A soma Google + CliffNotes pode ser a fórmula para tornar usável o software de registro eletrônico de saúde, especialmente dentro das redes de grandes hospitais que usam múltiplos sistemas EHR (equivalente ao Prontuário Eletrônico do Paciente, PEP em português).
A fórmula é uma abreviatura do que faz a empresa QPID Health, do CEO Mike Doyle. Ela adiciona tecnologia de busca e compactação como uma camada em cima do software de EHR, para fornecer o acesso conveniente aos dados de paciente quando mais são necessários ? no momento em que os médicos tomam decisões clínicas. O mundo do EHR, hoje, é o que ?a internet era há 20 anos, quando tínhamos todos os dados, mas não tínhamos o Google?, disse Doyle em entrevista. ?EHRs fazem um ótimo trabalho capturando dados, mas não em fazer uso prático deles?.
Há alguns meses, em um artigo intitulado ?Por que médicos odeiam software de EHR?, eu citei um pediatra chamado Dave Denton e sua frustação com o software de EHR e, em particular, com a ?caça ao tesouro? em que ele se encontra tentando entender em qual aba estão as informações clinicamente relevantes para um determinado paciente. Denton está no conselho de TI do hospital e acredita no potencial da TI em saúde, mesmo que ele esteja desolado pela realidade. Embora, em teoria, o software de EHR sirva para coletar todas as informações de um paciente em um só lugar, encontrar essa informação novamente pode ser mais difícil do que deveria, reclamou ele.
A QPID pode ter encontrado o mapa que torna a caçada muito mais fácil.
A estratégia padrão do design do software de EHR para facilitar a recuperação de informações é acrescentar campos de bancos de dados estruturados. Mas, se tem alguma coisa que os médicos odeiem mais do que perder tempo tentando encontrar informações em EHR, é perder tempo ticando quadradinhos em um complexo formulário de captação de dados.
Como a busca do Google, o QPID é desenhado para encontrar informações estando elas impecavelmente demarcadas e classificadas ou todas armazenadas no mesmo local usando dicas contextuais.
O QPID, que significa ?queriable patient inference dossier? (mas se pronuncia ?cupid?, que todo mundo ama), foi desenvolvido no Hospital Geral de Massachusetts, por Michael Zalis, um radiologista interventivo, e Mitch Harris, o cientista da computação que liderou o desenvolvimento da tecnologia de busca de linguagem natural e ontologia médica. Ao tentar encontrar o contexto clínico para as imagens que ele enviava para ler, Zalis percebeu que passava muito tempo tentando desenterrar informações relevantes dos sistemas de informação do hospital. Ele recorreu a Harris, acreditando que eles poderiam encontrar uma solução melhor.
O software se espalhou do Hospital Geral de Massachusetts para outros grandes hospitais no sistema da Partners Healthcare baseados em Boston. Passou a ser adotado em outros locais. A QPID Inc. foi lançada em 2013 como um desdobramento da Partners, com apoio da Matrix Partners, Partners Innovation Fund, Massachusetts General Physicians Organization (MGPO) e Cardinal Partners. A empresa está, agora, em processo de criar uma força de venda, com algumas implementações em clientes em progresso em centros médicos nos estados da Virgínia e Connecticut, que Doyle alegou não ter ?a liberdade de nomear? por enquanto.
Em um aplicativo particularmente avançado da tecnologia do Hospital Geral de Massachusetts, o QPID pesquisa tanto dados clínicos quanto de estudos sobre um procedimento cardíaco especifico e o compara com os fatores de risco do paciente para recomendações de melhores práticas. O software então dá ao médico um sinal verde, amarelo ou vermelho, indicando que um procedimento é ou não recomendado para o paciente, uma recomendação que o médico tem o poder de ignorar. Se o médico decide levar adiante o procedimento, o aplicativo gera o formulário de consentimento necessário, com o fator de risco avaliado e claramente exposto para ajudar o paciente a tomar a melhor decisão.
Este fluxo de trabalho é tão incontestável, e aproveita os princípios da medicina baseada em evidências, que uma seguradora da região de Boston concordou em eliminar o requerimento de pré-aprovação de procedimentos quando o processo é seguido.
Quando usado como ferramenta de busca, o QPID pode levantar registro de um determinado paciente que tenha a palavra ?câncer?, por exemplo. Se um médico busca por ?*câncer?, usando QPID, também encontrará registros que não contenham a palavra exata, mas se relacionam de alguma forma, com o conceito de tumor maligno. Além de registros EHR, o software também busca resultados laboratoriais que contenham indicações de câncer em diagnóstico.
Esta é parte Google. Para ser mais claro, o QPID não usa tecnologia do Google de verdade, assim como não usa tecnologia CliffNotes, mas o painel do QPID é desenhado para ajudar o médico a estudar, rapidamente, as condições do paciente. Desta forma, em vez de buscar, o médico tem uma tela que pode ser customizada por especialização, mostrando uma visão geral de todas as informações relevantes sobre o paciente.
Em vez de CliffNotes, você pode pensar em um estilo Google News – todas as principais informações sobre o paciente. Exceto que, em vez de serem classificadas como notícias de negócios ou esportes, são classificadas como, por exemplo, condições cardiovascular ou pulmonar e por sinais comuns de alerta, como dores no peito. Para ter uma ideia melhor sobre como isso se encaixa na prática, você pode assistir ao vídeo de final de ano que a equipe do QPID produziu diagnosticando as dores do Papai Noel com a ajuda da ferramenta.
Outra forma como o Hospital Geral de Massachusetts colocou a tecnologia em uso foi com a verificação proativa de fatores de risco antes de realizar procedimentos. Por exemplo, o hospital marca cerca de 100 colonoscopias por dia. Tinha de cancelar entre 10 e 15 desses exames por conta de fatores de risco que eram desconhecidos antes do paciente chegar e conversar com o médico, contou Doyle. Existem alguns fatores de risco. Se um paciente estiver tomando anticoagulantes, por exemplo, o procedimento não pode ser realizado porque se pólipo for encontrado, o cirurgião não será capaz de cortá-lo sem arriscar que o paciente sangre até morrer. Usando o QPID para uma busca abrangente de registro, a enfermeira pode descobrir que o paciente tem um desses fatores de risco e cancelar o procedimento ou, no caso de anticoagulantes, pedir que o paciente interrompa o uso do medicamento algumas semanas antes do procedimento.
Da mesma forma, um paciente com marca-passo ou qualquer outro implante médico metálico não pode nunca ser submetido a uma ressonância magnética ? um exame de diagnóstico que usa imãs fortíssimos ? e o QPID ajuda a garantir que os médicos tenham ciência de tais complicações antes do procedimento. Desta forma, o Hospital Geral de Massachusetts reduziu, significativamente, o número de cancelamentos em atendimentos, disse Doyle.
?Fica bastante evidente que software de EHR não foi feito para médicos praticarem?, disse Sid Govindan, outro ex-radiologista do Hospital Geral de Massachusetts, que hoje é o diretor de conteúdo clínico do QPID.
Geralmente, a informação que os médicos precisam está em campos estruturados, e eles só conseguem encontrar se souberem exatamente onde procurar. Além disso, mesmo quando campos estruturados são designados, eles podem não ser usados com consistência. Uma ordem de não ressuscitação pode registrada ao não marcar DNR em um formulário, em alguns casos. Em outros, pode ser mencionado em uma observação do médico. O QPID ajuda a garantir que a informação será encontrada de qualquer forma, disse ele.
?EHRs, hoje, são como a Web antes do Google?, disse Govindan.
* por David F. Carr, da InformationWeek Healthcare
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