Agora, é possível levar enfermeira no bolso

Por John Tozzi | Bloomberg Businessweek, de Nova York

 Em 2009, os pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) distribuíram smartphones em um alojamento cheio de estudantes e passaram a acompanhar aonde eles iam, a quem chamavam e enviavam mensagens e a que horas se comunicavam. Os pesquisadores descobriram que os dados extraídos dos aparelhos podiam mostrar com confiabilidade quando os estudantes estavam doentes: os que estavam gripados se movimentavam bem menos e os que estavam deprimidos faziam menos ligações e interagiam menos.

Anmol Madan, estudante de doutorado que liderou o estudo, concluiu que as descobertas podem ser usadas fora das residências estudantis. Há mais de 60 milhões de smartphones atualmente nos Estados Unidos e eles são “diários incrivelmente poderosos sobre a vida de uma pessoa”, afirma. Em novembro de 2010, portanto, Madan e sua colega de classe Karan Singh, ambos de 29 anos, criaram a Ginger.io para garimpar esses diários e fornecer o tipo de monitoração detalhada e constante da saúde que médicos e pesquisadores até agora apenas sonhavam poder dispor. “Não havia dados em larga escala do mundo real sobre como as pessoas se comportavam”, diz Madan.

Nos EUA, hospital testa aplicativo da Ginger.io para tentar reduzir tempo de uso de esteroides por diabéticos

Em outubro, a empresa, com sede em Cambridge (Massachusetts) e sete funcionários, levantou US$ 1,7 milhão em capital de risco da True Venture e da Kapor Capital. O dinheiro será usado para desenvolver programas que empresas de assistência médica, laboratórios farmacêuticos e seguradoras de saúde poderão oferecer a seus pacientes.

Como no estudo do MIT, a Ginger.io (o nome é uma referência aos benefícios à saúde associados ao gengibre) baseia-se em um ramo da ciência da computação conhecido como “aprendizagem de máquina” para classificar as dezenas de milhares de informações provenientes dos telefones a cada mês e identificar o padrão de comportamento típico do usuário. Quando alguém se desvia do padrão, a Ginger.io pode acionar um aviso que Singh compara à “luz de controle do motor”, alertando amigos ou médicos sobre a necessidade de intervir.

O Cincinnati Children’s Hospital Medical Center realiza atualmente o primeiro teste com a tecnologia da Ginger.io. Trata-se de um estudo com adolescentes e adultos jovens que sofrem de síndrome do intestino irritável, doença crônica que causa dor estomacal, diarreia e febre ocasionais. Normalmente, é tratada com duas semanas de esteroides, mas o tratamento pode ser prejudicial caso se prolongue por muito tempo. A expectativa é que a Ginger.io possa detectar exatamente quando a crise acaba, determinando, por exemplo, quando a pessoa sai pela primeira vez após vários dias em casa e, com isso, reduzir o tempo em que os pacientes usam esteroides. Alguns pacientes começaram a usar o aplicativo da Ginger.io no outono americano e Michael Seid, pesquisador que lidera o estudo, espera ter 50 pessoas participando neste início de ano. A Ginger.io deverá ser “uma forma fácil de conseguir uma medição contínua e muito mais refinada da condição de saúde”, afirma.

Em novembro, a Ginger.io ganhou um prêmio de US$ 100 mil patrocinado pela Sanofi-Aventis para apresentar maneiras de ajuda no combate à diabetes. Os pacientes de diabetes são mais suscetíveis a ter depressão, o que por sua vez aumenta a chance de que deixem de tomar a medicação. O protótipo de aplicativo da Ginger.io emite um alerta quando o comportamento dos diabéticos começa a indicar sinais de depressão, para que os médicos ou familiares possam ajudar. “As pessoas não informam esse isolamento por si sós”, diz Singh. “Eles não dizem necessariamente: ‘Sim, estou falando com menos pessoas nesta semana’ ou não percebem necessariamente que, na verdade começaram a ficar enclausurados.”

Outros grupos trabalham em monitorações passivas similares das condições de saúde: pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde (NIH, em inglês), agência federal de apoio à pesquisa médica nos Estados Unidos, vêm usando telefones celulares para acompanhar a recuperação de viciados em drogas em Baltimore. A ideia é tentar entender o que desencadeia recaídas. Companhias como a WellAware Systems trabalha com a instalação de sensores de movimento nas casas de idosos para detectar se eles estão com algum problema. O desafio para as empresas iniciantes é que se trata de um “mercado tradicionalmente conservador e regulamentado”, diz Jonathan Collins, analista na empresa de pesquisas no setor de tecnologia ABI Research, em Londres. A Ginger.io também terá de assegurar que seus dados não serão usados de forma inadequada. Madan e Singh dizem que a Ginger.io não lê o conteúdo das conversas ou mensagens de texto e que restringe a informação que vai para organizações como seguradoras, para que elas não possam usar a tecnologia para saber, por exemplo, quantas vezes alguém sai para fumar um cigarro.

A empresa espera que seus algoritmos de monitoração fiquem cada vez melhores, à medida que os telefones e acessórios evoluam e passem a captar mais dados. Uma pista sobre o futuro: alguns fones de ouvido podem detectar a temperatura do corpo. “Há tanta informação nos [telefones celulares] e há tantos novos sensores”, diz Singh, que o potencial para melhorar a saúde das pessoas com dados melhores “só vai continuar crescendo”.

Fonte: Valor Econômico, /01/12

Watch a video with Ginger-io co-founder Karan Singh:

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