A Fiocruz firmou neste mês um convênio com a Universidade George Washington e o Instituto de Vacinas Sabin, ambos dos Estados Unidos, para produzir uma inédita vacina contra a ancilostomose. Desenvolvido pelas instituições americanas, o imunizante já se comprovou eficiente em animais de laboratório e agora será testado em voluntários humanos nos EUA. Se aprovada, em 2006 começará a sua aplicação no Brasil. Finalmente, como parte do acordo, a tecnologia será repassada integralmente para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da Fiocruz, informa a assessoria de imprensa.
O projeto para a produção da vacina contra a ancilostomose está dividido em três etapas. A primeira, que já foi cumprida, foi seu desenvolvimento a partir de antígenos do verme causador. A segunda é a fase de teste. O produto já foi aprovado em animais e agora serão feitos testes em voluntários humanos. Depois, será aplicado em regiões endêmicas do Brasil, como o nordeste de Minas Gerais, onde a prevalência da doença chega até 80% de infectados. Será nesse momento que os pesquisadores poderão determinar esquemas e dosagens para o produto. A fabricação da vacina faz parte da terceira e última fase, prevista para início de 2006, e que ocorrerá em Biomanguinhos. De acordo com os cientistas americanos que coordenam o projeto, o Brasil é ideal para a segunda e terceira fases, pois é o único país do mundo que alia altos números da enfermidade (comum nos trópicos e em localidades de saneamento precário) e uma forte capacidade produtiva (Biomanguinhos).

Em testes, a vacina foi capaz de reduzir em até 50% a quantidade de vermes no organismo de animais de laboratório. A expectativa é de que o mesmo efeito ocorra entre os humanos, controlando a quantidade do verme no corpo e diminuindo assim a capacidade da doença de se expressar (morbidade).
Mais comum no meio rural, a ancilostomose é uma das mais comuns doenças do mundo. De acordo com o Instituto Sabin, mais de 740 milhões de pessoas sofrem da enfermidade. A moléstia se tornou célebre graças a Monteiro Lobato, que criou o famoso personagem Jeca Tatu, vítima da doença. A ancilostomose causa anemia e compromete o estado físico e mental do enfermo. Um de seus sintomas é tornar a pele amarelada, o que originou o nome popular da enfermidade (amarelão).
Atualmente, a ancilostomose pode ser eliminada por meio de tratamento e administração de remédios. No entanto, estes não imunizam o doente, que pode voltar a se infectar caso entre novamente em contato com o verme. Já a vacina, será aplicada somente uma única vez, tornando o imunizado resistente à moléstia para o resto da vida.
O projeto para a vacina, que é inédito no mundo, é conduzido por três instituições: a Universidade George Washington, o Instituto de Vacinas Sabin e a Fundação Bill & Melinda Gates, que investiu mais de US$ 18 milhões no projeto. No Brasil, assinaram o convênio a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto Butantan.