Se você está pensando em abrir um negócio e está pensando em atrair investidores, um dos passos mais importantes é entender a anatomia e fisiologia do cérebro dos investidores.
Em 2010 tive a grande honra de representar a UCLA Anderson School of Management em uma competição entre escolas de MBA dos EUA chamada Venture Capital Investment Competition (VCIC – http://www.vcic.unc.edu/). Nesta competição, cada escola compõe um time de 5 estudantes com diferentes experiências profissionais (saúde, tecnologia, finanças, etc), para que o time seja apto a analisar quaisquer tipos de negócios. Como parte da estratégia de preparação adotada pelo meu grupo, entrevistamos vários investidores (angels e venture capitalists) e coletamos informações em livros e artigos do gênero, com o objetivo de aprender a pensar como um investidor. Neste quarto artigo da série, disponibilizarei para os leitores do EmpreenderSaúde as respostas que obtivemos para a pergunta:
“Como você decide as estratégias de saída?”
Fred Wang, sócio da Trinity Ventures, Sonja Hoel, diretora da Menlo Ventures e VCIC respondem:
Tipicamente, o trabalho dos VCs é trazer um retorno financeiro de 20-25% aos investidores do fundo (limited partners). Para que isso ocorra, VCs utilizam o fundo para investir em várias oportunidades, na esperança de que uma ou algumas sejam extremamente bem-sucedidas. Em média, os fundos têm uma duração de 10 anos, e os investimentos 5-7 anos. As figuras abaixo, cedidas pelo VCIC, ilustram o ciclo de um fundo. No início, os VCs investem em várias start-ups, e na saída, apenas algumas das oportunidades trazem um retorno que compensa pelas outras oportunidades que fracassam.
Sonja da Menlo Ventures, tem sempre como objetivo fazer a empresa tornar-se pública (IPO). No entanto, as regulamentações dos EUA tem feito com que seja cada vez mais difícil para empresas pequenas tornar-se públicas. Devido a estas regulamentações, opções como aquisições por outras empresas tornam-se muito mais atraentes. Um dos motivos que levam grandes empresas a comprarem outras empresas é a relativa falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento, devido a pressão por mais lucro por parte dos acionistas. Nessas condições, essas empresas grandes se veem forçadas a comprarem empresas pequenas que, por não terem acionistas, conseguem dedicar mais capital a pesquisa e desenvolvimento, e consequentemente ter produtos inovadores. Por sua vez, estes produtos inovadores podem ser a solução das empresas compradores para completar suas linhas de produtos e destacarem-se dos seus competidores.
Fred Wang da Trinity Ventures também concorda que um IPO é sempre a melhor saída, pois significa que a empresa terá a chance de ser muito maior. No entanto, o mesmo é realista e sabe que a maioria das empresas acaba sendo adquirida por outras empresas. Em várias ocasiões, ele investiu em empresas que ele sabia que seriam adquiridas. Nesses casos, a possibilidade de tornar as empresas públicas era bem pequena, mas pelo menos o tamanho do mercado era grande o suficiente para que a empresas pudessem crescer adequadamente. Fred também enfatiza que algumas das aquisições também podem ser ótimos negócios. Ele sempre tem como base o valor da empresa: se a empresa necessita de US$110 milhões em investimentos, e é vendida por US$150 milhões, o retorno não é tão impressionante. Mas houve casos em que Fred investiu $3milhões para adquirir metade da empresa e vendeu sua cota por $150 milhões – um retorno considerável.
Em suma, tanto IPO quanto aquisições por investidores estratégicos (empresas), pode ser uma ótima saída. Ainda há outras opções que podem ser boas dependendo do caso – os sócios fundadores podem comprar a empresa ou parte da empresa de volta, ou a gerência executiva pode decidir comprar a empresa também, em um processo conhecido como “management buyout”.
Com o presente artigo concluímos a série “como investidores avaliam oportunidades de negócios”. Espero que a série tenha sido útil para os empreendedores do Empreender Saúde. Estou à disposição para trocas de idéias sobre o assunto.
Sobre a Menlo Ventures:
A Menlo Ventures tem sete fundos com US$2.7 bilhões investidos em 270 empresas. Fundada em 1976, Menlo Ventures investe em comunicações, internet, sfotware, semi-condutores, e computadores. Menlo Ventures tipicamente investe de US$5 a 10 milhões na fase de start-up e U$ 10 a 25 milhões em fases posteriores. Entre as empresas de seu portfolio que fizeram sucesso estão: Hotmail e LSI Logic.
Sobre a Trinity Ventures:
Fundada em 1986, a Trinity Ventures investe primariamente em empresas no estágio inicial e tecnologias inovadoras. O fundo Trinity VIII tem aproximadamente US$ 300 milhões em capital investido em oportunidades nos seguintes setores: software, serviços, comunicações, e semi-condutores. Algumas das empresas bem-sucedidas do seu portfolio são: Crescendo (adquirida pela CISCO), Network Alchemy (adquirida pela Nokia), P.F. Chang (IPO), Starbucks (IPO).
Fontes:
- http://www.trinityventures.com
- http://www.menloventures.com/home.html
- New Business Ventures and the Entrepreneur 6th Edition