Enquanto no Brasil as instituições de saúde começam a implementar seus projetos de prontuário eletrônico (PEP), nos EUA começa a caminhada rumo a uma nova fronteira: o Big Data. Muito além da visão tradicionalmente presa à tecnologia da informação (TI) como ferramenta para aprimorar processos de gestão, as instituições americanas estão incluindo em seus sistemas dados genéticos dos pacientes, de modo a prever e prevenir interações medicamentosas – entre outros problemas – aumentando a segurança do paciente e a eficácia dos tratamentos.

?Os sistemas começam a se tornar maduros o suficiente, mas com uma visão de apoio ao processo, seja para faturamento, agendamento etc. Agora precisamos dar inteligência para ferramentas que não foram desenhadas para gerar inteligência, mas sim para aperfeiçoar processos?, explicou o CKO (Chief Knowledge Officer) da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, Umberto Tachinardi, conferencista do eSaúde e PEP 2013, evento organizado pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) em São Paulo. ?O desafio é mudar esse patamar para cima, de modo a interferir na melhoria do processo de forma cíclica, reentrante.?

Tachinardi lidera um time de especialistas da universidade americana em torno do projeto de inclusão de dados não estruturados (Big Data) gerados pelo EHR (Eletronic Health Record) da instituição. O especialista cita como exemplo dessa interferência inteligente no sistema informatizado a terapêutica medicacional, que mede a eficiência de determinadas drogas de acordo com determinados grupos populacionais.

?A eficiência de uma droga varia entre 50% e 70%. Temos pessoas que vão responder bem ao tratamento, outras que não vão responder e outras que vão responder mal. O que determina se o remédio é bom ou ruim são tantos fatores que é difícil calcular a probabilidade do paciente estar entre os que respondem ou não. Esse é o nosso desafio e precisamos fazer alguma coisa?, ponderou Tachinardi.

Segundo ele, uma das abordagens possíveis é usar técnicas de segmentação populacional baseada em perfis genômicos, de modo a produzir uma medicina de precisão que vá além da medicação utilizada de acordo com critérios de sexo, raça, idade etc. ?Começamos a falar em segmentação de pessoas com características moleculares ou físicas diferentes?, explicou o CKO, explicando a fármaco-genômica.

Aplicação

Um caso prático está no caso do bebê Tariq Jameson, ocorrido em 2005 na Marshfield Clinic, em Toronto, no Canadá. O menino foi diagnosticado com nível elevado de morfina no sangue (70 ng/ml), ingerido através do leite materno ? a mãe de Tariq fazia uso do Tylenol 3, mas os médicos não sabiam que ela fazia síntese ultrarrápida das moléculas do medicamento, transformando-o em morfina, ?para azar do bebe. Ela estava entre os que respondem mal ao medicamento?. Por causa disso o FDA [correspondente americano da Anvisa] emitiu um alerta sobre uso de Tylenol 3 em mães amamentando.

?O FDA possui entre 100 e 200 dessas associações mapeadas. Quando estamos falando de prontuário eletrônico e de interações medicamentosas, como colocar esses marcadores todos e fazer a conferência quando for prescrita uma droga? Amanhã serão mil dessas associações, e depois de amanhã um milhão?, ponderou Tachinardi.

A Marshfield Clinic adota o prontuário eletrônico há cerca de 30 anos, e armazena o DNA de quase 1 milhão de pessoas (sendo 100 mil com DNA processado). Baseado no caso de Tariq, chegaram à conclusão que um entre três pacientes se beneficiaria de testes de compatibilidade genética de medicamentos que se baseassem em sistemas de apoio a decisão conectados ao PEP. ?Mas para isso seria necessário ter um bus de interoperabilidade de múltiplos sistemas de forma descentralizada, admitindo que um único sistema não dá conta dessa flexibilidade. Precisamos dar abertura para estes sistemas?, explicou o especialista.