As pessoas devem medir a pressão arterial pelo menos uma vez ao ano, para descobrir se há ou não um diagnóstico de hipertensão. Isso porque a doença não tem qualquer sintoma, e se o mal não for detectado logo, o indivíduo desenvolverá no futuro uma serie de complicações cardio-cérebro- vasculares, tais como AVC, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, ou doenças renais. O alerta é do Dr. Rui Povoa, cardiologista e chefe do setor de cardiopatia hipertensiva da UNIFESP, que participou recentemente do XXXV Congresso da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), com palestra no estande da Torrent. No local, alguns dos maiores especialistas em hipertensão, diabetes e dislipidemia falaram a 620 médicos presentes sobre novos conceitos e atualizações científicas sobre as patologias. As aulas, oferecidas gratuitamente aos inscritos, foram realizadas no Transamérica Expo Center, em São Paulo, em março.
Um dos assuntos mais abordados foram as novidades em tratamentos da hipertensão arterial, e como em 26 de abril será comemorado o Dia Nacional do Combate à Hipertensão, mais uma razão para conscientizar a população sobre os riscos da hipertensão e a necessidade de atenção ao problema. Dr. Póvoa lembra que ao medir a pressão a pessoa deve estar sentada, tranquila, não ter tomado café, não ter fumado e não estar com a bexiga cheia. “Medidas feitas em parques e shoppings não são ideais, mas têm valor, porque se o resultado for elevado o indivíduo procurará o médico ou lugar correto para cuidar do problema”. Os valores de hipertensão são iguais ou superiores a 140/90 mmHg (14 refere-se à pressão arterial sistólica e 9 à pressão arterial diastólica). A idade é importante, não no sentido do diagnóstico, mas porque a hipertensão arterial fica mais prevalente à medida que as pessoas vão envelhecendo. “A prevalência no Brasil é por volta de 34, 35% mas se falarmos em indivíduos acima de 60 anos, 50% é hipertenso”, afirma o médico.
A pressão central, que também esteve no âmbito da discussão no evento da Torrent, é a pressão arterial medida na raiz da artéria aorta, próximo do coração. Segundo o médico, estudos atuais mostraram que a pressão central é um fator de risco cardiovascular independente da hipertensão arterial, e é importante reduzi-la, o que exige medicamentos específicos. No congresso, foi debatida a terceira geração dos betabloqueadores, representada pelo nebivolol. Os primeiros betabloqueadores, da década de 60, o propranolol e o atenolol, têm muitos efeitos adversos, principalmente distúrbios metabólicos e da esfera sexual. Já o nebivolol possui poucos efeitos adversos e tem uma cardioseletividade muito boa, podendo ser utilizado inclusive em pacientes com doença pulmonar crônica. “Alguns estudos apontam que os fármacos que reduziam mais a pressão central eram também aqueles que reduziam mais a mortalidade. E o nebivolol é um fármaco que reduz significantemente a pressão central, além da pressão periférica, medida no braço”, diz o Dr Póvoa.
Também presente ao congresso, o Dr. Marco Mota, cardiologista do Centro de Pesquisas Clínicas do HCOR de Alagoas, concorda que a medição da pressão central nos pacientes hipertensos é essencial. “Podemos dizer que a medida da pressão periférica, geralmente na artéria do braço, é um acidente de percurso. Quando os conceitos de pressão central começaram a ser pensados, não havia tecnologia para avaliar a pressão em território central. Agora começamos a entender que a pressão medida na raiz da aorta pode nos informar melhor sobre os agravos cardiovasculares”.
Segundo ele, em breve todo paciente examinado nos consultórios particulares terão a pressão periférica e central medidas com equipamentos oscilométricos confiáveis. Em todo o mundo a tecnologia de medida da pressão central começa a sair dos ambientes de pesquisa para dentro dos consultórios. “No Brasil já temos colegas realizando esse tipo de medida em vários cidades do estado de São Paulo, bem como no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Caxias do Sul, Recife, Aracaju e Maceió.
Com relação às ações preventivas por parte da população, os especialistas lembram que alguns fatores de risco podem tornar um indivíduo hipertenso. No caso da carga genética, não se pode mudar, mas os fatores ambientais sim. Há uma forte relação da ingestão de sal, por exemplo, com a hipertensão, então uma dieta pobre em sal é importante. Fazer exercícios físicos, emagrecer, beber moderadamente são ações benéficas ao organismo.