Conforme detectado no estudo Antes da TI, a Estratégia na Saúde, realizado pela IT Mídia em parceria com os consultores empresariais Claudio Giulliano e Sérgio Lozinsky, para grande parte das instituições brasileiras o hospital completamente informatizado, sem papel e conectado, pode estar longe da realidade. Relatos de CIOs de hospitais, contudo, mostram que já é possível ver iniciativas de sucesso e de destaque que começam a reverter esse quadro, servindo de exemplo para se multiplicarem ao redor do País.

O debate Mobilidade na Saúde, realizado durante o IT Forum+ 2013*, mostrou um desses casos. Trata-se do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), com uma exemplar rede sem fio na qual são conectados smartphones e tablets de médicos e enfermeiros para consultas, prontuários e situações de cada paciente. A rede também oferece novas possibilidades de terapias recreativas aos internados.

À frente da diretoria de TI do HCPA, Maria Luiza Malvezzi conta que a iniciativa partiu do próprio corpo médico do hospital. ?Os próprios médicos trouxeram seus smartphones e queriam usá-los no ambiente de trabalho. Hoje, todo mundo tem um aparelho e faz grande parte das atividades com ele?, conta Luiza.

A mobilidade entrou na pauta do HCPA em 2005, em fase de estudo, e o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) Móvel foi implantado em 2012, após o desenvolvimento de prontuário eletrônico em PDA?s, instalação de rede wireless e registro da administração da medicação na beira do leito com código de barras. O sistema permite consulta a diagnósticos, prescrição vigente, resultados e laudos de exames e evolução.

Além disso, também registra sinais vitais, monitoramento e evolução do paciente, seguindo os mesmos princípios éticos e legais já adotados no prontuário eletrônico. Para isso, é essencial o alinhamento estratégico e o trabalho convergente de todas as áreas internas em prol do bem do paciente com o uso da tecnologia. ?Nós [CIOs da saúde] não podemos nos colocar como super-heróis para resolver tudo dentro do hospital. É a direção estratégica que nos demanda. Se a gestão de vocês não estiver puxando isso, não é o CIO sozinho que vai mudar todo o cenário?, relata.

Realidade diferente é a vivida por Marlon Oliveira, da Rede D?Or São Luiz. Ele está implantando um sistema móvel na rede de hospitais, após se deparar com algumas dificuldades em outros projetos de TI. ?Tentamos implantar ultrabooks ao lado do leito e até que houve uma boa aceitação, mas não tínhamos a agilidade necessária. Sem contar pequenos detalhes, como a luz do notebook no quarto que gera desconforto para alguns pacientes?, relata.

A principal expectativa com o sistema móvel para smarphones e tablets é o ganho de agilidade, especialmente na direção do hospital que, aos poucos, será replicada nas unidades onde o sistema ainda não chegou. ?Faz parte de nosso plano estratégico porque vemos muito potencial nisso?, conta.

Barreiras
O CIO do Hospital São Camilo, Klaiton Simão, evidencia o pré-requisito de se ter certificação digital para que a mobilidade seja trabalhada com segurança. O ambiente hospitalar, contudo, se sente mais seguro com o papel. ?Sem ele, muitas vezes você não tem garantias?, pontua.

Para ele, a tecnologia deve evoluir para biometria, já usada por bancos, com o objetivo de aumentar a segurança nas operações móveis na saúde. ?Grandes iniciativas já vem acontecendo, e vejo um viés de esperança na evolução. Todas iniciativas do Ministério da Saúde e da Agência Nacional da Saúde (ANS), como o cartão nacional do SUS, centralizando e digitalizando informações, eram impensáveis quando entrei no ramo de saúde, há 15 anos?, exemplifica.

Na perspectiva de Simão, após a consolidação do padrão TISS (sigla para Troca de Informação de Saúde Suplementar, programa da ANS), a saúde brasileira terá mais perspectivas de colocar em prática diversos projetos de mobilidade em mais hospitais. ?Mais ou menos o que acontece com o Cnab na área bancária?, completa, fazendo referência ao Centro Nacional de Automação Bancária da Febraban.

Evolução
Projetos de mobilidade na saúde, quando vencem os obstáculos para desenvolvimento e implantação, mostram benefícios além da resposta ao corpo médico. No caso do HCPA, a rede acabou evoluindo para alguns sistemas de recreação terapêutica, visando a pacientes com internação de longo prazo. ?Não prevíamos isso, mas vimos que melhorou a qualidade e satisfez nossos pacientes. Então, mantivemos?, expõe Luiza.

Para manter essa vertente e evitar o contato de pacientes com sua equipe de TI, a executiva propôs o treinamento da equipe de terapia por um de seus funcionários. Assim, os próprios terapeutas podem auxiliar no suporte e seus profissionais não têm foco desviado. São coisas simples, como tirar pequenas dúvidas de conexão e sugerir conteúdos como filmes e jogos.

Mesmo consolidado, melhoria e evolução são contínuas. Uma das demandas, em estudo, é o acesso ao sistema em redes remotas ? hoje, isso só é possível quando o médico estiver dentro do hospital por razões de segurança. ?É um caminho sem volta. Por que limitar a mobilidade, se é algo que por definição deve ser acessível e sem fronteiras??, questiona Luiza.
Para Oliveira, da Rede D?Or, essa expansão é viável, com o incremento apenas em segurança da informação. ?A única preocupação é garantir os níveis de segurança, porque os dados serão sempre acessados?, explica. A possibilidade de dar conteúdo ao corpo médico fora do ambiente de trabalho expande o pré-atendimento, assim, o profissional pode chegar ao local já previamente informado sobre as condições de cada atendimento.

?O profissional de saúde tem que manter a percepção de que seu trabalho deve ter aderência ao paciente e à melhora de sua saúde?, resume Simão, do São Camilo. ?Tudo que gera resultados positivos deve ser fomentado?, apoia.

* Gabriela Stripoli é editora adjunta de TI Corporativa da IT Mídia
** O debate sobre mobilidade ocorreu durante o IT Forum +, entre os dias 14 a 18 de agosto, na Bahia