Dados da empresa paulista Alta Excelência Diagnóstica apontam que cerca de 30% das pessoas apresentam ansiedade ou pânico durante exames de ressonância magnética e cerca de 5% sensação de claustrofobia para fazer este exame.
O medo de fazer exames clínicos, diagnósticos e procedimentos médicos existe e pode desencadear uma série de alterações como ansiedade, aceleração da frequência cardíaca, sudorese, tensão muscular, entre outros distúrbios. Por isso, cada vez mais, o mercado de medicina diagnóstica se prepara para evitar o desconforto dos pacientes e tornar os procedimentos mais confortáveis, indolores e rápidos.
De acordo com vice-presidente da GE Healthcare para a América Latina, Daurio Speranzini Jr., cada vez mais, os laboratórios, as clínicas e os hospitais, buscam trazer conforto e proporcionar bem-estar para os seus pacientes. ?Esse objetivo vem crescendo no Brasil e isso nos faz desenvolver e buscar tecnologias inovadoras para acompanhar esta demanda?, avalia.
Alternativas
Colocar uma criança de três anos para fazer ressonância magnética poderia ser um sacrifício. Além do medo, do choro e da dificuldade de tranquilizá-la, fazer um exame médico é assustador para eles, da mesma forma que é também para alguns adultos. Pensando nisto, a Alta Excelência Diagnóstica possui um sistema de entretenimento na sala de ressonância magnética. Chamado de Cinema Vision, a plataforma permite que as pessoas assistam à programação que quiser durante o exame, reduzindo a necessidade de sedação em pacientes claustrofóbicos, crianças, etc. O sistema é composto por um par de óculos que cobre toda a visão e o paciente tem a sensação real de estar em um cinema.
De acordo com a coordenadora de Análises Clínicas da empresa de diagnóstico, Regina Biasoli, o medo de fazer exames não influencia no resultado, mas dificulta o processo. ?Um paciente mais receoso para realizar um exame pode, involuntariamente, se mexer mais e dificultar uma fotografia ou a visualização das imagens?, conta.
Por isso, o centro de diagnóstico investe em alternativas para contornar o medo dos pacientes. Além do sistema de entretenimento na ressonância, a Alta conta com aparelho de ressonância magnética para obesos, que possui um diâmetro maior e tem capacidade para atender pessoas com até 240 kg. Existe ainda a opção de ver e falar com o técnico de imagem, caso o paciente sinta necessidade.
A instituição conta com o AccuVein, equipamento que facilita a visualização e localização das veias em procedimentos médicos. O dispositivo auxilia na coleta de sangue em idosos, crianças, pacientes em tratamento quimioterápico, obesos e até mesmo pacientes que têm muito medo e acabam se sentindo mais seguros. O equipamento é portátil, indicado também para a coleta domiciliar e funciona à base de bateria recarregável, em ambientes claros ou com pouca luz. ?Ele melhorou o processo de coleta, pois facilita a visualização e localização de vasos sanguíneos. Os profissionais, que antes contavam apenas com o tato agora estão amparados pelo equipamento, que facilita a visualização, por imagem, da malha venosa. Com ele, os acidentes de punção, principalmente em pacientes obesos, pediátricos, quimioterápicos e idosos, reduziram praticamente para zero?, comemora a coordenadora.
Humanização
No caso do Femme, laboratório de Medicina Diagnóstica dedicado exclusivamente à saúde da mulher, além da ressonância magnética, as mulheres também temem bastante exames invasivos, como punções. Mais do que investimento em equipamentos modernos, o biomédico responsável pelo setor de Ressonância Magnética do Femme, Renato Penerari, acredita que o atendimento humanizado é fundamental para reduzir o desconforto dos pacientes. ?Fazemos treinamento que incluem a acolhida carinhosa, além do exercício da empatia. Muitas vezes, uma abordagem da cliente feita de maneira mais calma e empática reduz seu desconforto?, pontua.
Penerari cita alguns estudos realizados pelo Setor de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para exemplificar como os procedimentos podem interferir no bem-estar do paciente. ?Entrevistando pacientes que haviam sido submetidos a exames de Tomografia ou de Ressonância, mostrou que 15% deles referiam ter tido o que chamaram de ?intenso desconforto?, e afirmaram que não fariam o exame novamente. Destes, cerca de 1/3 precisou de ajuda, seja pelo mal estar emocional após o exame ou pela necessidade de repetir um exame semelhante ou pelo diagnóstico desse tipo de fobia. O tratamento geralmente envolve a terapia cognitivo-comportamental e, em casos mais acentuados, medicações psicotrópicas?, explica.
Segundo o profissional, cerca de 10% dos pacientes que agendam exame do Femme não comparecem para realizá-lo. Em geral, os pacientes faltam ao procedimento quando se trata de um exame de rotina ou quando não sentem mais os sintomas.
O coordenador do Programa de Medicina Comportamental do FEMME, Roberto Cardoso, conta que a instituição possui um programa de treinamento para encantamento do paciente chamado ?Jeito Femme de Atender?. ?O percentual de pacientes que voltam ao laboratório é de quase 100%. O maior recurso para convencimento e realização de exames é fazer o paciente entender como colaborar no exame e a importância disto. Muitas vezes, isso exige um pouco de paciência da equipe de ressonância?, diz.
Conforto
A GE Healthcare já tem na pauta soluções consideradas menos invasivas e que trazem mais conforto aos pacientes. Os exames de mamografia, por exemplo, são geralmente percebidos como incômodo e intimidador e acabam postergados. De acordo com Speranzini Jr., em torno de 25% das mulheres evitam o procedimento por preocupação e medo. Pensando nisso, a companhia desenvolveu uma solução projetada para estimular os sentidos, por meio de experiências olfativas, visuais e sonoras que proporcionam relaxamento durante o exame e reduzem o desconforto, a dor e a ansiedade. ?Ele fornece uma combinação de ferramentas interativas que permite a paciente escolher sua experiência e personalizar o ambiente para a realização da mamografia, com temas como ?litoral?, ?jardim? ou ?cachoeira?, som ambiente, além de painéis de parede decorativos e fragrâncias que envolvem as pacientes?, conta.
Na mesma linha, Philips e Siemens investem em produtos com redução das doses de radiação e equipamentos mais confortáveis. A multinacional holandesa também personaliza o ambiente hospitalar com paisagens como florestas e desertos. Além disso, desenvolveu modelos de ressonância aberta, que substituem as tradicionais com tubos que, por vezes, geram desconforto aos pacientes. De acordo com o vice-presidente de Sistemas de Imagem para América Latina, Daniel Mazon, a companhia tem um mini tomógrafo, uma réplica que ajuda as crianças entenderem como funcionam os exames, ainda na sala de espera. ?Elas brincam com o aparelho, escolhendo brinquedos que serão examinados. Assistem um vídeo do que vai acontecer, com isso temos uma redução na sedação das crianças no momento do exame?, conta.
A tomografia, da alemã Siemens, por exemplo, diminui o tempo de apneia necessária em exames de tórax e abdômen, um diferencial sentido principalmente por idosos e crianças. ?Por ser um equipamento extremamente rápido, é possível fazer exames em crianças sem a necessidade de anestesia e usar menor quantidade de contraste iodado, quando necessário?, explicou o especialista de produto de Tomografia Computadorizada da Siemens Brasil, Cristiano Lentini.