O mercado da tecnologia ?vestível? está explodindo, as capacidades do monitoramento remoto de pacientes estão mais avançadas do que nunca, e o número de aplicativos de saúde disponíveis para download atingiu recentemente os 100 mil, de acordo com o British Medical Journal. Como resultado, muitos afirmam que a revolução da saúde móvel (mHealth) está a caminho.
Já outros são céticos: um pedômetro [aparelho que mede os passos, distância percorrida e perda calórica do usuário] mudará a maneira que os americanos cuidam da saúde? E o que é ?mHealth?, afinal de contas?
A InformationWeek falou com cinco especialistas que irão se apresentaram na mHealth Summit, entre os dias 8 e 11 de dezembro, em Whashington, D.C., para discutir essa área de rápida expansão. Eles têm inúmeras definições para mHealth, mas baseados no mesmo conceito central: mHealth é a tecnologia móvel que coleta os dados de saúde e os transmite para um local designado.
No momento, muito do que é falado em mHealth envolve tecnologias de fitness e bem-estar, como o Fitbit ou aplicativos de corrida. O sucesso dessas tecnologias está abrindo caminho para os produtos móveis clínicos.
?Tecnologias de fitness e bem-estar (wellness) móveis criaram um modelo de como tudo pode funcionar na saúde?, afirmou Rick Valencia, vice-presidente sênior e gerente geral da Qualcomm Life, uma empresa de wireless health.
Fazer funcionar significa descobrir uma forma de motivar as pessoas com doenças crônicas a se engajarem com sua saúde. É mais fácil falar do que fazer.
?Entusiastas de fitness registram suas corridas, medem sua gordura corporal e tiram fotos de suas comidas?, explicou Corey Ackerman, presidente da Happtique, uma plataforma de distribuição de aplicativos de saúde. ?Essas pessoas estão prontas para o engajamento. O truque está em engajar as pessoas prestes a se tornarem doentes crônicos, prevenirem essas doenças.?
Conseguir a utilização desses pacientes que podem se tornar doentes significa desenvolver um abordagem correta para o mHealth. Harry Greenspun, médico e conselheiro sênior para a transformação e tecnologia de saúde no Deloitte Center for Health Solutions, chama essa abordagem de ?os quatro cavaleiros do apocalipse do mHealth?. Para o sucesso é preciso a correta demografia, infraestrutura, dinâmica da doença e estrutura de reembolso.
Para atingir a demografia correta, é preciso entender os tipos de pacientes e os detalhes de suas necessidades.
?Uma coisa é conseguir chamar a atenção de adolescentes a respeito de asma?, Greenspun disse. ?Outra é tratar hipertensão em adultos. Hipertensão não é divertida. Não vemos pessoas trocando informações acerca de como estava sua pressão sanguínea no dia anterior. É o tipo de condição e população de pacientes que é propício ao que a mobilidade traz de bom.?
A infraestrutura geralmente é desprezada, afirmou Greenspun. Se você está desenvolvendo um aplicativo que precisa de conectividade contínua em um ambiente onde essa conectividade não existe, então não terá muito sucesso.
Ajustar o mHealth para um doença específica é tão importante quanto ajustá-lo para uma faixa etária.
?As comunidades de pacientes com câncer e asma têm muita interação social online. Mas para uma doença como gonorreia, não há muita presença. Há considerações de privacidade. Isso precisa ser levado em conta?, disse Greenspun.
Muitos dos modelos mHealth giram em torno de pressão e competição social. Tome seu remédio, ou seu médico será avisado; corra essas 5 milhas, ou seus amigos verão que não foi capaz.
?Em fitness, a competição social é motivadora?, disse Valencia. ?Mas pessoas com insuficiência cardíaca congestiva não estarão em um ambiente socialmente competitivo, medindo quão bem cuidam de sua condição. Eles buscam redes sociais para suporte, o que é tão importante quanto competição e pressão social. Para se engajar em uma rede social com pessoas da mesma idade e condição, lidando com os mesmos problemas, pode ter de grande valor.?
Central para o mHealth é o engajamento do paciente, o que muitas vezes é encontrado por meio de componentes sociais para aplicativos e tecnologia móvel.
?Se você construir, eles não virão necessariamente. O aspecto social é o mais apelativo para encorajar as pessoas a fazer coisas que necessariamente não fazem. É preciso uma comunidade, e a mHealth cria uma comunidade de outros participantes que podem estar envolvidos no atendimento do paciente. Não é mais apenas o provedor?, explicou Greespun.
Essa ênfase no paciente não é um acidente. Com a mudança no modelo de reembolso que penaliza as readmissões hospitalares, os médicos estão aumentando o foco no atendimento ao paciente fora do consultório ou hospital.
?Estamos começando a ver mudanças no modelo de reembolso e os pacientes estão sendo vistos como o fator mais importante nessa equação?, disse Ackerman. ?Médicos podem prescrever as medicações, mas seu o paciente não tomá-la, será readmitido no hospital. Essas readmissões são agora penalizadas. Há uma grande preocupação por parte do provedor em como fazer seu paciente reconhecer o fato de que é responsável por seu cuidado.?
Essa responsabilidade irá mudar de cuidado reativo para preventivo conforme as capacidades de análise mHealth melhorarem.
?No momento, a maioria das plataformas mHealth são reativas, onde um paciente vai além de uma fronteira e há a intervenção?, explicou Tony Titus, vice-presidente sênior de desenvolvimento de negócios da Numera, um empresa de dispositivos médicos. ?Quando tem que ser quando é possível monitorar o que acontece antes desse evento. Conforme os dispositivos e sensores se tornarem mais difundidos, levará o atendimento clínico à área mais preditiva.?
No futuro, os dados preditivos podem não ser apenas os dados estruturados coletados por aplicativos e dispositivos. Podem ser os dados coletados sobre como o paciente usa um dispositivo móvel.
?Há um foco em dados de saúde (health), mas muito é dependente de muitos outros fatores. É aonde você vai, o que você compra e quanto tempo fica com você. A mobilidade permite a coleta desse tipo de informação?, explicou Greenspun.
Isso é muito valioso em pacientes com problemas de saúde mental, por exemplo.
?Padrões que se desenvolvem podem ser sinais reais de mudanças do estado mental de saúde. Conforme um paciente fica mais deprimido, sua geodinâmica encolhe. Postam menos no Facebook. Conversam menos ao telefone. Há coisas interessantes que podem ser analisadas a respeito do uso dos dispositivos de uma pessoa que pode ser indicadoras de outros problemas?, falou Greenspun.
A grande questão a respeito do mHealth é o que fazer com todos os dados que os provedores agora têm acesso. Há dispositivos que rastreiam tudo, desde os batimentos cardíacos do paciente até os movimentos peristálticos, mas nem todos esses dados levam à informações importantes. De fato, a maioria não é importante.
?Os dados que estão disponíveis não são necessariamente valiosos por si só. Há a necessidade de aplicação de análise para observar os padrões. No momento, há pouca habilidade para ver como uma peça de informação é correlacionada e impacta outra?, disse Greenspun.
Tornar os dados acionáveis será a próxima vitória para a mHealth e ajudará em sua adoção pelos médicos.
?Há a aceitação universal de que há valor na coleta de dados. Onde é colocado e como é visualizado e usado pelos provedores é uma questão diferente?, explicou Ackerman.
Há também o problema de padronização. Por exemplo, o Fitbit e o Nike Fuel rastreiam os nível de atividade, mas os medem de maneira diferente.
?Essas diferenças são importantes. É muito cedo para saber exatamente como podem ser aproveitados, mas o desejo de coleta está presente?, disse Ackerman.
Outra questão a ser trabalhada é o modelo de negócio, que é complicado por causa da maneira que o sistema de saúde inteira funciona na América.
?O fato é que a mHealth funciona muito bem?, disse Valencia. ?A realidade é que hoje ainda é como qualquer outra indústria. É confuso e há muito ainda para ser ajustado.?
Descobrir como levar aplicativos móveis e tecnologias para o mercado em um período de tempo razoável será peça chave no quebra-cabeça da mHealth. No momento, pode levar de cinco a dez anos para as tecnologias móveis ou aplicativos chegarem ao mercado, dependendo das circunstâncias, disse Shivani Goyal, uma doutorando em engenharia biomédica na Universidade de Toronto. Goyal ajudou a desenvolver um aplicativo no Center for Global eHealth Innovation em Toronto.
?A questão é se o modelo de teste clínico é apropriado?, ela disse. ?Testes clínicos são tipicamente desenvolvidos para produtos farmacêuticos e não para aplicativos mHealth. Leva tanto tempo para conduzir os estudos que, quando os resultados chegam, a tecnologia já evoluiu.?
Uma alternativa poderia ser criar um estudo de coorte retrospectivo. Isso também ajudaria a generalizar os resultados porque os participantes não seriam observados ativamente, Goyal afirmou.
A maior questão com a saúde móvel (mobile health) é o engajamento.
?É fácil engajar pessoas no local em que estão e elas estão em seus telefones?, observou Ackerman. ?É por isso que todos estão em busca desse espaço?.
* por Alex Kane Rudansky, da InformationWeek Healthcare USA
** tradução de Alba Milena, especial para a InformationWeek Brasil