Hospitais universitários estão restringindo o acesso de propagandistas de laboratórios nas áreas assistenciais (ambulatórios e unidades de internação) e proibindo que médicos aceitem amostras grátis de remédios. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, vinculado à UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a regra passou a valer anteontem. Em outros hospitais, como o HC de São Paulo, as restrições vigoram desde 2011. Além de tentar frear conflitos de interesses entre os profissionais da saúde e os da indústria farmacêutica, as medidas visam à segurança do paciente, segundo as instituições. São recomendadas, inclusive, por certificadoras internacionais, como a Joint Commission.

Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Bioética, Reinaldo Ayer de Oliveira, hospitais-escolas são referências de assistência. E ressalta que essas normas são bem-vindas. E lembra que, no passado, até propaganda da indústria em aventais (dos médicos) era permitida.

De acordo com o coordenador de ética em pesquisa do HC, Luiz Garcez Leme, o hospital procura caminhar em uma direção saudável com a indústria. De acordo com ele, as informações sobre novos medicamentos e novas tecnologias são importantes para a atualização médica, mas precisamos ficar atentos com propagandas maliciosas e informações enviesadas.

 No HC de São Paulo, os propagandistas têm acesso aos médicos em locais e datas pré-determinados. No HC de Porto Alegre, o médico pode agendar a visita, desde que longe dos pacientes e de seus acompanhantes. Segundo a assessora de operações assistenciais do hospital gaúcho, Helena Barreto dos Santos, as amostras grátis foram banidas por uma questão de segurança. Segundo ela, já foram encontrados medicamentos vencidos no armário de alguns ambulatórios.

E a farmácia do hospital nem sabia da existência deles Estudos apontam que as amostras grátis também não beneficiam o paciente. Ou porque ele não consegue comprá-las depois (muitas drogas novas não são distribuídas no SUS) ou porque o tratamento recebido não é, necessariamente, melhor do que aquele que não dispõe de amostras grátis.

Escolas médicas

A discussão sobre conflitos de interesses também tem crescido nas faculdades de medicina, segundo Jadete Barbosa Lampert, da Abem (Associação Brasileira de Escolas Médicas). E ressalta que há uma preocupação com isso, pois o assédio da indústria começa desde muito cedo. E completa ao dizer que é comum os laboratórios distribuírem brindes aos estudantes e financiarem eventos esportivos, por exemplo. Mas ainda não há regras claras que restrinjam esse contato. Ela afirma que a Abem não aceita publicidade de laboratórios ou da indústria de equipamentos hospitalares na revista que edita sobre educação médica.