O Saúde Business trouxe a cobertura completa do Healthcare Innovation Show 2024 e ainda assumiu um papel diferente este ano. A curadora de conteúdo – essa que vos fala – foi convidada para moderar o painel de debates sobre a conscientização de pacientes quanto aos custos e desperdícios do setor.  

O tema central, “Paciente consciente, setor mais sustentável: A cultura do cheque em branco precisa mudar”, refletiu a urgência de repensar o modelo atual, que se mostra insustentável há anos. 

Com a participação de Francis Albert Fujiii, co-fundador da Clínica Hilak, Marcos Novais, diretor executivo da Abramge – Associação Brasileira de Planos de Saúde, e Vitor Asseituno, presidente e co-fundador da Sami, o debate abordou a transformação da gestão da saúde, destacando a importância de um sistema mais sustentável e com responsabilidade de custos compartilhada entre pacientes, médicos e operadoras. 

Como conscientizar o paciente? 

“Para que alguém se conscientize, é essencial entender o que é um plano de saúde”, explica Novais. O diretor observa que muitas pessoas não têm essa compreensão e buscam segurança e acesso à saúde, mas não percebem que estão custeando esse modelo. Ele faz uma analogia com uma conta bancária. “Se subtraírem qualquer valor da sua conta, você notará e buscará entender o que aconteceu, porque o recurso é seu”, pontua. 

Para Novais, essa falta de percepção sobre o valor do plano de saúde dificulta a educação dos beneficiários sobre o uso adequado. Beneficiários frequentemente pensam que pagaram por um conjunto de serviços durante muito tempo e, por isso, querem acesso, sem avaliar se o procedimento é realmente necessário.  

O diretor também aponta a inconsistência nos tratamentos e exemplifica. “É tão complicado que temos dois pacientes com o mesmo câncer recebendo tratamentos diferentes”, enfatizando a necessidade de diretrizes claras e protocolos no setor. 

Reembolso é solução viável? 

Asseituno explica que “a Sami é uma operadora que não tem reembolso e talvez nunca tenha”. Para o médico e executivo, “o reembolso é um cheque em branco”, que permite o beneficiário se consultar com um médico desconhecido e seguir uma conduta que não pode ser monitorada (pela operadora).  

Asseituno enfatiza que “não é viável conceder um cheque em branco a um médico que eu (operadora) não conheço”, pois isso comprometeria a responsabilidade da operadora em assegurar um atendimento de qualidade. 

Na prática 

Asseituno trouxe à tona um exemplo prático e revelador: a redução de custos em procedimentos ambulatoriais, como a inserção de DIU. A partir da análise de dados e de evidências científicas, foi possível migrar o procedimento do hospital para o ambiente ambulatorial, o que reduziu em 90% os custos operacionais e ofereceu menor risco ao paciente. A experiência demonstrou que a análise inteligente dos dados possibilita um atendimento mais eficiente, econômico e seguro. 

Apenas a tecnologia não resolve 

Os palestrantes também discutiram a crescente expectativa em torno da inteligência artificial (IA) e da interoperabilidade de dados na saúde. Embora essas tecnologias sejam amplamente vistas como soluções revolucionárias, Fujiii ressaltou que o verdadeiro avanço virá da análise contínua de dados e da implementação de práticas clínicas baseadas em evidências. Para ele, antes de depender exclusivamente de IA, o setor precisa dominar o básico: observar padrões e otimizar processos. 

Além disso, Novais destacou a importância de soft skills na relação médico-paciente. Apesar do potencial tecnológico, o fator humano continua indispensável na construção de uma medicina mais humanizada e eficiente.  

Todos concordaram com uma máxima: a busca por uma saúde mais sustentável exige insatisfação com o atual status quo, coragem para inovar e persistência para implementar melhorias contínuas.