Foi quase por acaso que Zélia da Cruz, 42 anos, descobriu que estava com a pressão arterial alta. Analista de cadastro da Seisa Assistência Médica, resolveu participar do Dia da Hipertensão realizado pela empresa em abril. ?Não tinha a mínima ideia de que minha pressão estava alta. O médico me recomendou cuidados com a alimentação e que eu comece a fazer caminhadas?, conta. Em agosto, a analista já tem uma nova consulta agendada com o médico para checar se houve melhora na pressão.
Não é só Zélia que teve a chance de descobrir como anda a própria saúde. Além dos programas frequentes de saúde oferecidos pela empresa, como o Dia da Hipertensão, pela primeira vez a Seisa, empresa do Grupo Carlos Chagas, realiza um mapeamento completo da saúde dos cerca de 500 funcionários. Assim como exames de rastreamento como a checagem de pressão, peso, altura, circunferência abdominal e cálculo do índice da massa corpórea. Também está sendo aplicado o questionário de Fleming, que avalia o risco cardíaco. ?Com os resultados na mão, a gente dá algumas orientações pontuais sobre a saúde do colaborador?, explica a supervisora de enfermagem da Seisa, Márcia Mendes. ?Se ele está com o índice de massa corpórea alterado, a gente orienta sobre o peso; o colaborador que não faz atividade física, indicamos atividades físicas fáceis de serem feitas no dia a dia?.
Depois desse primeiro momento de orientação e quando toda a pesquisa for tabulada, os funcionários da Seisa com problemas de saúde serão encaminhados para grupos específicos com pacientes externos da empresa. O investimento da operadora na saúde de seus funcionários não é em vão. ?A saúde representa o segundo maior gasto das empresas, ficando atrás somente dos custos com a folha de pagamento?, afirma a especialista em Gestão de Qualidade de Vida no trabalho e Prevenção e Promoção à Saúde, Ana Paula Pinto. As empresas gastam em média 10,4% do orçamento com custos diretos em saúde, ou seja, o pagamento de plano de saúde, ambulatórios e check-ups. ?Mas se levarmos em conta os custos indiretos, muito mais difíceis de serem medidos, o valor com a saúde pode até dobrar e chegar a 20%?, diz Ana Paula. A executiva explica que os custos indiretos são, por exemplo, os gastos com o absenteísmo – a falta do colaborador por algum problema de saúde -, ou ainda o presenteísmo, quando o empregado vai trabalhar, mas se sente mal ou desmotivado, o que acaba reduzindo a produtividade da empresa.
Atualmente a ausência de apenas um funcionário pode mesmo comprometer o andamento do trabalho de um setor. ?Hoje em dia as áreas estão muito enxutas e quando falta uma pessoa, isso impacta muito no negócio?, confirma a diretora de recursos humanos da Agfa HealthCare, Solange Murakami. Desde 2006, a empresa implantou o Programa Agfa Saúde do Colaborador (PASC). Entre as atividades oferecidas estão ginástica laboral, grupos de corridas e caminhadas, massagens, exames periódicos, campanhas de vacinação e palestras de prevenção, além de outros benefícios. ?As quick massages são disputadas na empresa. A lista para marcar horário está sempre cheia?, conta a coordenadora de marketing e comunicação da Agfa para a América Latina, Daniela Galo. ?É uma das coisas que mais gosto dentre todos os benefícios?.
Além das massagens, Daniela participa da ginástica laboral e corre, com a orientação de um personal trainer, duas vezes por semana. ?Temos que nos mexer, não dá para viver em um mundo sedentário. O sedentarismo traz muitas doenças?, diz. Há um ano praticando a corrida, a colaboradora da Agfa revela que tem conseguido manter o peso, ganhou flexibilidade e um ótimo condicionamento físico. E melhor ainda, mais disposição para trabalhar. ?O exercício elimina o estresse do dia a dia e gera muito mais disposição?.
Um dos resultados obtidos com a implantação do programa de saúde da Agfa foi que há anos a empresa não tem mais registrado entre os colaboradores casos de lesão do esforço repetitivo (LER), uma das principais doenças responsáveis pelo afastamento de funcionários nas empresas. ?A gente tem um investimento grande com o PASC, em contrapartida temos uma baixa sinistralidade no nosso plano de saúde, o que nos permite uma melhor negociação na hora de fechar novos contratos?, revela a diretora de RH da empresa.
Todos os 430 trabalhadores da Agfa das filiais de São Paulo, Suzano e Recife são atendidos pelo programa de saúde do colaborador. Mas a empresa respeita o livre-arbítrio dos funcionários, que têm a escolha de se engajar ou não nas atividades oferecidas. A ginástica laboral, que é realizada durante 15 minutos, três vezes por semana, tem uma média de 1.250 participações por mês.
Outra empresa do ramo de saúde, a Roche também tem feito um grande investimento em programas de bem-estar para os funcionários. Assim como na Agfa, promove grupos de corrida, ginástica laboral, aulas de pilates e ioga. Na unidade de São Paulo, os colaboradores podem fazer drenagem linfática e no Rio de Janeiro há uma academia de ginástica e atendimento nutricional. A Roche também promove palestras e campanhas de promoção à saúde. Uma novidade recente é a modernização do restaurante da empresa, com um cardápio mais variado e opções de refeições balanceadas e saudáveis, inclusive pratos light. ?Há muito tempo se sabe que o fator humano é decisivo para a sustentabilidade das empresas modernas?, analisa o presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, Alberto Ogata. ?A performance dos profissionais depende muito da sua energia, motivação, saúde e comprometimento?.
Ainda segundo o especialista, as doenças osteomusculares, os problemas emocionais e mentais e as afecções cardiovasculares são os mais frequentes motivos de afastamento do trabalho no Brasil (leia ainda quais são as demais causas de absenteísmo no mundo na página ao lado). ?Um trabalhador com níveis baixos de saúde e bem-estar falta mais ao trabalho, comete mais erros, é menos motivado e comprometido e gasta mais para o sistema de saúde?, diz Ogata.
Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que os quatro principais fatores que geram doenças crônicas são alimentação inadequada, tabagismo, uso abusivo do álcool e o sedentarismo. Perante esse cenário, as empresas de saúde parecem ter focado no alvo certo ao oferecer a seus colaboradores programas que estimulem as atividades físicas e uma vida mais comprometida com o bem-estar e a qualidade. ?Se a gente atende empresas na área de saúde, a gente também tem que pensar na saúde dos nossos colaboradores?, diz Solange Murakami, diretora de RH da Agfa HealthCare.
Custos indiretos da saúde
O investimento em programas de prevenção da saúde reflete uma necessidade das empresas em reduzir custos que nem sempre aparecem claramente nos gastos. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria internacional Mercer, ausências não previstas provocam uma perda de produtividade 40% maior que as ausências previstas. Estima-se que no Brasil os custos indiretos das empresas na área de saúde cheguem a R$15 milhões. Eles são gerados por fatores como o afastamento / absenteísmo, perda de produtividade estimada (fábrica), pcustos com processos contra as empresas e ainda provisionamentos ou reservas financeiras.
Outro agravante nos custos das empresas é a chamada inflação médica. ?Costumamos dizer que geralmente ela é o dobro da inflação econômica?, afirma a especialista em gestão Ana Paula Pinto. ?E essa inflação acaba refletindo no orçamento das empresas e esses custos vão crescer cada vez mais nos próximos anos?, alerta.