Mais que o prontuário eletrônico, um hospital onde médicos e corpo de enfermeiros acessam os dados do paciente além da beira do leito. Com isso em mente, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HPCA) viu a possibilidade de implantar o aplicativo móvel para dispositivos Android e iOS por já possuir uma cultura de mobilidade, algo que já tinha dado sinais no passado, em meados 2006-2007, quando alguns médicos chegaram a usar PDAs (sigla em inglês para assistentes digitais pessoais). A instituição foi uma das primeiras, no Brasil, a implantar rede sem fio interna.
?Àquela época, tínhamos o problema de rede. O Wi-Fi tinha sombra, caía a conexão… E a aquisição dos PDAs elevaria muito o custo do projeto?, explica Maria Luiza Malvezzi, CIO do HPCA. O cenário começou a se reverter no ano passado. Os próprios funcionários já usavam seus dispositivos móveis no trabalho e havia alta receptividade.
Os obstáculos, porém, não foram tão simples. Toda a estrutura de TI do HPCA estava mobilizada para a disseminação do sistema de gestão a outros hospitais públicos, com base no sistema feito internamente e usado na instituição da capital gaúcha, chamado AGHU (sigla para Aplicativo de Gestão para os Hospitais Universitários). Além disso, ninguém da equipe possuía capacidade para desenvolver uma aplicação móvel para os sistemas operacionais do Google e da Apple, e uma chamada pública com edital tomaria muito tempo para colocar a ideia em prática.
?Pensamos: vamos buscar um fornecedor que nos capacite em vez de um edital. Em vez de oferecer um certificado de aula para alguém, o produto do treinamento vai ser a solução. Ou seja, investi em um curso cujo projeto final era o aplicativo?, esclareceu Maria Luiza. O fornecedor escolhido foi a DD Server, de Porto Alegre, e a estratégia possibilitou o desenvolvimento extremamente rápido (aproximadamente três meses).
Em paralelo, foi negociada a publicação nas lojas de aplicativos do iOS e do Android. Para disseminar o uso do software, foram escolhidos médicos formadores de opinião que, após ensinados, passaram o conhecimento ? e o hábito ? para as demais equipes. Quiosques dentro do hospital, em lugares estratégicos, e um trabalho apoiado pela assessoria de comunicação da instituição também deram conta de perpetuar o uso da aplicação.
Resultados
?Algumas enfermeiras não tinham smartphones e compraram seu primeiro aparelho para poder usar o aplicativo?, comemora a CIO. Pelo software, os sinais vitais são registrados, bem como a administração de medicamentos, após a leitura da pulseira de cada paciente. E não se trata de um projeto pequeno. Todos os dados do hospital passam pelo PEP Móvel, somando no ano 2,9 milhões de exames, disponíveis a mil profissionais, de médicos a enfermeiros.
Os médicos também viram seu trabalho facilitado. ?Presenciei médicos falando que o PEP móvel trouxe para eles de volta o prontuário de papel, na mão. Isso porque mesmo com os dados digitalizados com o prontuário eletrônico, nos rounds [reuniões] sobre pacientes, eles precisavam se reunir em torno de um computador para discutir um caso e seguir um tratamento. A mobilidade aproximou dados de todos eles, nos rounds, nos corredores, em qualquer lugar?, conta Maria Luiza. O projeto rendeu ao hospital o primeiro lugar na categoria Saúde do prêmio As 100+ Inovadoras no Uso de TI.**
A executiva acredita que é possível replicar o modelo de inovação para outros hospitais, mas para isso é imprescindível um sistema de gestão hospitalar sólido e o banco de dados digitalizados. ?É possível, e estamos trabalhando para levar o AGHU a outras instituições públicas. Essa é a base digital?, conclui.
* Gabriela Stripoli é editora-adjunta de TI Corporativa na IT Mídia.
** O case faz parte do estudo 100+Inovadoras, realizado pela área de TI Corporativa da IT Mídia