Médicos trainees que passam mais tempo com os representantes de marketing farmacêuticos têm menos probabilidade de fazerem escolhas de prescrição baseadas em evidências, de acordo com resultados de um estudo publicado online no dia 9 de junho, na JAMA Internal Medicine.
Os autores dizem que seus dados mostram que o marketing é ligado à escolha de prescrições, que são mais suscetíveis a favorecer marcas conhecidas, ao invés de genéricos ou opções de tratamentos sem drogas que teriam o mesmo efeito.
Kirsten E. Austad, médica da Division of Pharmacoepidemiology and Pharmacoeconomics, Department of Medicine, Brigham and Women’s Hospital e Harvard Medical School,e colegas pesquisaram uma amostra nacionalmente representativa de estudantes de medicina do primeiro e quarto ano, e residentes no terceiro ano, aleatoriamente selecionando pelo menos 14 indivíduos em cada nível de cada escola.
Eles deram aos trainees uma lista de perguntas, sobre qual a frequência de uso de recursos educacionais diferentes para aprender sobre drogas prescritas. Então, eles perguntaram sobre a frequência de interações com a indústria farmacêutica nos últimos 6 meses (incluindo a aceitação de presentes), suas expectativas quanto a essas interações em suas carreiras futuras e as suas atitudes em relação à essas interações.
A partir dessas respostas, os pesquisadores fizeram um índice do relacionamento de trainees com a industria farmacêutica.
Entre os estudantes do quarto ano e residentes, os autores emitiram uma série de perguntas de múltipla escolha, perguntando sobre a terapia inicial mais apropriada para cenários clínicos envolvendo pacientes com diabetes, hiperlipidemia, hipertensão e dificuldade de sono.
O estudo descobriu que um índice de 10 pontos ou maior de relações com a indústria foi associado com 15% menos chances de prescrição baseada em evidências. Houve também uma ligação significante entre os índices de relações com a industria e maiores chances de prescrição de medicamentos de marcas conhecidas.
Onde os trainees conseguem informações?
O uso de representantes farmacêuticos como fonte de informação de medicamentos aumentou com a experiência. Segundo o estudo essa fonte é duas vezes mais usada por residentes (20%), do que por estudantes do primeiro ano (7,9%). O uso reportado de patrocínios de empresas farmacêuticas para eventos educacionais quase triplicou dos primeiros anos, com 6,7% para os residentes, com 17%. Somente 74,7% dos residentes disseram que usam artigos em revistas e jornais consagrados para aprender sobre drogas.
A maioria dos estudantes de medicina do primeiro ano reportaram o uso de pesquisas no Google (88,9%) e Wikipedia (84,5%) para informações sobre medicamentos, comparados a números como 82,4% e 77,3% de estudantes de quarto ano, respectivamente. Os residentes reportaram o menor uso do Google, com 74,2% e Wikipedia, com 45,2%.
Em uma nota do editor, Joseph S. Ross, médico, MHS, notou que durante os anos de treinamento ‘’as identidades profissionais são formadas, e os ‘hábitos’ da prática clínica começam’’.
Ele disse que não existem razões educacionais para esse tipo de interação com representantes da indústria, e recomenta que escolas médicas e hospitais de treinamento limitem a exposição aos trainees.
‘’Está se tornando mais claro que restringir essas interações durantes a escola de medicina e o treinamento de pós graduação leva a uma prescrição entre médicos de maior qualidade e mais baseada em evidências, o que é bom para a profissão, para o cuidado com o paciente e para a confiança do público na medicina’’, disse ele.
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