Anunciado na semana passada como uma porta de entrada da Fanem no mundo do IoT (sigla em inglês para internet das coisas), o aporte na startup catarinense SensorWeb chamou atenção pelas perspectivas. Ultimamente focada em uma estratégia de ganho de escala, baseada na exportação de produtos para mais de cem países, a aposta da Fanem em inovação tecnológica demonstra uma tentativa de renovação do portfólio. Mas o que isso significa?
?A Fanem está sempre mirando o mercado do futuro e a telemedicina é este canal. [A telemedicina] Aprimora nosso portfólio de equipamentos facilitando o acesso às informações?, explica Djalma Luiz Rodrigues, presidente da Fanem, a respeito das razões que levaram a empresa a investir na SensorWeb. ?É uma empresa que está se lançando agora, gente jovem com muita expertise. Apesar de ter muitos engenheiros, a Fanem não tem a mesma velocidade das empresas especializadas para atender a demanda com eficiência.?
Talvez a palavra certa para definir a parceria entre a tradicional fabricante brasileira de equipamentos médicos e para laboratórios ? que completa 90 anos em 2014 ? e a jovem startup seja ?telemetria?. Muito embora o valor não seja revelado, e tampouco haja qualquer alteração na estrutura de governança da startup, o aporte servirá para acelerar o desenvolvimento de novos parâmetros de monitoramento que equipem, primeiro, a linha de cadeia de frios para laboratórios e, depois, outras linhas de produtos, inclusive neonatal.
Que a Fanem tem muito a ganhar com o investimento fica claro, mas e a SensorWeb? ?É um aporte financeiro, uma parceria comercial muito forte para alavancar produtos. Eles [a Fanem] têm um mercado consolidado, canais de venda e clientes, toda uma rede de contatos que facilita muito a divulgação?, explica Douglas Pesavento, sócio fundador da startup catarinense. ?Isto facilita alcançar a escala que queremos, a chegar a centenas de clientes e milhares de sensores monitorados.?
Atualmente o portfólio de Saúde da startup se restringe aos sensores de temperatura e umidade, mas ?a plataforma é flexível para atender outros tipos, conforme houver demanda?, explica seu fundador, referindo-se ao sistema web que leva o nome da empresa. Os equipamentos autônomos, alimentados por baterias, se comunicam com um central de monitoramento (via WiFi) e depois com um data center (3G). O acesso a estes dados é feito pela internet e comum à instituição e aos técnicos da SensorWeb.
?A gente acompanha quantos sensores estão online, quantos em alarme, qualquer queda ou mudança brusca?, detalha o executivo. A cobrança do serviço é feita por ponto monitorado e dispensa o investimento em infraestrutura local, mas inclui manutenção e acesso à plataforma.
Outros tipos de sensores já estão em testes: energia, consumo de água, abertura de portas, armazenando de insumos. Com a Fanem, novos parâmetros de monitoramento nas incubadoras, integrados aos sistemas de gestão hospitalar. Esta parceria de pesquisa e desenvolvimento ainda não tem modelo formatado, mas vai além da linha laboratorial de câmaras e freezers. ?A gente tem interesse em monitorar todo e qualquer tipo de dispositivo?, diz Pesavento.
Um pouco de história
Portanto chamam atenção na parceria, para a SensorWeb, as mesmas perspectivas. Não faz pouco tempo que as duas empresas conversam: o primeiro contato data de 2010, um ano depois que a startup foi criada por Pesavento e Victor Rocha Pusch, dois oriundos da área de sistemas de supervisão.
?Mapeamos os players em saúde que tinham equipamentos e com os quais poderíamos ter parceria e fizemos uma visita a Fanem?, conta Pesavento. ?Na época fomos mais com o sonho do que com algo concreto, não tínhamos um produto bem acabado, só expertise e o protótipo.?
A SensorWeb nasceu em torno de um problema pontual enfrentado pelo Hemocentro de Santa Catarina, que monitorava manualmente uma enorme gama de equipamentos. O processo trazia perdas não admissíveis para a já tão difícil tarefa de incentivar doações.
?Entendemos que isso não era específico só do banco de sangue, mas da grande maioria das instituições de saúde do País?, conta o fundador da startup. ?Usamos um pouco da experiência que tínhamos em projetos de automação. Não queríamos simplesmente desenvolver um projeto pontual, queríamos evoluir e criar um produto para todo o mercado.?
O modelo escolhido foi o de serviço, de solução completa, movido pelo que observação de que as equipes técnicas não tem conhecimento para manutenção de sistemas de supervisão, e as equipes de TI, por sua vez, são enxutas.
Futuro
A simbiose entre Fanem e SensorWeb é iminentemente comercial, assegura Pesavento. A entrada como investidor não vincula as duas empresas além do interesse societário. ?Nenhuma regra limita a abrangência ou foco de cada empresa. As duas se mantem independentes?, é a resposta a respeito de qualquer possibilidade de aquisição.
Claro que a empresa investidora não fala no assunto, mas admite que ?está sempre aberta a novas oportunidades para contribuir aos nossos objetivos?, diz Rodrigues, presidente da fabricante. Isso inclui ?participações, parcerias… Estamos sempre abertos para o que agregue a possibilidade de aumentar nosso portfólio?.
De qualquer forma, o pensamento dos executivos da SensorWeb não parecem voltados para mudanças no CNPJ. A empresa trabalha na capacitação da rede de revendas no Brasil e no trabalho de divulgação da marca. A área da saúde, explica Pesavento, ainda tem ?muita venda comercial, do vendedor bater na porta?.
O objetivo da startup é chegar a mil sensores instalados ainda em 2014.