Um novo capítulo do escândalo relativo a um esquema de fraudes fiscais na prefeitura paulistana pode envolver, além de grandes construtoras e um shopping center, dois hospitais da cidade. Uma planilha encontrada no computador de um auditor fiscal preso por integrar o esquema criminoso que fraudava o recolhimento do Imposto sobre Serviços (ISS) aponta o Hospital Igesp, na Bela Vista, e o Hospital Bandeirantes, na Liberdade. Entidades afirmaram por meio de nota desconhecer a denúncia e que estão abertas para o diálogo com o Ministério Público. ,13,A planilha traz uma suposta lista de empresas com os valores devidos à prefeitura e os que foram pagos de propina aos fiscais. Segundo o promotor de Justiça de São Paulo Roberto Bodini, que apresentou às evidências na tarde de terça-feira (10), o documento demonstra ?a contabilidade do grupo criminoso e a forma como era feita a cobrança, o pagamento e a divisão da propina?.,13,A título de exemplo, Bodini citou um de seus empreendimentos da construtora Brookfield, que segundo o documento devia R$ 421,1 mil para a prefeitura. A planilha mostra que metade do valor total devido pela empresa foi descontado pelos fiscais, ou seja, R$ 210,5 mil de desconto. A outra metade foi assim dividida: R$ 10,5 mil recolhidos para a prefeitura e R$ 200 mil distribuídos entre os fiscais envolvidos na fraude.

Na planilha também aparecem 410 empreendimentos, que deviam um total de R$ 61 milhões [que deveriam ser recolhidos de imposto] entre junho de 2010 e outubro de 2011. Do total, R$ 2,5 milhões foram parar nos cofres da prefeitura. Cerca de R$ 29 milhões, de acordo com o documento, ficaram com as pessoas envolvidas nas fraudes. ,13,Segundo o promotor, a planilha obtida com o fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, delator do esquema, coincide 100% com uma relação produzida pela prefeitura paulistana sobre o recolhimento do imposto. ?Pedimos para a prefeitura a certidão e identificação das guias de recolhimento de ISS que são mencionadas na planilha [obtida com o fiscal]. Por meio dessas guias de recolhimento vamos chegar à certidão de quitação com a identificação da empresa responsável pelo empreendimento?, disse o promotor.,13,Para auxiliar na investigação, o Ministério Público e a Polícia Civil vão integrar uma força-tarefa. A parceria foi definida na segunda-feira (9), e na quarta-feira (11) os órgãos devem se reunir para estabelecer uma agenda de trabalho. ?O objetivo [da força-tarefa] é ajudar a apurar essas centenas de casos de corrupção?, explicou Bodini.,13,Apesar de ainda investigar a participação de agentes da prefeitura e de empresas no esquema, o promotor questionou o fato de os empreendimentos não terem, em qualquer momento, denunciado a existência de um esquema criminoso, apesar dele aparentemente envolver tantas empresas. ,13,?São 410 casos. Se havia alguma obrigatoriedade [de pagamento de propina] ou se havia um outro meio de proceder, nenhuma dessas empresas teve a iniciativa de união ou [de acionar o] Poder Público para fazer com que isso chegasse ao chefe do Executivo municipal. E o Judiciário? Nenhuma delas [empresas] recorreu ao Judiciário. É estranha essa situação?, disse o promotor.,13,Outro lado
O Grupo Saúde Bandeirantes, do Hospital Bandeirantes, por meio de sua assessoria de imprensa, declarou não ter sido procurado pelo Ministério Público extraoficialmente ou oficialmente, e que desconhece a denúncia. Disse ainda que foi surpreendido, que está com todos os pagamentos de impostos em dia e que está à disposição do Ministério Público para ter as contas auditadas.,13,Segundo a porta-voz, se há erro de cálculo por parte da prefeitura ? que emite as guias de pagamento -, a instituição está disposta a ?arcar com a responsabilidade, se ela houver?. Além disso, afirma a porta-voz, o desconto que teria sido obtido no esquema denunciado é incoerente por ser ?ínfimo dentro do universo do Bandeirantes?, e que o prejuízo para o grupo seria muito maior.,13,O hospital disse ainda que as denúncias são incoerentes, uma vez que o Bandeirantes possui um braço filantrópico que enfrenta dificuldades de relacionamento com o poder municipal: o Hospital da Glória, administrado pela Sociedade Assistencial Bandeirantes, teve o contrato de parceria com a prefeitura encerrado e não renovado por, alega a entidade, falta de repasses de verba, entre outros problemas. A unidade deve ser fechada ainda em dezembro.,13,Já o Hospital Igesp, em nota, informou que ?todos os tributos destacados nas notas fiscais apresentadas pela construtora responsável pela obra foram retidos e recolhidos rigorosamente pelo hospital. Desconhecemos qualquer irregularidade que, por ventura, tenha ocorrido?.,13,A Brookfield São Paulo Empreendimentos Imobiliários informou que tem colaborado com o Ministério Público. ?Comparecemos espontaneamente, fomos ouvidos como testemunhas e nos consideramos vítimas de extorsão?, disse. ,13,* com informações da Agência Brasil