Parece uma ironia do destino, mas no momento em que as empesas de tech marcam sua entrada no setor de Saúde Digital, seus usuários mais assíduos começam a manifestar sintomas de doenças digitais que não existiam até o século passado. E todas diretamente relacionadas ao uso da tecnologia desenvolvida por elas próprias. Sinal dos tempos.
Talvez tenha sido essa a razão pela qual o CEO da Salesforce disse, há cerca de um mês, que o Facebook era o cigarro da indústria tech. Na hora teve gente que entendeu aquilo apenas como uma observação sobre o vício que a rede social causa em alguns usuários. Mas a coisa, naturalmente, vai muito além.
Os problemas de saúde que a tecnologia tem causado na população mundial já acendeu alertas dentro e fora de empresas como Apple, Google e o próprio Facebook. Estudos científicos recentes já comprovaram que o excesso de utilização da rede social, por exemplo, tem causado entre os usuários problemas como depressão grave, isolamento crônico e FOMO (Fear Of Missing Out).
Outros estudos, igualmente preocupados com os efeitos das novas doenças digitais, comprovam que o simples fato de manter um smartphone por perto compromete a longo prazo a capacidade de concentração de um usuário. “É uma nova forma de dependência psicológica. Não há resposta fácil para isso” afirma um analista da renomada consultoria Gartner.
Já para o guru Brian Solis, da Altimeter, “os dispositivos móveis deixaram de ser um apêndice e viraram uma conexão física real para tudo o que julgamos relevante”. Imagine só o que pode acontecer após o boom dos vestíveis.
Não foi por acaso, portanto, que o Mark Zuckerberg declarou recentemente, perante uma corte em Bruxelas, que está preocupado que o uso da tecnologia pelas pessoas seja “boa para seu bem-estar”. Na prática muitas grandes empresas de tecnologia já estão pensando seriamente em soluções para esses novos problemas.
Prova disso é que no início de maio o Google lançou o Digital Wellbeing Initiative, um conjunto de ações que visa ajudar os usuários de Android a controlar melhor o tempo que gastam na internet.
Para quem sempre buscou formas de aumentar o tempo de permanência de seus usuários na rede, não deixa de ser surpreendente. Mas quando há apenas dez anos se falava a palavra Saúde Digital, aquilo também soava surpreendente. E hoje a expressão já faz parte do glossário dos mais ortodoxos.
Considerando os estudos em andamento, quem sabe com a doença digital não vá ocorrer o mesmo?