José Carlos Abrahão, presidente da CNS ? Confederação Nacional de Saúde, conversou com a diretora editorial Ana Luiza Mahlmeister sobre os principais problemas do setor.
Saúde Business Web: Na sua opinião, quais os principais gargalos do setor de saúde hoje no País?
José Carlos Abrahão: Na nossa visão o maior problema por que passa a saúde no Brasil é a baixa do investimento no setor. Foram apresentados números, na semana passada, durante a Hospitalar, por vários palestrantes, que evidenciaram que o investimento da área pública está em torno de US$ 100 per capita. Quando contabilizamos os gastos pessoais, do sistema suplementar, e a complementação dos Estados e municípios isso se eleva para US$ 200 per capita. Na realizade, este é um investimento muito baixo. Para se ter uma idéia, o Paraguai investe hoje cerca de US$ 300 per capita, a Argentina de US$ 400 a US$ 600, o Chile de US$ 600 a US$ 700. E estou apenas falando de países da América do Sul. Quando se fala da Europa, a França, por exemplo, investe US$ 2,5 mil per capita e os EUA US$ 4 mil. Só que o cidadão americano, francês, brasileiro, argentino, enfim, todos têm direito à saúde e nós sabemos disso.
SBW: Como superar as dificuldades do financiamento da saúde?
JCA: Na condição de se promover uma assistência à saúde em nível de primeiro mundo, com o advento da tecnologia e da modernidade, precisamos não só de equipamentos, mas de recursos. As novas tecnologais têm um custo. E esse custo necessita ser suprido. Essa é, na nossa visão, o grande problema pelo qual passa o nosso sistema de saúde. Isso, na realidade não difere de outros países que também passam por dificuldades em seu sistema de financiamento. Depois, vejo como uma lição fundamental que temos que procurar exercer na Conferderação que é o relacionamento dos vários atores. Para que todos os envolvidos neste sistema, possam participar efetivamente da discussão das políticas, diretrizes e alternativas para a sobrevivência do setor de saúde.
SBW: Como pode ser dar esse diálogo?
JCA: É necessário que cada um de nós promova um maior diálogo, constante e em todos os níveis. Isso nas entidades de classe, de governo, com os parlamentares, e entre os próprios usuários que utilizam o sistema. Porque, só dessa forma, através de uma discussão franca e aberta nós vamos conseguir alternativas para a sobrevivência do sistema.
SBW: Como é possível atrair mais investimentos?
JCA: Na realidade o projeto da TEC 29, faz com que ano após ano, o investimento de cada governo em nível Federal, Estadual e Municipal, tenha uma parcela maior para a saúde. Agora, a decisão do governante, de priorizar a sua arrecadação em investimento na saúde e educação, que na nossa visão é básico para a formação e manutenção e a qualidade de vida da população, depende fundamentalmente da cabeça dos nossos gestores. O que esperamos é que, com a evolução da globalização, que os nossos gestores de saúde tenham um foco maior no investimento de saúde e educação, lembrando que não se tem gasto com saúde, mas investimento. No momento em que se incentiva estratégias de prevenção, como os programas da saúde da família, são políticas de prevenção que diminuindo um “gasto” lá da frente da saúde. É qualidade de vida que se vai propiciar na nossa população. É a qualidade de instrução que vai ser oferecida a ela. E a partir disso se tem uma base para um desenvolvimento intelectual e social melhor, e inclusive em nível econômico. Vai ter melhor formação e melhor consumo no futuro próximo e, com isso, cresce o nosso PIB.
SBW: Quais as ações da CNS?
JCA: Estamos procurando, dentro da missão da CNS, contatos com os órgãos, não só governamentais mas também internacionais, que sabemos que podem aplicar na área da saúde e que precisam fazer isso, entre eles o BNDES, Banco Mundial e o BID, mostrando a necessidade de investimentos na saúde. A CNS está aberta, neste momento, para parcerias com essas entidades, pois toda essa cadeia, se inter-relaciona. Durante a Hospitalar 2004, que aconteceu na semana passada em São Paulo, vimos tecnologias e equipamentos maravilhosos, mas se nós não tivermos financiamento, receita para que os nossos serviços e os nossos hospitais, clínicas e laboratórios, possam fazer investimentos, como vai ser a comercialização e o desenvolvimento desses aparelhos e da nossa indústria? Precisamos criar fontes de receita para isso.