O
evento ocorreu junto ao Safety, organizado anualmente na cidade maravilhosa,
desde 2008, por Alfredo Guarischi. Antes de destacar alguns pontos de interesse
geral, não posso deixar de agradecer publicamente o próprio Guarischi pela
parceria, bem como a presença de lideranças históricas do movimento de Medicina
Hospitalar, como Rafaela Komorowski Dal Molin, do Hospital Mãe de Deus, de
Porto Alegre; Breno Figueiredo Gomes, agora do Hospital Mater Dei, de Belo
Horizonte; Alze Pereira dos Santos, do Paulistano; e até mesmo Clovis T.
Bevilacqua Filho, já não diretamente envolvido com MH, mas co-responsável
comigo e Valdir Ruzicki pelo primeiro site sobre hospitalistas do Brasil, de
2004.
O
Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas e o Safety2014 tiveram juntos
cerca de 800 participantes (aguardo dados definitivos de Alfredo Guarischi),
tendo a parceria sido provavelmente o principal fator responsável pelo
expressivo números de médicos em evento primordialmente de segurança do
paciente, batendo de longe números obtidos em outros Safetys.
Coube a
Gibran Avelino Frandoloso, de Curitiba, na imagem, apresentar o hospitalista e
o trabalho desenvolvido por nosso grupo. Lançou nossa próxima iniciativa, o I
Encontro Paranaense de Médicos Hospitalistas, a ocorrer logo mais em outubro.
Dito
isto, quero destacar dois palestrantes, um nacional e outro internacional, e
algumas questões técnicas ou operacionais:
O
engenheiro de produção carioca Felipe Espindola Treistman trouxe a seguinte
provocação aos participantes: Podemos aprender algo com os hospitais
indianos?. Tendo realizado uma missão técnica na Índia, apresentou informações
e dados muito interessantes:
– O
grupo Aravind realiza sozinho, em um ano, mais do que a metade de todas as
cirurgias oftalmológicas realizadas no sistema inglês. À um custo muito, mas
muito menor, do que no NHS.
– Nada
disto seria importante se houvesse mais eventos adversos. No entanto, os
resultados lá são melhores também neste quesito.
Quais
foram algumas características observadas por Felipe dos hospitais indianos de
referência visitados?
–
Possuem processos altamente padronizados;
–
Todos os profissionais (inclusive médicos) atuam em dedicação exclusiva;
– O
trabalho do médico é focado nas tarefas mais complexas e que agregam valor, em
paralelo ao aumento da participação de enfermeiros, técnicos e outros
profissionais;
–
Há flexibilidade de alocação dos médicos (em nome da eficiência, em um paralelo
com um serviço de emergência brasileiro, não houvesse pacientes no setor de
graves, o médico ali posicionado passaria a atender consultinhas, colaborando
para o encurtamento da fila e otimização dos tempos);
–
Distribuição inicial dos profissionais baseada em previsão confiável da demanda
e, portanto, variável;
–
Executam intensa análise de indicadores de produtividade e qualidade;
–
Reuniões periódicas de análise de indicadores são feitas com presença de
gestores, médicos e demais profissionais;
–
Auditorias internas diárias para avaliar a qualidade de preenchimento dos
prontuários.
O
outro é o hospitalista John Bulger, fundador do Programa de Medicina Hospitalar
do Geisinger Medical Center, Chief Quality Officer for the Geisinger Health
System e membro da Agency for Healthcare Research and Quality e do National
Quality Forum, EUA.
Apresentou
o ProvenCare®, iniciativa de sua
organização, altamente relevante, e provavelmente replicável em nosso meio.
Trata-se
de um programa para entrega a todos os pacientes e a todo momento, em situações
específicas, de cuidados baseados nas melhores evidências. O primeira testada
por eles foi cirurgia cardíaca, onde reduziram expressivamente tempo de
internação, readmissões, mortalidade e custos. Veja parte da apresentação aqui.
ProvenCare®
inclui módulos com os seguintes componentes:
–
Definição clara do que constitui cuidado apropriado na situação especifíca;
–
Desenvolvimento de consenso local sobre quais práticas devem SEMPRE ser
entregues;
–
Aprimoramento do fluxo de trabalho, incluindo melhorias de prontuário
eletrônico para facilitar os profissionais na identificação e na tomada de
decisão;
–
Ativação de pacientes e familiares;
–
Monitoramento e feedback das performances de grupos e indivíduos;
–
Empacotamento como modelo de remuneração (opcional).
Tal
como Felipe com a experiência indiana, Bulger destacou fortemente o papel da
padronização para os resultados obtidos.
Já
em sua outra palestra, o hospitalista, autor principal das recomendações da
Society of Hospital Medicina para a Choosing
Wisely®, destacou fontes de desperdício de recursos na Medicina
Hospitalar e uma lista de coisas que NÃO devem ser feitas, em benefício do
sistema e, principalmente, dos pacientes: veja mais aqui.