Para muitos segmentos industriais, o primeiro ano de gestão de um novo governo significa desaceleração nos negócios envolvendo o setor público. No setor de equipamentos cirúrgicos, a história não foi diferente. Com uma grande base de hospitais públicos como cliente, essa indústria viu a participação das licitações públicas no faturamento global despencar em 2011, ano de chegada ao Planalto da presidente Dilma Rousseff.

O baixo número de licitações que foram abertas no ano passado levou os players desse mercado a buscarem saídas para manter seus negócios. Vencedora da categoria de equipamentos cirúrgicos no Prêmio Top Hospitalar 2011, a multinacional alemã Dräger preferiu modificar um pouco o foco de atuação, o que garantiu crescimento nos negócios voltados para a área de saúde ante resultado obtido no ano anterior.
?Em 2011, as licitações não tiveram foco muito grande em nossa estratégia. Por conta das especificações técnicas, não entramos em qualquer uma. Optamos por participar dos processos que tínhamos mais chances de obter sucesso?, conta a gerente de marketing de produtos da companhia, Kátia Nagaoka.
De acordo com a executiva, a empresa, que possui uma linha importada de estações de anestesia, está mais atenta às oportunidades de negócio junto aos clientes que exijam equipamentos de alto valor agregado tecnológico. No ano passado, ela viu os pedidos por esse tipo de produto crescerem surpreendentemente. ?Historicamente, a grande demanda são pelos equipamentos com custo mais acessível, apesar de o ano passado ter sido excepcional nesse aspecto. Tivemos vendas significativas dos nossos produtos que são top de linha. Esta é uma nova tendência do mercado. Eles (clientes) estão valorizando mais a qualidade que o preço?, afirma Nagaoka, que assume que os equipamentos importados da Alemanha não atingem o mesmo patamar de preço dos produtos nacionais.
Também finalista da categoria, a Ortosintese, empresa 100% nacional, sentiu a retração dos negócios envolvendo o poder público. A divisão de equipamentos médicos estagnou em 2011 e apresentou os mesmos resultados que no ano anterior. ?Não esperávamos que a queda das licitações fosse tão brusca?, diz Eduardo Mondejar, gerente nacional de vendas da companhia. Segundo ele, em um ano normal 45% do faturamento do segmento de equipamentos é oriundo das vendas para os hospitais estatais. ?No ano passado, tivemos uma queda de 40% nessa fatia?, revela.
A solução da Ortosintese para recompor o faturamento foi aumentar as exportações e apostar na efervescência do mercado hospitalar privado. Após a obtenção do selo da União Europeia, que autoriza a empresa a exportar para os países do bloco, a expectativa é elevar a participação das exportações na receita dos atuais 7% para, no mínimo, 15%.
Em 2012, tanto a Dräger quanto a Ortosintese veem o mercado mais aquecido e com perspectivas de expansão, mas de forma gradual. ?Tivemos um primeiro trimestre meio atípico em termos de aparecimento de oportunidades, mas estamos otimistas?, afirma Nagaoka.
A multinacional Covidien que também figurou entra as finalistas desta categoria na premiação optou por não conceder entrevista devido à nova política de relações públicas da companhia.