Ter a chance de ajudar a criar e integrar a maior rede de hospitais públicos do Brasil e conhecer as diferentes realidades, dificuldades e oportunidades entre trinta e uma delas foi a missão que Cristiano Cabral aceitou com gratidão. Chief Information Officer (CIO) da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o executivo

– natural de Governador Valadares (MG) – trabalha para gerar qualidade, economia, eficiência e melhoria em escala nos hospitais universitários (HUs) vinculados às universidades federais que aderiam ao Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf).

O que é a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)?

A Ebserh é uma empresa pública federal recém-criada que integra um conjunto de ações do governo

federal visando recuperar a excelência dos hospitais universitários (HUs) vinculados às universidades federais. Desde 2010, o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf) já buscava a melhoria destes hospitais.

Visando dar continuidade a esse processo de recuperação, a criação da Ebserh foi autorizada em 2011 por meio da Lei nº 12.550, como empresa pública vinculada ao Ministério da Educação (MEC), tendo como

principais pilares de atuação:

• a administração e a gestão hospitalar dos hospitais universitários

federais;

• o apoio ao ensino e à pesquisa no âmbito dos hospitais universitários

federais;

• e a prestação de serviços de atenção à saúde totalmente

gratuitos à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O modelo é por adesão, a Universidade opta por aderir ao modelo e assina um contrato atribuindo a gestão do Hospital à Ebserh, neste contrato é estabelecido um plano de ação e metas para melhoria geral do HU. O modelo garante a autonomia universitária, ou seja, a universidade é que decide sobre a adesão e contratação da Ebserh, bem como estabelece o conjunto de prioridades. Atualmente, dos 46 HUs Federais, temos 31 sob nossa gestão. As propostas e benefícios são inúmeros, assim como os desafios encontrados, uma vez que cada HU possui características próprias: físicas, regionais, pessoal, modelo de gestão, etc.

Qual o papel da TI na estratégia da Ebserh? Quais os principais projetos em andamento?

Não somente a TI, mas a Gestão por Processos tem papel fundamental na estratégia da empresa, tão

estratégico que existe uma Diretoria apenas para esta finalidade.

Nosso principal desafio no início era dotar os HUs de um sistema de gestão assistencial Padronizado e interligado nacionalmente. O Sistema de Informações Hospitalares (HIS) AGHU – Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários é um dos pilares de atuação da Ebserh na modernização dos hospitais.

Seu desenvolvimento iniciou em 2009 no MEC em parceria com o Hospital de Clinicas de Porto Alegre (HCPA) e tem o objetivo de padronizar práticas assistenciais e administrativas em todos os hospitais universitários federais da rede.

Por que vocês utilizam containers como data centers?

Para comportar os servidores locais de forma a permitir a operação ininterrupta das aplicações assistenciais de caráter crítico. Foi definido modelo de datacenter modular, através de container data center (CDC), para permitir rápida implantação, com solução não intrusiva, de alta durabilidade, com escalabilidade e tolerante a desastre.

Esta solução de centro de dados conta com ambiente seguro, sistema antiincêndio, a prova d’água, adequação elétrica, grupo motor gerador, circuito fechado de TV para monitoramento, sistema de climatização de precisão, cabeamento, rede estruturada e telemetria.

Como vocês acompanham os 31 Hospitais Universitários?

Para garantir o funcionamento e operação adequada dos equipamentos, processos e sistemas, foi implantado um Núcleo de Operações e Controle (NOC). O NOC é um ambiente de monitoramento ativo 24h/7dias com 12 posições de trabalho, localizado na sede da Ebserh, que permite o monitoramento dos indicadores mais importantes, além de indicadores para sustentação de equipamentos, engenharia clínica, ativos de rede e sistemas de informação.

O objetivo principal do NOC é manter e melhorar a disponibilidade e qualidade dos serviços prestados, permitindo uma ação ou tomada de decisão antes do problema se tornar mais crítico, atuando de forma preventiva e proativa. Com a disponibilização do Painel de Indicadores no NOC, a equipe passou a monitorar os números hospitalares e informar os responsáveis em caso de desvios da curva padrão.

Como é o painel de gestão de indicadores hospitalares? De que maneira vocês visualizam os indicadores de todos os hospitais?

O sistema consolida dados de internação, ambulatório e prontuários identificados referente a 30 HUF’s em tempo real. Os usuários podem pesquisar por dados de todos os hospitais consolidados (Brasil), por região, por hospital e o número de pacientes.

Para cada hospital o usuário gestor pode verificar dados por especialidade, unidade funcional, profissional, chegando na relação de pacientes atendidos contendo: nome, telefone, idade, sexo, tempo de internação ou dias de espera para consulta, além dos dados dos médicos e profissionais envolvidos no procedimento.

Quais são os maiores desafios a serem enfrentados?

Estamos criando a maior rede de hospitais públicos universitários com atendimento à população de forma gratuita, 100% pelo SUS, com presença em todos os estados do Brasil. Em sua maioria, não estamos

construindo novos hospitais, apenas assumindo situações preexistentes e efetuando adequações e melhorias, o que torna a tarefa exponencialmente mais complexa.

Um hospital não pode parar para ser reconstruído, vidas dependem da continuidade dos serviços. É preciso que tudo seja feito com o mínimo de interrupções, como reconstruir um estádio com a partida em andamento sem incomodar a torcida. Encontramos em cada hospital situações bem particulares, momentos e níveis de maturidade diferentes.

Portanto o maior desafio é nivelar a maturidade de gestão dos HUs e implantar um modelo construído de forma colaborativa minimamente padronizado, documentado e conhecido para toda a rede.

Quais mudanças são implementadas pela TI quando um hospital passa a integrar a Ebserh?

A mudança mais impactante e de curto prazo é o aporte de infraestrutura, uma vez que efetuamos projetos padronizados em escala para todo Brasil. Algumas coisas atendemos de imediato. No curto-médio prazo a implantação de sistemas e continuamente, ao meu ver, de médio- longo prazo o aporte da gestão baseada em boas práticas e processos padronizados de forma contínua e sempre aberta a melhorias.

Na sua visão, como será o hospital do futuro?

Acredito no crescimento da telessaúde, telepresença, consultoria remota e segunda opinião entre profissionais, hospitais, unidades básicas e pacientes. Isso ajudará muito a medicina preventiva (atenção primária), pois problemas de baixa complexidade poderão ser resolvidos com o uso da tecnologia da informação e comunicação sem a necessidade de encaminhamento para o hospital. Com isso, o hospital focará o seu atendimento em problemas mais complexos.

Os usuários/pacientes terão acesso a aplicativos instalados em seus dispositivos móveis que alertarão sobre consultas, procedimentos, cuidados, riscos e benefícios do seu modo de vida, de forma personalizada, de acordo com seu perfil de saúde, ajudando a prevenir doenças e até mesmo, se for o caso, monitorar os cuidados pré e pós operatórios. Espero vivenciar isso algum dia, mas sei que há um longo caminho pela frente.

Perfil de Cristiano Cabral

CristianoCabral

*Esta reportagem está na edição de outubro-novembro-dezembro da Saúde Business