Cirurgiões suspendem cirurgias eletivas e consultas ambulatórias; protocolo de atendimento ficou mais rígido

O aumento de casos de Covid-19 em nosso país também alterou a rotina de atendimento de equipes que trabalham com cirurgia de urgência e emergência cirúrgica. O Grupo Surgical, responsável pelas cirurgias de urgência e emergência em oito hospitais da região de Campinas, suspendeu os procedimentos eletivos e adotou novos protocolos para realizar as cirurgias em pacientes contaminados ou com suspeita de coronavírus.

“Neste momento, precisamos destinar todos os nossos esforços, materiais e humanos, para a pandemia. Com a suspensão dos procedimentos eletivos, além de evitarmos grande circulação de pacientes e, consequentemente, do vírus, também liberamos recursos, como leitos e exames, para os pacientes que podem vir a desenvolver formas mais graves do Covid-19”, explica o cirurgião de urgência, emergência e trauma Bruno Pereira, que também é CEO e fundador do grupo.

Pereira ressalta que, com a suspensão das cirurgias eletivas e das consultas ambulatoriais, consequentemente, também há uma redução do número de pedidos de exames. “Isso abre espaço para os laboratórios fazerem exames que são prioritários neste momento, como os dos pacientes com suspeita de Covid-19”, destaca

De acordo com ele, os pacientes críticos continuam sendo atendidos e as cirurgias de urgência e emergência, também estão mantidas. “Este tipo de atendimento não pode parar porque iremos gerar outros problemas, mas adotamos novos protocolos, a fim de garantir a segurança dos profissionais de saúde e dos pacientes”, afirma.

Entre as mudanças no atendimento cirúrgico de urgência e emergência, estão uma entrevista prévia para saber se o paciente tem algum sintoma gripal ou se teve contato com alguém contaminado; solicitação de tomografia de tórax para avaliar a imagem do pulmão, caso o paciente apresente algum fator de risco; utilização dos  EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual) recomendados para atendimento de pacientes com a suspeita do vírus.

“Depois de tudo isso, avaliamos os riscos da cirurgia e decidimos se é o caso ao não de operar o paciente. Neste momento, precisamos ter uma preocupação redobrada tanto com o paciente quanto com a equipe médica, afinal, se tivermos um pico da doença, como está previsto, vamos precisar de todo mundo para atender os infectados”, ressalta. “Diariamente, conversamos com toda a equipe do Grupo Surgical para saber se alguém apresenta qualquer sintoma gripal. Se isso ocorrer, o médico será afastado imediatamente”, garante.

No ano passado, o Grupo Surgical fez 2.658 cirurgias, sendo 1.044 eletivas. A equipe também realizou 14.289 consultas ambulatoriais. “As consultas ambulatoriais também estão sendo reagendadas. Mantivemos apenas as pós-cirúrgicas”, comenta.

Em contato com médicos que estão enfrentando a pandemia em outros países, Pereira explica que, de acordo com a experiência deles, tentam minimizar os efeitos aqui no Brasil. “Nesta semana, tivemos uma reunião, via telemedicina, com médicos que estão na linha de frente na Itália, Noruega e Estados Unidos. A situação é muito preocupante. Nós percebemos que, aqui no Brasil, muita gente não está acreditando, acha que é besteira. Mas não é. Agora é momento de reclusão”, orienta.

Além da reclusão, o cirurgião lembra que é fundamental manter as mãos bem limpas, evitar levá-las à boca, olhos ou nariz, principalmente se não estiverem higienizadas, utilizar o protocolo respiratório, se proteger e proteger os outros.

Pereira conta que no período em que foi diretor do Comitê de Desastres da Sociedade Pan-Americana de Trauma, aprendeu a lidar com situações como a que estamos vivendo atualmente. “Foram três anos de muito aprendizado e vivência. Essa experiência, aliada a experiência que os colegas que estão vivendo a pandemia de perto compartilham conosco, com certeza nos ajuda a contribuir de forma mais efetiva e oferecer o melhor atendimento ao nosso paciente”, diz.