Para que um tomógrafo, com mais de uma tonelada, pudesse ser instalado no 4º andar de um hospital foi necessário um logística de última hora, com a locação de um guindaste, quebra de janela e a paralisação de uma via movimentada no centro da cidade. O caso ilustra os transtornos quando o transporte e infraestrutura do equipamento não são previstos por um engenheiro clínico que, envolvido no processo desde a compra do equipamento, planeja cada deslocamento, as responsabilidades técnicas e legais, além de atuar como braço tecnológico das instituições.
A norma RDC 2/2010 da Anvisa determina as diretrizes mínimas para gestão clínica, com tratativas para gerenciamento de tecnologias de saúde. Em paralelo, a ABNT lançou em abril a norma 15493 que estabelece os requisitos mínimos para gerenciamento de equipamentos e infraestrutura no hospital.
De acordo com o diretor da Engebil e da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin), Rodolfo More, o profissional dá suporte inclusive de TI, para controle de impactos na rede, diagnóstico e inspeção remota, e até sinaliza falhas de software. ?O engenheiro tem uma visão macro para trazer o equipamento e fazê-lo compatível com a área?.
Além de ser a interface com o centro de controle de infecções do hospital. ?Numa infecção na UTI neonatal, ele orienta o processo de desinfecção do equipamento e área?, comenta o professor do departamento de Engenharia Biomédica na Unicamp, e doutor pelo INPL (França), Sérgio Santos Mühlen.
Necessidades
Douglas Cury, da Grau Engenharia, que atende ao A+ Medicina Diagnóstica, de grupo do Fleury, explica que nas instalações elétricas hospitalares a palavra-chave é redundância. ?Para evitar paradas, a demanda média de energia é de 45 a 55 watts por metro quadrado. O suprimento depende de transformador, geradores reserva, e dois no breaks trabalhando em paralelo?.
Os chats e forros removíveis permitem retrofits. ?É importante a separação das instalações elétrica sensíveis na UTI, centros cirúrgicos e TI das que geram picos de energia e harmônicas como de elevadores e equipamentos de imagem que também precisam de isolamento num raio de 8 metros, no andar de cima ou de baixo, independente da proteção da sala?.
Assim, não se pode ter ar condicionado nem transformadores ou geradores próximos e os dutos devem ser de alumínio. ?A ressonância magnética e o acelerador linear exigem paredes de concreto para evitar a radiação e que perturbações externas comprometam as imagens e colocam-se as máquinas no subsolo para reduzir o peso na estrutura do hospital?, completo o professor Mühlen.
Formação
?A engenharia clínica é um nicho profissional recente, que congrega conhecimentos das áreas de medicina, engenharia e administração, e que se desenvolveu a partir da necessidade estabelecida pelos avanços tecnológicos introduzidos na área de saúde?, explica o docente Mühlen.
E a Engenharia Clínica acadêmica tem muito a contribuir com análises qualificadas e ferramentas específicas para municiar os gestores e diretores dos estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) em relação ao parque tecnológico instalado, de acordo com presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, e ex-diretor do Centro de Engenharia Biomédica e professor da Unicamp, Eduardo Costa.
Ele diz que, em primeiro lugar, a área contribui na formação de recursos humanos qualificados, com mestres, doutores e especialistas, que estudam os problemas da área como a introdução de novas tecnologias e os riscos inerentes ao seu uso, às demandas qualificadas e os métodos mais eficientes para substituição de equipamentos obsoletos. Atua ainda no desenvolvimento de metodologias e ferramentas computacionais para o gerenciamento e a qualificação das demandas de equipamentos médico-hospitalares.
Costa defende a integração do engenheiro clínico com o arquiteto num projeto de edificação é fundamental e não deve existir subordinação entre os profissionais. Contudo, ainda há casos em que o engenheiro clínico não é envolvido nos projetos. ?Mas se o equipamento emite radiações ionizantes, há necessidade de colaboração estreita entre o engenheiro clínico, o arquiteto ou engenheiro civil e o físico médico credenciado pela CNEN?.
Apesar disso, no País, ainda não é prevista a obrigatoriedade do engenheiro clínico, mas já há um movimento de convencimento por sua necessidade através da apresentação de resultados. Tanto que o setor público reconhece a necessidade do profissional. ?Vários alunos de mestrado e de doutorado da Unicamp atuam em órgãos como Ministério da Saúde e Anvisa?, comenta o professor Costa.
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