O futuro da saúde pode ser projetado de algumas maneiras e esperamos que tenhamos inovação em saúde para atender as nossas necessidades de um acesso mais rápido, barato e poderoso. Considerando estas três características, somos levados a pensar em acesso, qualidade e custo de tudo que desenvolvemos no setor. Se pensarmos no acesso, cerca de 1.25 bilhões de pessoas possuem acesso restrito ou nenhum acesso a saúde. Ainda sobre o acesso e sobre a qualidade do serviço, cerca de 50 milhões de pessoas morrem por doenças passíveis de serem prevenidas todos os anos. E sobre qualidade e custo, 80% de todos os gastos com saúde são voltados para doenças crônicas e preveníveis.Se estes números podem dizer algo, é que estamos fazendo algumas coisas muito erradas.

Fomos visitar a Singularity University com o grupo do Brazilian Healthcare Trek: Mission Silicon Valley e quem nos recebeu foi Daniel Kraft, médico, cientista e empreendedor. Em um dos vídeos da Alger, Daniel dá sua impressão de como será a medicina no futuro. Aproveito este texto, então, para compartilhar minha reflexões ao longo do relato do Dr. Daniel Kraft. O vídeo dele pode ser visto na íntegra ao final deste post.

Um dos pensamentos de Daniel Kraft é de que o que praticamos hoje não seja Healthcare e sim Sickcare. Focamos muito na doença – vide gastos com doenças já adquiridas – em vez de promover a saúde.

Dentre as doenças que podemos prevenir, estão condições como pressão alta, diabetes, doença de Alzheimer e muitas outras que, claro, sem contar com fatores alheios ao nosso comportamento e meio ambiente, podemos ter hábitos muito mais saudáveis que nos levam a resultados positivos no futuro.

Focamos 80% dos nossos recursos de saúde em pacientes já doentes, o que significa que, no modelo de fatores que influenciam a saúde do paciente, o atendimento médico equivale a somente 10%, enquanto a genética corresponde a 30%, o comportamento a 40% e o ambiente a 20%.

Focar 80% dos gastos em 10% dos fatores mostra a desproporção financeira que damos aos fatores de saúde, em um modelo criado para tratar doenças já adquiridas e não para tornar o paciente mais saudável.

Para melhorar o cuidado à saúde, não podemos simplesmente entender a doença, em geral, mas devemos aprender, com cada um dos portadores, como a doença se comporta, quais as mutações existentes, que tratamentos foram utilizados e os efeitos dos mesmos.

Na visão de Daniel Kraft, os medicamentos do futuro virão com seu nome impresso na cápsula, para mostrar o alto nível de personalização daquele material. O conteúdo será balanceado de acordo com as necessidades físicas, genéticas, emocionais e patológicas do indivíduo, trazendo o melhor tratamento possível para ele.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a saúde pode ser definida como “o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade”. Este conceito está intrinsicamente relacionado à qualidade de vida da população, sendo um resultado de um processo de construção social, com interação entre os bens e serviços adquiridos/realizados pelo indivíduo.

Esta personalização futura da medicina deve ser construída tanto coletiva quanto individualmente, desde a criação de políticas públicas aos hábitos diários de cada pessoa, inclusive em diferentes contextos e regiões.

Um dos exemplos de causa mortes evitáveis é o tabagismo, responsável por 200.000 mortes por ano no Brasil, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (dados de 2002). O tabagismo está classificado na CID10 e está sendo responsável por aproximadamente cinco milhões de mortes ao ano.

A mudança de hábitos deste tipo pode diminuir milhões em custos e melhorar a qualidade de vida populacional.

Em 2064, segundo Daniel Kraft, quase todos os tipos de câncer letais que temos serão prevenidos antes que eles ocorram. Isto está ligado à personalização do tratamento médico integrado ao relacionamento sistema de saúde-indivíduo, que acompanha a pessoa desde antes do nascimento, sabendo suas condições genéticas (tendência do sequenciamento genético), seus hábitos de vida (saúde digital e wearable devices), ambiente (estudos populacionais e uso de big data para entendimento de macro-situações).

Esperamos que 2064 chegue com tudo isso!