Nesta segunda-feira, 7 de abril, comemoramos o Dia Mundial da Saúde. Mais do que mera formalidade no calendário internacional, a data oferece uma oportunidade preciosa para colocar a saúde no centro das discussões e avaliarmos, com a contribuição dos mais distintos players – de especialistas a pacientes, gestores a fornecedores – o que pode ser aprimorado para que, de fato, tenhamos coletivamente o que celebrar.

Entre os avanços projetados, por exemplo, está a crescente utilização da engenharia tecidual, da terapia celular e da substituição de órgãos, o que traz uma nova luz ao tratamento da maioria das doenças com as quais convivemos. Um problema, no entanto, é imune às novas tecnologias: o trauma. Contra os acidentes, a prevenção permanece sendo o melhor remédio.

Neste sentido, no Japão as crianças são preparadas para atravessar as ruas com as mãos erguidas e sempre na faixa de pedestres. Nos Estados Unidos, na Austrália e em vários países da Europa, além das cadeirinhas nos veículos, é obrigatório o uso de cerca em piscinas e de termostatos em aquecedores domésticos, para limitar a elevação da temperatura da água.

No Brasil, nos últimos anos, avançamos justamente nos pontos críticos, se considerarmos que as principais causas de traumas em crianças são os acidentes automobilísticos e as queimaduras. Além da venda de andadores ter sido proibida, podemos comemorar a regulamentação das cadeirinhas pelo Inmetro e, certamente, a medida mais impactante, a proibição da venda do álcool líquido.

Como integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Queimaduras, confesso o quanto esta vitória foi difícil. Nem mesmo a redução de 60% nos casos de queimaduras provocadas pelo manuseio indevido do álcool líquido, contabilizada durante a vigência da resolução RDC 46 da Anvisa em 2002, foi suficiente para convencer nossos legisladores. Foi preciso uma década de trabalho, pressão e mobilização para que o Brasil tenha chances de perder a liderança no ranking de acidentes com esse inflamável, agente casual de quase 20% das queimaduras.

Os dados são ainda mais dramáticos se pensarmos que 1 milhão de pessoas são vítimas de queimaduras no Brasil a cada ano, e que 2/3 deste total são crianças. Os acidentes, quase sempre, ocorrem no próprio ambiente doméstico, na cozinha e no quintal; geralmente com um responsável por perto, porém desatento aos riscos, o que só confirma a necessidade de criarmos, reiteradamente, medidas de prevenção e campanhas de alerta. Afinal, o descuido dura um segundo, mas as cicatrizes, toda a vida.

Por Maurício Pereima, cirurgião pediatra, Editor da Revista Brasileira de Queimaduras e diretor da Clínica Cepelli.