O setor brasileiro de Life Science e Health Care apresenta perspectivas promissoras para os próximos anos. Esse mercado deve crescer 5,3% ao ano até 2016, percentual bem acima do que a perspectiva de aumento do produto Interno Bruto (PIB). A despesa per capita com produtos farmacêuticos, atualmente, corresponde a um volume quatro vezes maior do que na China. Essas previsões repercutem positivamente no exterior. Um estudo realizado pela Deloitte, neste ano, chamado Health care reform and life sciences: threat, opportunity or both?, com 295 executivos em todo mundo, mostra uma visão global positiva em relação aos negócios da área de saúde no País. O Brasil foi classificado como muito atrativo para a conquista de novos consumidores por 74% dos entrevistados.

Essas perspectivas devem trazer boas oportunidades, mas cobram do setor mudanças significativas. Questões, como inovação, gestão, redução de custos, ampliação do acesso ao mercado e redefinição dos modelos de venda são fatores cruciais para se adaptar a esse novo cenário. Essa urgência foi percebida por 77% dos executivos ouvidos no estudo.

É preciso atentar ainda para a questão da retenção de talentos, desenvolvimento profissional, foco na liderança e gestão de resultados. Quando pensamos num modelo baseado nesses aspectos, a remuneração variável é uma ferramenta importante. A adoção de tal modelo em todos os níveis ? assistencial, administrativo e de apoio – traz ganhos significados no processo de modernização dos sistemas de gestão.

O conceito de patient centricity, cuja premissa é o paciente no centro da entrega de serviços, deve estar presente nos critérios da remuneração variável para todos os empregados do setor, inclusive daqueles que atuam nos bastidores, como área administrativa e financeira. Assim, a evolução do paciente seria considerada no pagamento de bonificações da equipe administrativa de um hospital, por exemplo.

Uma política de remuneração variável atrelada a resultados deve ser definida estrategicamente e adequada às necessidades e características próprias do setor de saúde. Deve-se olhar ainda para exemplos questionáveis como o dos Estados Unidos, que no passado adotaram modelos muito agressivos de remuneração variável que se tornaram combustível para incentivar os agentes de mercado, e, hoje, estão revendo modelos de retenção e adotando políticas de bônus atrelados a ciclos maiores.

Em qualquer política de gestão de talentos é importante considerar quatro pilares no sentido de fomentar resultados concretos, imprimindo mudanças nas equipes e permitindo um ciclo saudável de crescimento do setor: accountability ou responsabilidade, que considera a capacidade de realizar atividades profissionais com dedicação, atenção e envolvimento; meritocracia, conhecida pelo reconhecimento por mérito e crescimento baseado no desenvolvimento de aptidões; remuneração atrelada ao desempenho, que nada mais é do que a remuneração variável, de acordo com o desenvolvimento da função e, no caso específico do setor da saúde, considerando a evolução do paciente; diretrizes para o estabelecimento de carreiras sustentáveis, o que significa promover equilíbrio – mental e ambiental – no cotidiano das empresas.

Voltando ao estudo mundial da Deloitte sobre o setor, um dado importante na inserção do paciente no centro das decisões reside no fato de 41% dos executivos entrevistados encaram como um dos maiores desafios do setor a capacidade de ajustar o modelo comercial das organizações a esse novo mercado . Apontam ainda que remodelar a gestão das organizações torna-se essencial para uma mudança concreta, especialmente no Brasil, onde ainda predomina uma visão mais operacional que estratégica, sobretudo em hospitais. Seja no desenvolvimento de novos produtos, com foco nos cuidados com o paciente, na inovação tecnológica ou na própria ampliação de acesso ao mercado, o modelo de gestão que coloca o paciente no centro das decisões é um caminho sem volta.

Essas mudanças devem ser consideradas em todas as dimensões do setor da saúde, que vão além dos prestadores entre os quais estão incluídos os hospitais e clínicas. A própria indústria farmacêutica, a de equipamentos e materiais médicos e as operadoras de planos de saúde também são levadas a adaptar seus processos de gestão para superar os desafios do mercado que está em formação.

* Enrico De Vettori é líder para o atendimento às empresas de Life Science e Health Care da Deloitte no Brasil