Em torno de oito mil mortes no Brasil são decorrentes de erros de medicação. É o que aponta um estudo realizado pelo Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (ISMP Brasil). Segundo a pesquisa, apesar de o número ser inferior ao dos Estados Unidos, que chegam a 98 mil óbitos por ano e do Canadá, 70 mil, as falhas na administração de medicamentos devem ser um ponto de atenção nos hospitais. Um levantamento da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo aponta que 77,3% dos erros na terapia medicamentosa são relativos ao horário de administração dos fármacos, 14,4% à dosagem, 6,1% à troca na via de administração e 0,5% à confusão de paciente.
Para auxiliar nessa questão, dando mais qualidade ao atendimento e segurança aos pacientes, muitos hospitais já fazem uso da checagem beira leito, tecnologia móvel que garante a administração correta de medicamentos, já que em seu registro há todas as informações e prescrições do paciente.
Veja, a seguir, como a checagem beira leito funciona, o que exige do corpo clínico e de que maneira ajuda a salvar vidas:
- Registro das informações
O primeiro passo é fazer a reconciliação medicamentosa, ou seja, obter uma lista completa e precisa dos medicamentos de uso habitual do paciente ou que já foram prescritos em passagens por outros hospitais. O registro é feito pelos auxiliares de enfermagem por meio do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), que é ligado ao sistema da checagem. Depois disso, o médico deve realizar uma comparação com a futura prescrição. Isso é importante para evitar erros causados por imprecisão de informações e combinação incorreta de medicamentos. Após analisar os remédios, o médico deve prescrever novos tratamentos, de acordo com as necessidades atuais – tudo devidamente registrado.
- Administração dos medicamentos
Com tudo registrado, o enfermeiro sabe exatamente o que deve fazer, já que qualquer droga solicitada pelo médico será identificada pelo painel de checagem. Isso evita duplicidade ou troca de medicação e possíveis interações medicamentosas. Para a garantia da administração correta, o profissional deve seguir alguns passos. O primeiro é a checagem de que horas o fármaco deve ser administrado. Feito isso, o enfermeiro deve enviar a solicitação à farmácia clínica, que confirma no sistema se a opção está mesmo correta, evitando problemas caso algo tenha passado despercebido pelo médico, como alguma alergia do paciente ao medicamento ou dieta que o restrinja. Em seguida, deve ir à farmácia do andar, que vai separar o medicamento e mandar de volta para a enfermagem. Por fim, o enfermagem verifica novamente o horário certo e se prepara para administrá-lo ao lado do leito.
“Se esses passos forem ancorados pela tecnologia, a enfermagem tem a informação exata da medicação do paciente certo, na hora certa. É registrado no sistema, também, nome do profissional que está realizando o procedimento, o que facilita as identificações a segurança” explica Heitor Gottberg, sócio da Folks, consultoria de TI em saúde.
- Liberação e registro
Em seguida, por meio do dispositivo móvel, a enfermagem bipa a pulseira do paciente, o crachá do profissional e o código de barras do medicamento. O sistema confirma se o remédio está previsto para aquele horário, liberando ou não o uso. “Depois disso, é preciso registrar o que realmente foi dado, confirmando se todos os medicamentos que estavam previstos foram corretamente administrados” completa Gottberg.
Mas, tão importante quanto a adesão da checagem beira leito, é o treinamento da equipe que vai utilizá-la. O primeiro passo é investir em ações de conscientização sobre sua importância e como isso vai mudar processos e rotina de trabalho. As pessoas têm de acreditar que a alteração é boa – tanto para os pacientes, quanto para o próprio trabalho. Feito isso, entram os treinamentos, que devem mostrar como a solução funciona na prática. “Para preparar a equipe, é essencial ter um sistema de gestão hospitalar eficiente, com bastante usabilidade e que simplifique a vida do médico e do enfermeiro, incluindo uma conectividade sem falhas e uma rede wi-fi funcionando bem” conclui Gottberg.
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