Em dezembro inclusive, tivemos uma citação na palestra de Gil Giardelli sobre o assunto, durante o Health 2.0 Latin America Conference.
Aliado a essa atenção, me recordo do período que passei durante meu 6º ano de graduação no Instituto Emílio Ribas, Hospital das Clínicas. Enquanto interno, notei a dificuldade do tratamento a pacientes portadores de AIDS (ou SIDA em português), a baixa aderência, os efeitos colaterais do coquetel e a devastação social causada pela doença.
Inspirado por essas diversas experiências, decidi abrir meu baú de referencias e adaptar para o português uma das matérias mais interessantes que li sobre o tema. Trata-se do uso de células T modificadas no combate a canceres (mais especificamente Leucemia) e AIDS/HIV, confira:
Carl June – da Universidade da Pensilvânia, ou U. Penn – e colegas, tem chamado a atenção após ter publicado alguns sucessos que tiveram no combate à Leucemia a partir de um método revolucionário. Eles extraem células T de pacientes e as modificam geneticamente para atacar o câncer. Quando essas células são reintroduzidas na corrente sanguínea dos pacientes, geralmente seus canceres entram em completa remissão.
Seria possível as alterações que acontecem nos sistemas imunológicos de pilotos de caça, serem uma fonte revolucionária para a cura de canceres e outras doenças?
Os pesquisadores da U.Penn estão replicando a técnica contra aquela outra doença de difícil tratamento, a AIDS/HIV. Recentemente, eles completaram um ensaio clínico de Fase 1 onde retiravam células T do próprio pacientes soro positivos e modificaram parte delas para incluir uma rara mutação genética do gene CCR5, HIV-resistente, chamado delta 32. O estudo se propõe a ser a primeira terapia genética para AIDS/HIV, testada em pacientes.
À medida que o vírus da AIDS se replica no corpo, as células T são mortas quando o vírus utiliza a proteína CCR5 das células como base de replicação. Em pessoas que possuem um único gene mutado, a doença tende a progredir mais lentamente, já aqueles que possuem o gene mutado em ambos cromossomos, raramente são infectados quando expostos ao vírus.
Embora o estudo tenha sido desenhado com o objetivo de provar a segurança desse tipo de técnica, os resultados deram indícios de que ela pode funcionar. Os 12 pacientes envolvidos, que tiveram a mutação introduzida em parte de suas células T, observaram suas cargas virais caírem. Em um dos pacientes inclusive, a carga se tornou indetectável. Entre os 6 pacientes que pararam de tomar a medicação antiviral um mês após o tratamento, as células T modificadas demoraram mais tempo para se reduzirem que as células não alteradas.
[quote text_size=”small” author=”Carl June, MD à imprensa”]
Esse estudo nos mostra que podemos de maneira segura e eficiente alterar uma célula T própria de um paciente HIV+, para imitar uma resistência natural ao vírus, infundir essas células modificadas, fazer com que permaneçam no corpo, e potencialmente manter a carga viral indetectável sem o uso de drogas
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Os pesquisadores introduziram a mutação delta 32 utilizando uma ferramenta de edição genética desenvolvida pela Sangamo, do Vale do Silício.
Foi o fracasso em outro projeto para criar um tratamento promissor, conhecido como “The Boston Patients” que levaram June e seus colegas a chegarem no CCR5. Somado ao caso de Timothy Ray Brown, também conhecido como “The Berlin Patient”, ter acabado com sua infecção após um transplante de medula óssea para curar sua Leucemia, no qual o doador estava entre os 1% da população com a mutação do CCR5 resistente ao HIV.
Depois, dois pacientes HIV+ de Boston também receberam transplante de medula para tratar canceres do sangue, porém seus doadores não possuíam a mutação do CCR5, ao contrário dos de Brown. Inicialmente parecia que os pacientes haviam conseguido se livrar do vírus, porém ele retornou. Pesquisadores então concluíram que o vírus se escondeu em um reservatório que os testes convencionais não avaliam, levantando suspeitas se apenas outros casos de “curas funcionais” – onde pacientes infantis recebem prontamente e massivas doses de anti-retrovirais – teriam longevidade no tratamento/cura.
[quote text_size=”small” author=”Pablo Tebas, Diretor de Estudos Clínicos para AIDS no Penn Center for AIDS Research e coautor do estudo.“]
Os cases de Boston nos mostraram que para o “Berlin Patient” não foi a cromoterapia ou a infusão de células-tronco que haviam freado o HIV, foi a proteção das células T gerada pela falta de CCR5. Estes procedimentos não podiam eliminar completamente o reservatório de HIV, e quando o vírus voltou as células T estavam suscetíveis à infecção. O approach genético protege as células T do HIV e é capaz de quase acabar com o vírus completamente, já que as células ainda são funcionais
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June e outro coautor, Bruce Levine, haviam apresentado anteriormente uma outra mutação das células T para combater o HIV/AIDS. Esse método também se provou ser seguro, fomentando o trabalho subsequente com células T, mas as células modificadas com essa técnica não eram suficientemente efetivas contra o vírus.
Certamente ainda há muitos mistérios quando o assunto é HIV/AIDS, mas é encorajador ver o número de potenciais tratamentos que tem surgido para substituir o uso diário de medicamentos, que são caros, cansativos e de difícil implementação em países em desenvolvimento. E é fascinante ver como muitas outras doenças podem ser combatidas com células T modificadas.
Ainda dentro do meu baú de referencias, há um documentário chamado Fight Fire with Fire, que mostra um outro caso de biotecnologia na medicina do mesmo Dr. Carl June e colegas, onde a equipe utilizou o HIV para curar a Leucemia de uma criança chamada Emma. Vale a pena conferir:
[vimeo]http://vimeo.com/54668275[/vimeo]
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