A dor é uma sensação desagradável que possui níveis que variam entre leve e angustiante. Seja qual for a sua intensidade, é uma condição que não pode ser ignorada ou subtratada. Além de ser caracterizada pela sua duração como aguda* ou crônica*, a dor também pode ser classificada com base nos mecanismos dolorosos desencadeantes em dor nociceptiva ou neuropática.
De acordo com o ortopedista Douglas Kenji Narazaki, a dor nociceptiva é causada por uma lesão no tecido, mantendo o sistema nervoso central íntegro. Já a dor neuropática é mais persistente e ocorre quando nervos centrais ou periféricos não estão funcionando corretamente. “A dor neuropática é percebida sem que haja lesão. Essa é uma das características que faz dela mais complexa que a nociceptiva”, diz Narazaki. “A dor neuropática pode ter origem em um dano neurológico funcional ou anatômico”, explica.
Para ajudar na diferenciação entre a dor nociceptiva e a neuropática, a primeira ocorre quando há ativação dos nociceptores, que são receptores sensoriais que enviam estímulos que causam a percepção da dor em resposta a um estímulo potencial de dano.
Exemplos de dor nociceptiva:
Dor inflamatória
Dor traumática
Osteoartrite
Dor visceral
Dor pós-operatória
Já a dor neuropática é caracterizada pela disfunção no processamento da dor. “Ou seja, é como se fosse uma corrente elétrica que percorre seu caminho com intensidade acima do normal, provocando uma sobrecarga”, exemplifica Narazaki.
Exemplos de dor neuropática
– Neuropatia periférica diabética: mais comum, acomete metade dos pacientes que têm diabetes há mais de 25 anos e é marcada por dores exageradas ou perda da sensibilidade nas mãos e pés.
– Dor neuropática central: ocorre em pessoas que sofreram lesões no sistema nervoso central, devido a um acidente vascular cerebral, trauma no crânio ou na medula espinhal.
– Dor por deaferentação: acontece quando há uma lesão parcial no nervo, decorrente de fratura óssea ou amputação de algum membro.
– Neuralgia pós-herpética: mais comum em idosos, é uma consequência tardia da infecção pelo vírus herpes zoster (também conhecida como cobreiro e provocada por uma variante do vírus da catapora, formando feridas e bolhas na pele). O vírus, que fica alojado no organismo e dormente durante vários anos, volta à ativa quando a imunidade do paciente está comprometida.
O diagnóstico da dor neuropática, muitas vezes, não é tão simples, já que seus sintomas, geralmente na forma de queimação, choques, formigamento e pontadas, podem ser confundidos com outras doenças ou outros tipos de dor, como a mista, que apresenta origem tanto nociceptiva como neuropática. São exemplos de dor mista: cervicobraquialgias (dor cervical que se irradia pelo membro superior), lombociatalgias (dor lombar que se irradia para a nádega e face posterior da coxa, podendo estender-se até o pé), radiculopatia cervical, torácica e lombar (resultante de compressão ou irritação de um nervo que sai da coluna vertebral), dor oncológica (derivada de um câncer) e neuropatias compressivas (em razão da compressão de nervos periféricos).
Os diferentes tipos, causas e sintomas complicam e adiam o diagnóstico da dor neuropática, que, para agravar ainda mais, não é uma doença muito comum e nem tão conhecida. O tratamento também é outro desafio, devido à dificuldade de controlar a dor. Atualmente, as opções medicamentosas mais utilizadas são opióides, antidepressivos, antipsicóticos e neuromoduladores. Nesta classe, existe Lyrica (pregabalina), que atua diminuindo o excesso de estímulos de dor transmitidos por meio dos nervos para o cérebro e, além de amenizar a dor, melhora a qualidade do sono do paciente, reduzindo, adicionalmente, a ansiedade.
O ortopedista destaca a importância do paciente entender a dor como algo anormal e que não é obrigado conviver com ela. “A qualquer sintoma de dor persistente, seja causada por lesão ou não, é fundamental que o individuo procure um médico para fazer o diagnóstico correto e dar a melhor orientação para o controle ou abrandamento dos sinais dolorosos”, reforça Narazaki.
Referências:
* Dor aguda – se manifesta transitoriamente durante um período relativamente curto, de minutos a algumas semanas, associada a lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas. Normalmente desaparece quando a causa é corretamente diagnosticada e quando o tratamento recomendado pelo especialista é seguido pelo paciente.
* Dor crônica – tem duração prolongada, que pode se estender de vários meses a vários anos e que está quase sempre associada a um processo de doença crônica. Pode também ser consequência de uma lesão já previamente tratada. Exemplos: dor ocasionada pela artrite reumatoide.