2 milhões de Equipamentos – Cenário da Manutenção e Engenharia Clínica na Área da Saúde no Brasil !
Fonte: Geografia Econômica da Saúde no Brasil
Mesmo grande parcela dos profissionais que atuam no segmento da saúde não tem a dimensão do que envolve a infraestrutura dos serviços de saúde. Somente quem já trabalhou em um hospital, por exemplo, consegue avaliar a complexidade das estruturas de utilidades (água, energia, ar condicionado, gases), equipamentos parta diagnósticos (RX, TC, US …), equipamentos para procedimentos (microscópios, bisturis …), equipamentos para manutenção da vida (bombas, respiradores, berço aquecido …), e equipamentos de especialidades (oftalmológicos, odontológicos, audiométricos …).
E se engana quem pensa que gestão de equipamentos é importante apenas em hospitais:
· Nos pequenos serviços a dependência do serviço em relação aos equipamentos é ainda maior;
· É só imaginar um defeito no equipamento que o dentista utiliza no consultório … ou de um equipamento de ultrassom em uma clínica de obstetrícia !
Este universo contabilizado no CNES em 2019 foi:
· 2.182.689 equipamentos;
· 46 profissões (CBOs) totalizando 45.491 profissionais das áreas de engenharia, manutenção, engenharia clínica.
E estes números possuem vieses – a quantidade é maior.
(*) Todos os gráficos e dados são partes integrantes do Estudo Geografia Econômica da Saúde no Brasil – Edição 2020.
Ao analisar a quantidade de profissionais, por exemplo, podemos apontar alguns vieses que comprovam que os números do CNES são menores que os reais.
O gráfico ilustra a distribuição % dos profissionais nas UFs do Brasil:
· A variação entre as UFs de menor e maior indicadores é de 262 vezes;
· Esta variação não é compatível nem com a proporção da população, nem com a da quantidade de equipamentos, nem com a da quantidade de estabelecimentos;
· É evidente que em algumas UFs o cadastro do CNES é subnotificado;
· O serviço se sente mais obrigado a manter o cadastro atualizado quanto mais ele depende do repasse do SUS ou de operadoras de planos de saúde. Se na localidade a aferição para habilitação for difícil de ser realizada, o cadastro naturalmente fica desatualizado. E no caso de profissionais, se não são profissionais que se associam aos procedimentos, não existe motivação para isso;
· Se o serviço atende somente saúde suplementar não regulada, a motivação é menor ainda.
Os requisitos de habilitação (que resultam no dinheiro que entra no serviço) são os maiores motivadores para atualização do cadastro, então quando tratamos dos profissionais assistenciais o viés é muito menor … mas quando tratamos de profissionais da retaguarda o viés é enorme.
Mesmo com vieses, a evolução do volume de equipamentos é constante no segmento demonstrando que, mesmo com toda a dificuldade que os modelos de remuneração impõem ao segmento, que caminham cada vez mais para dificultar a inovação, saúde vai se modernizando ano a ano:
· O gráfico demonstra que o incremento de equipamentos é enorme – entre 2018 e 2019 foram nada menos que 160.200 novos equipamentos;
· É impossível acreditar que esta progressão dos últimos anos se mantenha com a mesma proporção – se isso ocorresse, em cerca de 10 anos teríamos o dobro do parque instalado em 2017: o sonho de consumo de qualquer gestor da saúde, mas o inferno astral de qualquer provedor de recursos (SUS, Operadora de Planos de Saúde, etc.)
O gráfico demonstra a evolução % por Grupo de Equipamentos em apenas 2 anos (entre 2017 e 2019):
· Exceto equipamentos para hemocentros, que estão cada vez mais poderosos em termos de processamento de hemocomponentes em escala (a tendência da tecnologia é a troca de mais equipamentos de menor capacidade, por menos equipamentos de maior capacidade), todos os outros tipos evoluíram mais de 11 % em apenas 2 anos;
· Os equipamentos de especialidades (áudio, fono, hemodiálise …) evoluíram 18,8 % no período, demonstrando que na ponta (os consultórios) estão cada vez mais especializados, permitindo diagnósticos e tratamentos cada vez mais seguros.
Para leigos quando se fala em equipamentos da área da saúde sempre vem à mente os equipamentos para diagnósticos, mas a realidade é muito diferente:
· Os equipamentos para procedimentos e manutenção da vida são os de maior volume. Monitores, bombas e outros estão presentes em praticamente todos os serviços de saúde;
· Em seguida temos os de odontologia. Por uma questão histórica e de dinâmica assistencial cuidar dos dentes ficou apartado de cuidar das outras partes do corpo – a dinâmica está muito relacionada aos equipamentos utilizados. O consultório de odontologia é bem diferente da maioria dos consultórios das outras especialidades médicas … da maioria, mas não de todas !
E este gráfico demonstra que a evolução entre os grupos tem o mesmo perfil:
· A distribuição % em cada ano não varia significativamente em nenhum deles;
· Todos os grupos crescem, mas mantém uma relação proporcionalmente muito parecida ano após ano.
Por conta do protagonismo que os respiradores assumiram durante a crise COVID-19, com aumento no número de equipamentos do parque existente, não foi foco o estrago que o vírus impôs à engenharia clínica e as outras áreas de gestão de equipamentos, e dos fornecedores de insumos e serviços para equipamentos na área da saúde:
· Um estrago enorme … sem precedentes;
· Nos serviços de saúde de menor porte o estrago será menor … não é pequeno, mas eles são minoria no segmento;
· A maioria absoluta são consultórios e clínicas com sustentabilidade completamente afetadas pela crise … e desta maioria, uma grande parcela que depende tanto do profissional como do equipamento para subsistir: odontológicos, oftalmológicos, especializados em cardiologia, audiologia …
Um cenário jamais experimentado pela área da saúde também para profissionais da retaguarda (engenheiros, técnicos, auxiliares técnicos), como para fornecedores de insumos para equipamentos !
Nunca foi tão importante para pequenas e médias empresas da saúde o controle de custos e o conhecimento adequado dos sistemas de financiamento da saúde !