Prezados leitores, fico, por vezes, me sentindo muito preocupado diante da possibilidade ou necessidade de estar deitado em uma cama de um hospital. Cada um de nós pode ser um paciente no minuto ou na hora seguinte, sem que haja aviso prévio de qualquer natureza, como nas ocorrências de emergência ou urgência as quais estamos sujeitos no dia a dia.

Como profissional que atuo há 16 anos na área de avaliação de serviços de saúde e implantação de projetos de melhoria da qualidade e segurança, tenho razoes, de fato, para me preocupar. Os achados e resultados têm apontado evidencias alarmantes nas avaliações conduzidas em determinadas instituições de saúde. Não atendimento a leis e regulamentos aplicáveis, estruturas e instalações físicas degradadas ou inadequadas, equipamentos médicos obsoletos e sem manutenção, profissionais desqualificados ou sem capacitação apropriada, ausência ou deficiência de processos de gerenciamento de risco, entre outros, são exemplos das condições identificadas.

Gostaria, no entanto, de destacar e trazer para discussão uma questão que considero grave, qual seja, a atitude ou atuação dos profissionais na execução de suas tarefas. A ocorrência de situações ou condições inseguras na prestação do cuidado parece não incomodar ou não chamar a atenção dos profissionais para potenciais perigos ou riscos. A falta de comprometimento, de consideração ou de simples preocupação tem sido mais frequente do que se poderia imaginar.

O que está acontecendo? Quando buscamos a formação como profissional de saúde, temos, primeiro, que cumprir um juramento feito no momento da obtenção do diploma de graduação. Depois disso, temos que entender e assumir que nossas atividades profissionais lidam com indivíduos, seres humanos, diferentemente de outras áreas de serviços. Não podemos, portanto, relegar ou desconsiderar as relações e necessidades humanas que fazem parte do contexto de atenção que devemos ter com a missão de recuperar ou minimizar os efeitos ou condições de saúde ou da doença que acomete aquele individuo.

O que tenho visto ou encontrado, em diversas situações e distintas instituições, são atitudes ou práticas onde os profissionais não se importam com a gravidade ou com a falta de qualidade e segurança na prestação do cuidado, mesmo quando a condição ou situação pode ser resolvida diretamente por sua vontade ou decisão. Há de se ressaltar que, em algumas situações, a condição inadequada tem haver com questões impostas pela falta de recursos ou de capacidade da própria instituição, mas o que tenho observado é que, em muitas outras ocasiões, a questão está, de fato, diretamente relacionada com a falta de atitude do profissional. Soma-se a isso, o fato das lideranças que deveriam ter o papel de cuidar ou de supervisionar a qualidade do trabalho de sua equipe, mas também se contaminam pela inercia ou pela postura passiva de não agir sobre o problema ou de não criar conflitos com seus liderados.

Um tema que vem ganhando importante espaço na discussão sobre a melhoria da qualidade e segurança em saúde é a definição e o desenvolvimento de uma cultura de segurança institucional. Outras áreas como indústria e aviação já tem colhido resultados muito significativos com a implantação desta cultura. Segundo a Agência para a Pesquisa e Qualidade na Assistência à Saúde (Agency for Healthcare Research & Quality (AHRQ, 2012) dos Estados Unidos, as organizações de alta confiabilidade mantem um comprometimento com a segurança em todos os níveis, dos profissionais de ponta até as lideranças e os executivos.

A cultura de segurança deve ser uma estratégia definida pela direção, mas repassada a cada profissional, através de suas lideranças, em caráter individual. A criação de uma consciência voltada para uma preocupação constante e, frente a isso, de uma atitude segura, deve ser a meta perseguida.

Portanto, caros leitores, temos um papel importante a desempenhar neste desafio de cuidar de forma segura de nossos pacientes e, em especial, para aqueles que hoje têm o papel de liderar instituições ou de liderar equipes.

Já se imaginou deitado, de forma segura, em uma cama hospitalar?