e também dois andares de pediatria. Serão 14 andares e, inicialmente, o investimento está avaliado em R$ 50 milhões. O dia em que converso com Ventura coincide com a data da ida a um banco de varejo para a apresentação do plano. O executivo também recorrerá ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) para financiar novos projetos.,13,SAIBA MAIS,13,? O Grupo São Cristóvão Saúde é composto por Plano de Saúde, Hospital e Maternidade e o Hotel Recanto Campos do Jordão,13,Na década de 50, a associação permite a entrada de pessoas não vinculadas às famílias dos choferes

? De 41 mil vidas para as atuais 76 mil houve uma oxigenação da carteira, nos últimos quatro anos, com produtos novos: empresariais e coletivos por adesão.

? Antes o plano era apenas para pessoa física

? R$ 200 milhões de faturamento em 2011

? Parceria com quatro empresas de homecare

? Parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o MBA em Gestão em Saúde, para a formação de lideranças na entidade. Ventura também é um dos alunos

? Parceria com Hospital Albert Einstein para cursos na área de enfermagem,13,7 CERTIFICAÇÕES, DE 2007 ATÉ AGORA,13,Selo de Conformidade do CQH
ONA 2
Selo Ouro SINASC ? Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos
Selo Verde do Instituto Chico Mendes de Meio Ambiente
Prêmio COREN
Latin American Quality Awards 2011
Certificação ISO 9001:2008, para o Plano de Saúde.