Dez entre dez empresas de saúde certamente elegem a glosa da conta hospitalar como a terceira coisa mais absurda do segmento ? a primeira é o sistema de remuneração do setor, a segunda os contratos e as glosas a terceira.Analisar contas, gerar glosas e ?recursar? glosas não é o tipo de herança que deixaremos para os nossos filhos e netos com orgulho !Mas existe um lado bom na questão das glosas … pode parecer estranho dizer, mas é verdade.Os hospitais de gestão mais desenvolvida recebem as glosas devidas como consultorias gratuitas dos seus processos: quem é do ramo sabe que a chance de 100 % de contas as contas hospitalares estarem 100 % corretas é de 0 %.A glosa devida é a única pista que temos no hospital para identificar onde estão os furos de processos internos.No lado do hospital, pela experiência de décadas de trabalho, afirmamos com certeza que quando descobrimos um erro nos processos de formação e faturamento das contas, a chance da glosa representar muito menos do que se perde por falta de apontamento é de 100 % !!!?Vamos combinar? que não estamos falando sobre a ?indústria da glosa?, que é danosa e praticada por algumas operadoras como instrumento de controle de fluxo de caixa ? vamos deixar isso de lado, ok ?Falando sobre as glosas reais, devemos olhar para elas muita atenção ? sempre:

  • % de glosa alto: ruim – vamos trabalhar para baixar;
  • % de glosa similar ao praticado no mercado em que o hospital atua: normal ? vamos trabalhar para baixar;
  • % de glosa baixo ou inexistente ? melhor correr atrás porque certamente o hospital está perdendo muito dinheiro por falta de registro adequado dos insumos ? vamos trabalhar muito porque tem muito dinheiro ?escondido debaixo do tapete? !

O mais comum é deixar de cobrar itens porque se supõe que estão dentro de alguma taxa. A confusão que se faz em relação ao que está incluso na taxa ou não é grande, e sempre benéfica à operadora que usa todo tipo de artifício para tentar provar que ?água não é água? e ?vinho não é vinho?.Outra coisa muito comum é a falta de cobrança por formalização inadequada. Muitas pessoas formam uma opinião sobre o que é a formalização adequada sem aferir o contrato, as regulamentações e a prática ? dão ?opinião? sobre assunto eminentemente técnico, onde a opinião não vale nada: o que vale é a evidência. Em situações de glosa baixa em projetos de consultoria já descobrimos diversos itens de conta nunca lançados, e evidentemente as operadoras nunca reclamavam. Esta constatação ainda traz outros 2 problemas:

  • Ter que ajustar um processo de apontamento dentro de um hospital requer paciência e muito envolvimento. Em hospital quando alguém faz uma coisa de determinada forma ?faz tempo? se acha no direito de questionar qualquer tipo de mudança ? é sempre uma grande dificuldade fazer profissionais do segmento da saúde pensar que a conta também é importante, porque sempre tendem a achar que o paciente é mais importante e não existe tempo para outras coisas (e ainda bem que eles pensam assim ? já pensou se fosse diferente ?);
  • Quando finalmente a gente acerta o processo e os itens que não eram cobrados começam a cair na conta vem à operadora questionar, e temos o ?day after?: mostrar que éramos incompetentes, mas o contrato e as práticas de mercado nos dão o direito d fazer isso ? e ?tome? reunião prá lá, memorandos pra cá, ?turma do deixa disso? …

Gestão Comercial em hospital é ficar se equilibrando na frágil corda que divide o excesso e a ausência de glosas.E ter que demonstrar ao nosso principal cliente (o paciente … que no fundo somos nós mesmos: os usuários do sistema de saúde suplementar) os reais limites da sua operadora, que geralmente são um pouco diferentes dos que nos são apresentados quando contratamos o plano de saúde.Em resumo, já que a glosa é inevitável porque a conta hospitalar sempre está errada, o melhor é fazer bom uso dela para corrigir nossos processos internos e, principalmente, desconfiar muito se o índice de glosa estiver baixo: se comemorar dizendo que ?aqui estamos bem, não temos glosa?, está fazendo exatamente o que a operadora quer, o que não é o que podemos chamar de bom negócio para o hospital !