O EVTE – Estudo de viabilidade técnica e econômica, é uma análise aprofundada e criteriosa acerca das variáveis que podem impactar os negócios. É recomendado para a tomada de decisão relacionada a investimentos na elaboração, realização ou ampliação de negócios, produtos ou serviços. Ele pode ser feito por consultorias especializadas ou internamente, pelos técnicos das organizações – como por exemplo equipe comercial, riscos, tecnologia, infraestrutura, entre outros – para detalhar o projeto, identificar potenciais aumentos de receitas, reduções de custos, variações de ativos, variações de riscos, definir metas e necessidades de negócio, operacionais e técnicas para pormenorizar o objeto do novo investimento.

Com base nas informações supracitadas, cenários são criados identificando uma versão do que é esperado, com base nas metas definidas, assim como versões pessimista e otimista (variando as metas), considerando possíveis desvios e formando algumas visões econômicas. Ao mesmo tempo, são levantadas as necessidades operacionais (processos, fluxos, competências, infraestruturas etc) formando então uma visão técnica. A composição das duas partes, construídas de forma totalmente integrada, forma o EVTE, que é submetido para aprovação nas diferentes esferas de governança.

Para a decisão de aprovação ou não do novo investimento, geralmente leva-se em consideração as alternativas de aplicação e se a nova proposta tem capacidade de gerar o retorno do e sobre o investimento, por isso, demonstrar cenários de resultados por meio de indicadores de payback, TIR (taxa interna de retorno), VPL (valor presente líquido), dentre outros é altamente recomendado. Adicionalmente, benefícios intangíveis com marca, aumento de controle, flexibilidade, qualidade e disponibilidade de informações para tomada de decisão, entre outros, e os riscos associados, também fazem parte de um estudo de viabilidade

Aprovado o estudo, agora vem a parte da implementação do projeto, seguindo todos os ritos definidos pela organização. Na sequência, é iniciada a fase de operação e é nesse momento que boa parte dos problemas se concentram e por isso vamos compartilhar um pouco da nossa vivência.

Em nossa trajetória por diferentes organizações de saúde, temos visto os EVTEs sendo utilizados para tomada de decisão (para investir ou não em determinado projeto), mas as bases com que foram concebidos, sendo esquecidas. Ou seja, os estudos são considerados para dizer sim ou não, ou o famoso go – no go, e a partir daí, vão para a “gaveta”.

Alguns meses ou anos depois, alguém questiona: conseguimos alcançar os resultados previstos para o projeto? Será que o que foi previsto realmente aconteceu? Nesse momento, alguém resolve “recorrer” ao estudo para mostrar a aderência entre o que foi planejado e o que foi alcançado, mas geralmente já é tarde demais, porque é percebido que várias premissas fundamentais do EVTE não foram consideradas, impactando sobremaneira o resultado final (pode até ser que em alguns casos o resultado tenha realmente sido alcançado, que as premissas colocadas nos estudos tenham acontecido, que as metas que cada área deveria ter buscado tenham sido conquistadas, mas não poderemos dizer que foi por gestão).

Por exemplo, um projeto de uma nova unidade que:

•             Era para chegar ao mercado em 6 meses, mas demorou 2 anos – com um atraso desses, o cenário certamente já estará diferente do que o estudado;

•             Tinha uma meta de capturar um percentual mínimo esperado do mercado que não aconteceu porque a área comercial não conseguiu criar uma proposta de valor atrativa, seja para os pacientes, para as operadoras de saúde, ou para os médicos; e

•             Assim por diante, meta a meta, premissa a premissa.

Estes mesmos profissionais que acabaram negligenciando o pós implementação, começam a perceber que os esforços necessários para alcançar os resultados previstos no EVTE não foram feitos (por isso dissemos que aí já é tarde demais).

Portanto, o EVTE além de ser relevante para tomada de decisão, deve ser utilizado durante a implementação do projeto e permanecer sendo considerado no decorrer dos primeiros anos de operação, para garantir que as premissas sejam gerenciadas e as metas alcançadas. Infelizmente, boa parte das organizações não faz uso completo da metodologia, e depois, quando os resultados dos estudos não acontecem, o EVTE é questionado (assim como o time que o fez), ao invés de ser questionado se de fato foi feito o que era necessário. E, infelizmente, nesses casos o aprendizado organizacional não acontece, pois essa mesma conduta se repetirá: utilizar o estudo para aprovar o projeto, mas não para alcançar os resultados.

Sobre os autores

Joyce Romanelli: Sócia da Stratex, atua no setor de saúde desde 2006, onde já exerceu as funções de Diretora Administrativa e Executiva, além de Gestora da Qualidade, Planejamento Estratégico, Projetos e Gerenciamento de Riscos. Mestre em Gestão para a Competitividade na Fundação Getúlio Vargas (FGV) na linha de pesquisa de Gestão da Saúde e especialista em Administração Hospitalar. Docente do Centro Universitário São Camilo em cursos de pós graduação.

Luiz Sedrani: Sócio da Stratex, possui experiência em consultoria desde 1997, desenvolvendo projetos de planejamento e gestão estratégica, gestão de performance, redesenho de processos e reestruturação organizacional, modelos de reconhecimento e incentivo atrelados a estratégia, gerenciamento de projetos e viabilidade técnica-econômica de projetos e soluções tecnológicas, com atuação em organizações dos setores público e privado e instituições sem fins lucrativos.

Engenheiro de Produção graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP) com pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Data Science e Informática na Área da Saúde pelo Albert Einstein Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa

Suzana Mosquim: Sócia da Stratex, atua no setor de saúde desde 2003, tem consolidada experiência em Gestão de Serviços Assistenciais, Qualidade e Segurança do Paciente. Já atuou como Diretora de Práticas Assistenciais com foco em estruturação de diferencial competitivo e sustentabilidade do negócioEnfermeira com MBA em Gestão Executiva em Saúde pelo Insper, especialista em Administração Hospitalar, com Título em Hematologia e Transplante de Células Tronco Hematopoiéticas pela ABHH.