Se a intenção era promover um debate acalorado e multipartidário sobre a campanha política que se aproxima, pode-se dizer que o painel ?A Eleição e os Desafios da Saúde?, realizado durante a Hospitalar 2014 dentro do Congresso de Gestão em Saúde da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares (FBAH), foi um fracasso. O que não é necessariamente ruim. Explica-se: apesar de a programação prever a participação de representantes de vários partidos, apenas PT e PSDB compareceram. E concordaram em quase tudo.
De um lado, Monica Valente, psicóloga e secretária de relações internacionais do PT. Do outro, Wilson Pollara, médico e secretário-adjunto de saúde do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Nas discussões, concordância em torno de dois pontos quase unânimes quando o assunto é a problemática da Saúde: falta gestão, faltam recursos. ?Todo mundo sabe o que precisa ser feito, independe de partido ou ideologia?, disse Monica, tendo como resposta um balançar concordante da cabeça de Pollara.
?O modelo é que está errado?, ponderou o secretário. ?Falta dinheiro para a saúde? Falta. Mas para este modelo que está aí. Cinquenta e dois por cento dos pacientes de UTI não deveriam estar lá?, calculou, considerando as ?informações diárias? que o gestor estadual recebe. Os mesmos dados apontam que há 17 mil leitos vagos em São Paulo, mas nenhum sistema ou protocolo que permita transferir adequadamente os doentes que precisam destas vagas.
Outro ponto bastante criticado pelo secretário paulista é o modelo ?não hospitalocêntrico, mas ?pronto-socorrocêntrico??, ou, segundo a neologia por ele criada, baseado na transformação de toda unidade de saúde em PS. ?As pessoas estão acostumadas a ir ao pronto socorro por qualquer coisa?, disse, ao salientar que uma parcela considerável dos perfilados que buscam apenas ?um atestado para apresentar no trabalho? atrasam o atendimento de casos mais graves. Ou seja, é também um problema cultural.
Só críticas?
Mas, se há uma série de problemas identificados e a concordância política em torno deles, é também verdade que há pontos positivos no debate a serem salientados. De modo geral, os dois políticos concordaram que a saúde dos brasileiros melhorou nos últimos anos graças ao SUS ? reflexo direto das discussões em torno da Constituição Cidadã de 1988.
Segundo Monica, houve avanço no SUS, ?não sem percalços, não sem problemas, não sem dificuldades, não sem retrocesso em alguns momentos?. Foram destacados avanços significativos na atenção básica, e os recursos federais para a especialidade mais que dobraram desde então, fato seguido por estados e municípios.
?Sou o fã número 1 do SUS?, destacou o médico Pollara, ao dizer que estar na pele do gestor do sistema único exige um exercício constante de lembrar as críticas por ele feitas antes de assumir o cargo. Apesar do elogio, para o secretário, o SUS ainda é muito suscetível aos ânimos dos políticos, cuja ?sobrevivência é muito pautada na opinião pública?, esta facilmente moldada pela cobertura midiática. Além disso, acredita, o excesso de comissões no âmbito do Ministério e das secretarias pulveriza a governança, dificultando a gestão.
Ao menos um ponto positivo: a tabela do SUS, tão defasada, está aos poucos sendo substituídas por programas de atenção em rede, como o Mãe Cegonha e outras. ?Uma coisa muito boa, o hospital vai ser remunerado por aquilo que custa?, disse Pollara, ecoando outro discurso quase unânime durante a Hospitalar 2014.