Vou mais além: será que o formato do currículo, na maior parte dos casos, dá flexibilidade e tempo para que os graduandos de nosso país possam se envolver com atividades desse tipo?

Pelo que já pude vivenciar dentro de uma universidade, posso dizer que há sim possibilidades e oportunidades para quem tem interesse em seguir uma carreira empreendedora, mas, de fato,  dificuldades persistem (e haja disposição para superá-las). Quais seriam as principais? Para enriquecer o debate, conversei com Bruna Toffoli Affonso, acadêmica de Administração da FEA-Ribeirão Preto (USP) e presidente do Núcleo de Empreendedores da mesma instituição. Vamos aos pontos:

  • Foco no mercado de trabalho

    Em geral, as universidades brasileiras preparam seus alunos para seguirem o caminho relativamente previsível do mercado de trabalho. Pode até acontecer do aluno pensar que empreender não é uma opção de carreira na sua área. “Não há aulas de empreendedorismo em todos os cursos. Em geral, isso só ocorre em faculdades de negócios”, diz a acadêmica.

  • A questão cultural

    “Algumas pessoas são criadas de modo a pensarem em ter uma carreira tradicional, o que dificulta o desenvolvimento do pensamento que vai além dessas fronteiras. Isso é um grande obstáculo para a cultura empreendedora no meio acadêmico”, cita Bruna. A aluna da FEA-RP disse já ter ouvido certa vez de uma senhora que as pessoas cursam o ensino superior para estarem preparadas para prestar concursos. “A universidade é bem mais do que isso”, acrescentou.

  • Ensino conservador

    Dentro de algumas das mais importantes instituições de ensino do país persistem gestores e docentes adeptos dos métodos tradicionais de ensino, pautados em grande carga horária, rigidez curricular e pouca participação do aluno no processo de aprendizagem.  “Os métodos de aula continuam  os mesmos: o aluno anota e faz avaliações. São poucos os professores que variam no modo de dar aula e de promover o desenvolvimento dos alunos na prática”, diz Bruna.

  • Pouca internacionalização

    Embora tenhamos alguns bons exemplos no Brasil, grande parte das instituições ainda tem pouco intercâmbio de experiências de ensino/pesquisa com países inovadores (ex: Israel e Coréia do Sul), que muito tem a ensinar, entre outras coisas, sobre empreendedorismo.

Se existem obstáculos, também há soluções

Nenhuma das dificuldades citadas, infelizmente, podem ser solucionadas diretamente da noite para o dia. Reformas educacionais, curriculares e institucionais exigem, além de tempo, um planejamento responsável para que de fato sejam benéficas.

No entanto, o que pode ajudar nesse contexto? As atividades extracurriculares que, com certo esforço, conseguem espaço em meio à carga horária de aulas extensa das universidades. Um bom exemplo é a própria atuação do Núcleo de Empreendedores da FEA-RP. “Nós realizamos pelo menos um seminário por semestre, sendo os principais o Empreender e o Empreender Social, mostrando histórias de empreendedores de sucesso. Outros serviços que prestamos à sociedade são a elaboração de planos de negócios, análise da viabilidade e assistência na busca de financiamento”, conta Bruna. Isso sem falar nas empresas júniores, nas ligas e afins.

Além disso, é válido lembrar que a nova geração de brasileiros tem se mostrado mais interessada por empreender. Analisando pelo campus da USP-Ribeirão Preto, Bruna confirma que é cada vez mais frequente a procura de alunos de outros cursos (como Educação Física e Informática Biomédica) por disciplinas da FEA-RP que envolvam empreendedorismo. É diante desses fatos que é possível esperar um futuro próximo animador.

Sonhar com uma carreira estável e de certa forma previsível pode ser comodismo de alguns, mas não deixa de ser um desejo justo. No entanto, será que essas pessoas conhecem as opções fora da caixa? Ou melhor: será que sabem como optar por elas? A sociedade espera que as universidades possam ajudar a responder essas perguntas o quanto antes.

Falando sobre flexibilidade curricular nas universidades brasileiras, vale a leitura.