Da maneira como o noticiário e o horário eleitoral gratuito versam sobre o sistema público de saúde no Brasil de hoje, parece que temos diante de nós um problema de soluções inatingíveis. Não há como duvidar da dificuldade, mas talvez haja outros caminhos, que não o de prometer hospitais e mais hospitais como fazem nove entre dez candidatos para qualquer cargo eletivo, a serem percorridos no sentido de sanear o sistema.

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E um sistema gigantesco, diga-se. Apenas em internações, o SUS (Sistema Único de Saúde) registrou no ano passado um total de 7,57 milhões – é como se toda a população do Pará fosse internada ao longo de um único ano. Se partirmos da informação, veiculada pelo próprio Ministério da Saúde, de que 80% da população do país depende exclusivamente da rede pública, concluiremos que 153 milhões de brasileiros têm o SUS como único recurso no que tange à saúde. Portanto, a taxa de internação na saúde pública em 2009 foi de 4,9%.

Sistema gigantesco, sim, embora insuficiente. Pelo menos é o que se pode entender ao comparar a taxa de internação do SUS à dos planos privados de saúde, que foi de 13% no mesmo período.

Todo o sistema exige reorganização urgente e erguer novos hospitais não soluciona boa parte das ineficiências já existentes. A reestruturação deve ser global, não pontual. A implementação de um modelo eficiente tem como premissa trazer resultados positivos para todos os envolvidos na assistência à saúde, sustentados indispensavelmente pela valorização das pessoas, pela profissionalização da gestão e pela geração de conhecimento.

Uma nova concepção de gestão não demanda, necessariamente, investimentos milionários. Antes de mais nada, é preciso olhar de forma estratégica para alguns dos principais alicerces que constroem uma boa gestão: pessoas, arquitetura, rotina e cultura. É dessas instâncias que virá a possibilidade de amadurecer a organização, com o aperfeiçoamento gerencial, a diminuição das despesas assistenciais, a desburocratização no fluxo dos processos e a integração das atividades cotidianas. Tudo isso junto leva, de forma inevitável, ao melhor desempenho organizacional.

Uma prova material de que a gestão eficiente viabiliza uma organização madura se encontra em Porto Alegre, cuja Santa Casa de Misericórdia se empenhou de tal maneira na busca da qualidade que mereceu, nesta década, o reconhecimento do Prêmio Nacional da Qualidade. E a premiação não fez com que a Santa Casa ficasse estanque: hoje, anos depois de concedido o prêmio, os índices de satisfação dos clientes são de 81,73% (entre pacientes do sistema de saúde privado) e 83,95% (pacientes do sistema único de saúde).

Dar o primeiro passo rumo à excelência da gestão é extremamente difícil, embora necessário. Uma vez dado, poderemos ter esperanças legítimas, de um sistema saudável, e não mais aquela expectativa forjada por objetivos unicamente eleitorais.

*Antonio Tadeu Pagliuso é consultor organizacional e sócio-diretor da Holus – Gestão Empresarial e Educacional

**As opiniões dos artigos/colunistas aqui publicadas refletem unicamente a posição de seu autor, não caracterizando endosso, recomendação ou favorecimento por parte da IT Mídia ou quaisquer outros envolvidos nesta publicação

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