O estudo Demografia Médica no Brasil 2025, conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB), analisou o panorama dos cursos de especialização médica no país e destacou a necessidade urgente de regulamentar a pós-graduação para assegurar a qualidade do ensino.  

Essa conclusão reforça o que a Associação Brasileira de Médicos com Expertise em Pós-Graduação (Abramepo) defende desde sua criação: a regulamentação dos cursos de pós-graduação é essencial para garantir uma formação adequada, com carga horária mínima e conteúdo programático que atenda aos requisitos de uma especialização médica de qualidade. Vale lembrar que a pós-graduação, conforme previsto por lei, é um curso de especialização oferecido universalmente em diversas áreas como forma de aprimoramento profissional. 

O estudo também aponta que a expansão dos cursos de pós-graduação é reflexo da crescente abertura de novas faculdades de medicina e da busca dos próprios médicos por qualificação. “Isso expõe a falta de opções disponíveis para especialização médica. Apenas um terço dos recém-formados consegue vaga em residências, e a prova de títulos não é uma via de formação. Para se especializar, muitos médicos recorrem a cursos de pós-graduação, mestrado ou doutorado, que ainda não são reconhecidos como especialização pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)”, explica o professor Eduardo Teixeira, presidente da Abramepo. 

A competição acirrada por vagas em residência médica 

Em 2025, a concorrência por vagas de residência médica atingiu níveis recordes, com 53.171 candidatos disputando 4.874 vagas, resultando em uma média de 11 candidatos por vaga. “Um médico recém-formado, muitas vezes com dívidas estudantis, dificilmente pode deixar de trabalhar para fazer residência. Da mesma forma, profissionais mais experientes que desejam se especializar em uma nova área não podem interromper suas atividades. Precisamos enfrentar essa realidade e reconhecer que uma pós-graduação regulamentada pode ser uma solução para a escassez de vagas em residência”, argumenta Teixeira. 

Soluções e o papel da pós-graduação 

Historicamente, o Conselho Federal de Medicina subvalorizou a pós-graduação e perdeu a oportunidade de regulamentar essa modalidade junto ao MEC, criando padrões de qualidade para a formação contínua dos médicos. Agora, diante da escassez de vagas em residências, o mercado tem visto a pós-graduação como uma alternativa viável para os profissionais. A AMB apoia a regulamentação desses cursos, estabelecendo critérios de qualidade e fiscalização rigorosa. Para a Abramepo, o estudo da Demografia Médica reforça a necessidade de valorizar e regulamentar a pós-graduação como via legítima de especialização médica. 

Teixeira ressalta que é fundamental criar um programa regulamentado por lei para incentivar a pós-graduação na área médica, promovendo a conscientização sobre a sustentabilidade das especialidades. Isso evitaria marginalizar médicos qualificados que já cumprem as exigências legais. Atualmente, a falta de regulamentação cria uma reserva de mercado nas residências, prejudicando o acesso da população mais vulnerável a especialistas, especialmente no SUS. 

Regulamentação como caminho 

A solução não está em negar a existência dos cursos de pós-graduação, previstos por lei e essenciais em qualquer profissão, mas sim em regulamentar e fiscalizar sua qualidade. “A Abramepo está comprometida em colaborar com o Ministério da Educação e outras entidades para garantir que os cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado ofereçam uma formação sólida, com carga horária mínima e metodologia compatível com a residência médica. Criticar sem apresentar soluções não melhora o sistema de formação médica. É preciso mudar o discurso e valorizar a pós-graduação como um caminho legítimo para a especialização, garantindo que os médicos adquiram a formação necessária para atender às necessidades da população. Temos uma grande demanda por especialistas em diversos estados e um contingente de médicos dispostos a se qualificar para suprir essa carência”, conclui Teixeira.