Desde março de 2020, a pandemia de covid-19 alterou as perspectivas e os medos das pessoas, que não sabem em quem ou no que confiar. A crescente polarização, a crise sanitária e econômica mundial, a proliferação de notícias falsas e a sensação de que a “vida normal” ainda está um pouco distante faz com que, de forma geral, as pessoas fiquem mais inseguras.
A pesquisa Trust Barometer, realizada pela Edelman anualmente há 21 anos, tem o cenário pandêmico e suas inseguranças como plano de fundo. Em razão da complexidade do momento, o Trust Barometer 2021, publicado em janeiro deste ano, não foi suficiente para entender como o mundo vem reagindo à pandemia. Por isso, a Edelman, com trabalho de campo realizado de 30 de abril a 11 de maio de 2021, publicou uma atualização do Trust Barometer 2021, o Edelman Trust Barometer 2021 – Relatório Especial Mundo em Trauma.
Nessa nova edição, foram ouvidas mais de 16.800 pessoas em 14 países, entre eles o Brasil. Alguns dados chamam atenção. No Brasil, o índice de confiança no governo caiu 2 pontos em relação ao estudo lançado em janeiro (campo: de 19 de outubro a 18 de novembro de 2020). Atualmente, apenas 37% dos brasileiros confiam no governo, o que coloca a instituição no patamar não confiável.
O brasileiro considera as empresas mais competentes do que o governo para: responder pela saúde e pela segurança da população na pandemia (34% contra 20%), melhorar o sistema de saúde (27% contra 18%), gerar crescimento econômico e criação de empregos (33% contra 23%), garantir que o sistema educacional forme profissionais para os trabalhos do futuro (24% contra 16%), endereçar inequidades sistêmicas (27% contra 19%) e combater mudanças climáticas (24% contra 20%).
Além disso, a confiança dos brasileiros em autoridades de saúde internacionais (OMS 64% e ONU 60%) é maior do que em autoridades de saúde nacionais (54%). As internacionais são consideradas confiáveis pelos brasileiros, enquanto as nacionais são consideradas neutras, ou seja, nem confiáveis, nem não confiáveis.
Um ponto positivo da pesquisa é que, para os brasileiros, “expandir conhecimentos” sobre informações e mídia (68%) e sobre ciência (65%) se tornou mais importante no decorrer do último ano, só perdendo para “priorizar minha família e suas necessidades” (70%) na lista de preferências.
Um dado interessante é que, globalmente, 65% das pessoas ainda estão pensando “como na pandemia”, mas no Brasil esse número chega a 90%. Até os brasileiros vacinados com a segunda dose ainda se sentem inseguros para retomar as atividades normais: 31% não estão confortáveis para voltar ao trabalho, 17% não estão confortáveis para comer em lugares fechados, 21% não se hospedariam em hotéis, 24% não pegariam aviões e 10% não estão confortáveis em mandar os filhos para a escola.
Para 68% dos brasileiros, o país não terá condições de vencer seus desafios sem o envolvimento das empresas e, destes, 35% dizem que a pandemia os levou a olhar para as empresas como um agente de mudança. O “meu empregador” é a instituição mais confiável no mundo e, no Brasil, isso não é diferente. 79% confiam no seu empregador, enquanto 37% confiam no governo, 63% nas empresas, 57% em ONGs e 46% na mídia.
Os dados do relatório foram, de certa forma, esclarecedores, mas como o Brasil foi um dos países que mais sofreu com o coronavírus, consequentemente, a insegurança das pessoas nas autoridades governamentais cresceu. No entanto, para 69% dos brasileiros, apesar de trágica, a pandemia ocasionará valiosas inovações e mudanças para melhorar a maneira como vivemos, trabalhamos e tratamos uns aos outros.