O Ebola foi um grande alarde para o mundo, mostrando o quanto estamos despreparados para situações de crise e epidemias, mas também podemos considerar como uma oportunidade de aprendizado, evitando que situações como esta ocorram em tais proporções e letalidade.

Dois pontos discutidos foram a demora do diagnóstico e a inexistência de uma vacina ou medicamento que pudesse resolver o problema. Uma boa notícia temos agora: o diagnóstico do Ebola pode ser realizado em uma hora e, para entendermos mais sobre o produto, fizemos uma entrevista com o diretor da bioMérieux Brasil  Pedro Hugo Di Rocco. 

Eles criaram um sistema para a realização de testes moleculares que acelera o processo e permite que o diagnóstico seja feito o mais precoce possível.

Segue a entrevista na íntegra:

1) Conte-nos um pouco sobre a nova tecnologia e que benefícios ela pode trazer para o sistema de saúde?

O FilmArray é um sistema que simplifica os testes moleculares desde a preparação de diferentes tipos de amostras (sangue ou urina) até a análise automática dos resultados e é capaz, em apenas uma hora, de detectar microrganismos por meio de painéis. Os painéis atualmente disponíveis são: Painel de Sepse (infecção generalizada que pode levar à morte) que detecta 24 microrganismos – fungos e bactérias, além de mecanismos de resistência a antibióticos como, por exemplo, a superbactéria presente em hospitais; Painel de Gastroenterites (inflamação aguda que compromete os órgãos do sistema gastrointestinal e que são responsáveis por grande número de internações em hospitais e, dependendo da gravidade, podem levar à morte), que detecta 22 microrganismos, entre eles vírus, parasitas e bactérias como a Salmonella; Painel Respiratório, que detecta 20 microrganismos, entre eles bactérias e vírus como o H1N1 (responsável pela gripe suína); e o Painel do EBOLA.

O investimento em sistemas como o FilmArray compensa na economia gerada para hospitais, tanto na diminuição de tempo de internação, quanto no uso indevido de antibióticos e na decisão de iniciar ou não tratamentos específicos. O diagnóstico rápido e preciso é de extrema importância para o tratamento correto e oportuno.

Reconhecemos que a expectativa de vendas do teste de Ebola é muito baixa, porém o país precisa se preparar para uma situação de emergência – principalmente nos centros de referência do Brasil frente a uma suspeita de um caso de Ebola, tendo em vista a vantagem de ter o resultado em uma hora.

2) Como será a distribuição deste teste ao redor do mundo? Que países receberão a tecnologia?

Após a aquisição da empresa BioFire, que desenvolveu o produto, o Sistema FilmArray passou a ser distribuído pela bioMérieux e estará disponível nos 150 países onde a companhia atua no mundo.

3) Em que passo está a aceitação deste produto pela Anvisa?

A solicitação de registro para o equipamento já foi protocolado na ANVISA em dezembro de 2014, mas não temos previsão da publicação do registro. O painel de Ebola não é passível de registro por ser RUO (Research Use Only – reagente destinado somente para pesquisa e não para diagnóstico in vitro) e, por isso, não foi submetido. Ele foi aprovado pelo FDA nos Estados Unidos como emergencial, sendo utilizado atualmente em mais de 300 hospitais naquele país e, teoricamente, a ANVISA pode fazer o mesmo, em um caso extremo. Os demais painéis, como o respiratório, por exemplo, além do equipamento, são passíveis de registro, e já foram submetidos na ANVISA, estando em fase de análise.

4) Quanto custará e como será a distribuição nacional do produto? Qual a expectativa de importação/comercialização do sistema no Brasil?

A expectativa é que, quando aprovado, o equipamento esteja disponível no mercado brasileiro pelo valor aproximado de US$ 100 mil (cerca de R$ 250 mil) e que cada painel custe em torno de US$ 200 (cerca de R$ 500).