Angelita Gama e Rodrigo de Oliva Perez, cirurgiões do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,contribuiram com a formulação das novas diretrizes da American Society of Clinical Oncology (Asco) para o tratamento do câncer de reto localmente avançado.
As diretrizes foram recentemente publicadas no prestigiado Journal of Clinical Oncology (JCO) e marcam a primeira vez que cirurgiões latino-americanos participam dessa revisão promovida pela Asco.
Inclusão inédita na oncologia clínica
Um aspecto inédito dessa revisão foi a inclusão detalhada da abordagem de preservação retal, conhecida como “Watch and Wait” (Observar e Esperar), um método idealizado por Angelita Gama no início da década de 1990. Esse método, hoje reconhecido globalmente, oferece uma alternativa válida para pacientes com câncer na porção distal do reto que apresentem resposta clínica completa após tratamento com radioterapia e quimioterapia.
A estratégia “Watch and Wait” envolve o acompanhamento rigoroso dos pacientes por meio de consultas e exames frequentes, permitindo a potencial evitação de uma cirurgia radical. Tal intervenção só se torna necessária se o tumor não desaparecer completamente ou se reaparecer. Essa abordagem pode evitar complicações graves e a necessidade de colostomias definitivas.
“Ver a atualização das diretrizes de tratamento do câncer de reto pela mais importante sociedade de oncologia clínica do mundo, com publicação em um periódico científico de alto impacto, abordando especificamente pontos como o ‘Watch and Wait’, é extremamente significativo para nós e para a medicina brasileira. Agora temos voz e representatividade na principal sociedade de oncologia clínica do mundo. É gratificante saber que nossas opiniões e estudos estão sendo considerados”, destacou Rodrigo de Oliva Perez, chefe do Núcleo de Coloproctologia e Intestinos do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Processo de formulação das diretrizes
A iniciativa reuniu especialistas de renome, que foram convidados pela Asco para conduzir uma análise minuciosa da literatura científica publicada entre 2013 e 2023. O objetivo foi identificar revisões relevantes, ensaios clínicos randomizados de fase 2 e 3, e estudos observacionais aplicáveis.
O resultado foi a inclusão de 12 ensaios randomizados, duas revisões sistemáticas e um estudo não randomizado, que formaram a base para o desenvolvimento das novas recomendações. As diretrizes têm como foco atualizar e aprimorar as práticas no tratamento de tumores no reto.
Atualização relevante na oncologia clínica
Perez também ressaltou que a Asco propõe um tratamento global e individualizado para o câncer de reto, baseado em achados específicos de exames de ressonância magnética dedicada. “Finalmente, a sociedade americana reconhece que o tratamento dos tumores de reto pode ser cada vez mais personalizado, de acordo com os resultados de exames de imagem, especialmente a ressonância magnética dedicada ao câncer retal”, afirmou.
Segundo o especialista, na última década, o uso da ressonância magnética dedicada tem permitido a personalização do tratamento no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Protocolos estabelecidos e padronizados na instituição garantem maior eficiência e precisão nos diagnósticos, estadiamento e decisões terapêuticas.