Francisco Balestrin, presidente do Conselho da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), concedeu entrevista a revista FH sobre a estratégia para conquistar novos associados e afiliados. A seguir você confere um trecho da entrevista, que poderá ser acompanhada na íntegra na edição de fevereiro.
FH: Uma das ações da Anahp nesses últimos anos foi estruturar um programa de Governança Corporativa dentro da entidade. Como ele auxilia os hospitais ? instituições tradicionalmente familiares e ligadas à filantropia- nesta prática?
Balestrin: Esse programa é baseado em quatro pilares: transparência, equidade, accountabilitye responsabilidade social. A primeira coisa que fizemos foi mudar nosso modelo de gestão, de uma estrutura composta por um presidente e vários vices, onde todos atuavampara uma estrutura de conselho, onde sou presidente. A gente cuida exclusivamente da estratégia, do desenvolvimento dos talentos, da representatividade institucional, do financiamento, da subsistência econômico-financeira e dos riscos no qual o nosso ambiente hospitalar, principalmente o suplementar, corre.
Quando decidimos fazer essa mudança dentro da instituição chamamos os nossos associados para que pudessem participar do processo. Primeiramente, dividimos a Anahp por regiões, sendo que cada uma tem um representante do conselho, destaco que o Sudeste foi dividido em três por conta do número de associados. Logo após, fizemos um trabalho com InternationalFinance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, que foi responsável por elaborar uma série de seminários que gerasse conteúdo de governança corporativa paraos associados. A ideia foi incentivar que todos eles criassem conselhos, estabelecem a governança corporativa fundamentado no processo de acreditação. Hoje 100% dos hospitais da Anahp também possuem modelo de governança corporativa por conta desse movimento que fizemos.
FH: Alguma outra ação?
Balestrin: Junto com a governança corporativa existe a governança clínica e elas necessariamente tem de caminhar junto. Nós somos instituições duais. Afinal das contas, o nosso objeto de trabalho são pessoas, é tentar restabelecer a saúde das pessoas. Por isso, não podemos trabalhar em instituições de saúde com um único modelo de governança. Assim,além da corporativa que é aquela que cuida do hospital no seu aspecto organizacional e empresarial, temos também uma linha vertical de assistência, e essa é dominada pela chamada governança clínica, que estabelece os padrões de relacionamento dentro da instituição com os pacientes. O time de assistência não é apenas o médico ? esse é o centroavante, mas se não tiver os outros dez em campo, como ele vai fazer gol? Deveria existir também no futebol essa estrutura: a governança corporativa e a futebolística. Na confluência dessas duas coisas, é assim hoje que estamos incentivando os hospitais a funcionarem. Estamos fazendo um trabalho onde pretendemos mudar a faceta dos hospitais brasileiros, queremos colaborar com a mudança desses hospitais dentro desse processo.
FH: Uma das propostas da Anahp deve focar mais nos hospitais do Norte e Nordeste? Pois hoje eles são pouco representativos dentro da associação.
Balestrin: Nós estamos representados em todas as regiões brasileiras. Até bem pouco tempo não tínhamos o Norte, mas agora temos um hospital de Belém. O grande movimento hospitalar de desenvolvimento das acreditações tende a acontecer no Norte e Nordeste. Por isso, miramos muito nas instituições destas regiões como forma de incentivá-las a participar do contexto geral de tudo aquilo que está acontecendo no nosso País. Aliás, já temos oito candidatos. O projeto foi lançado no começo de janeiro e esses oito pretendentes são da região Norte e Nordeste não só para afiliados, mas também para associados. São instituições que já estavam trabalhando para entrar na Anahp.
FH: O fator humano nas organizações hoje é um diferencial. É necessário ter uma gestão que se preocupe com este processo humanizador. Acredita que especificamente na área hospitalar, é necessário um choque de humanização? Qual o melhor caminho para isto ocorrer?
Balestrin: O fator humano é preponderante em qualquer setor de serviço. E não é duvida que na saúde isso seja mais evidente porque nele, muitas vezes, se tem um ente querido ou a própria pessoa num estresse muito grande de questão de vida ou morte. São aspectos realmente importantes que as empresas devem tratar de forma perene e aprofundada.
O primeiro passo é o treinamento, que é o mais simples e muitas vezes é o que menos se faz. Ao trabalharem numa instituição de saúde, as pessoas precisam ser treinadas para conhecer protocolos, além de ter habilitação para atuar na área e também capacidade de reciclagens na sua atividade técnica. Isso teoricamente se espera que as instituições façam, mas não fazem.
Outro ponto é o da anamnese, de envolvimento institucional, que é o termo humanização. Acho uma loucura usar esse termo já que somos todos seres humanos, não podemos usá-lo para definir um processo de atendimento. Acho um nome ruim. Será que hoje as pessoas tratam umas as outras com animalização?
Bom, esse aspecto vem de berço. Não adianta pegar uma pessoa sem características e sem formação individual em família para trabalhar na prestação de serviço. Tem um ditado que diz o seguinte: o que o berço traz, só a cova tira. É preciso ter pessoas formadas, com vocação específica. Então, se você for trabalhar numa instituição que não enxerga o RH como um alvo institucional importante par atingir sua missão, esqueça.
FH: Como você resume a sua jornada neste primeiro ano de presidente do conselho Anahp? Quais são os seus principais planos?
Balestrin: Foi uma gestão de continuidade em relação a tudo que fizemos nos últimos 10 anos e, ao mesmo tempo, de evolução. Dar continuidade sem evoluir significa atuar negativamente. Temos pelo menos 15 marcos estratégicos para cumprir dentro destes três anos. O principal é a atratividade, onde o foco é trazer cada vez mais pessoas dos nossos hospitais para um ambiente de relacionamento. O segundo grande ponto é a apresentação para a sociedade, já que, muitas vezes, tudo que fazíamos refletia apenas para os hospitais da Anahp,queremos que nossas ações ultrapassem os limites da associação e que possamos contribuir com todos os hospitais brasileiros. Em terceiro, a percepção de que podemos ocupar um espaço estratégico de apoio à sociedade brasileira no sentido de encontrar uma saúde melhor. Temos vários projetos, não só meus, mas sim dos meus patrões, e eu tenho 46 patrões, que são todos os associados da Anahp.