De acordo com o Instituto Nacional de Câncer – INCA, no Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). Dados do Ministério da Saúde apontam que aproximadamente três quartos dos casos no mundo de câncer de próstata ocorrem em homens com mais de 65 anos. Sendo que, no Brasil, essa é a quarta causa de morte por câncer e corresponde a 6% do total dos óbitos nessa faixa etária. Além da idade avançada, histórico familiar da doença, questões hormonais, determinados hábitos alimentares, como manter uma dieta rica em gorduras e pobre em verduras, vegetais e frutas, assim como o sedentarismo e o excesso de peso estão entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença.

Segundo especialistas, a escolha do tratamento adequado para o câncer de próstata depende do tamanho e da classificação do tumor (obtida através da biópsia), assim como da idade de cada paciente. Alguns tratamentos clássicos, geralmente os mais radicais, podem gerar efeitos secundários que estão entre os maiores medos dos homens, como a disfunção erétil e a incontinência urinária. Nesse cenário, surge como uma nova opção o HIFU (ultrassom com foco de alta frequência e intensidade, na sigla em inglês), um procedimento ainda pouco conhecido no Brasil, que usa ondas de ultrassom concentradas na próstata acometida por tumor, causando poucos efeitos colaterais em comparação aos métodos mais tradicionais.

No Brasil, o HIFU, também conhecido como tratamento focal, começou a ser utilizado em janeiro de 2011, em Curitiba, pelo médico uro-oncologista e presidente da Associação Latino Americana de Uro-Oncologia (Urola), Marcelo Bendhack, que já usou o HIFU, com resultados favoráveis, em 48 de seus pacientes. O tratamento via ultrassom focal é não invasivo, ou seja, não há incisão ou uso de radiação, por isso, os efeitos colaterais são menores, de acordo com Bendhack. Entre os pacientes tratados com o HIFU em seu departamento, houve incontinência urinária em apenas 2,4% e a redução da função sexual erétil (ou impotência) foi verificada em 26,2% dos pacientes. Em comparação, entre os homens que passam por cirurgia de retirada da próstata ou radioterapia, que são os tratamentos mais comuns, cerca de 40 a 70% sofrem de disfunção erétil e problemas para controlar a urina atingem de 5% a 35% dos doentes.

Bendhack explica que os pacientes submetidos ao HIFU responderam muito bem ao tratamento. “Todos se encontram em acompanhamento. A segurança dos resultados oncológicos se baseia nos controles, que são feitos através do exame físico, determinação do PSA (antígeno prostático específico), exames de imagem como ressonância e, em casos selecionados, com biópsia da região tratada (por punção). Fundamental é conquistar resultados oncológicos adequados.” Segundo o especialista, outro benefício do procedimento é a possibilidade de repetição da técnica e complementação com outras terapias, como radioterapia e, até mesmo, de cirurgia.

O HIFU pode ser aplicado de acordo com três conceitos: 1) em casos selecionados de doença primária (com doença restrita – dentro da próstata) e com aplicação em toda a próstata, 2) idem ao primeiro, porém com aplicação em parte da próstata, e 3) como forma de salvamento, nos casos de recidiva, sobretudo após um tratamento inicial com radioterapia externa e/ou braquiterapia. Bendhack alerta ainda que, nos casos em que a doença é de alto risco, seu departamento continua a indicar o tratamento clássico, conhecido como cirurgia radical da próstata.

Apesar do primeiro equipamento que viabiliza o HIFU ter chegado ao Brasil em 2011, em Curitiba, outros países já utilizam a técnica desde 1996. Deste modo, o HIFU de glândula completa não é mais considerado um tratamento experimental e sua eficácia está comprovada.

Sobre Dr. Marcelo Bendhack — Presidente da Associação Latino Americana de Uro-oncologia (UROLA); Em 2011, foi o pioneiro, no Brasil, no tratamento de câncer da próstata localizado com a tecnologia HIFU (Ultrassonografia focalizada de alta intensidade); Residência em Urologia e tese de doutorado na Universidade de Düsseldorf, Alemanha; Conferencista Internacional.