Ele enxerga além dos sistemas internos de TI que suportam a operação das companhias. Rubens Nascimento Pinto acredita que a tecnologia pode exercer um papel significativo na estruturação de um sistema de saúde que integre diversos players, como companhias de diagnóstico, planos de saúde, laboratórios e o RH das empresas, para trabalharem em conjunto com objetivo de baratear os custos com a saúde dos pacientes. Talvez sua visão para além do dia a dia tenha sido o fator-chave que o projetou mundialmente na Boehringer Ingelheim. Desde março, ele acumula a liderança da parte de CRM para mercados emergentes com o cargo de CIO Brasil.

InformationWeek Brasil – Você foi promovido a líder da parte de CRM para mercados emergentes e acumula o cargo de CIO Brasil. O que mudou na sua rotina?

Rubens Nascimento Pinto – A agenda é completamente diferente. Esta mudança foi especialmente o reconhecimento da interação e da parceria com o negócio. Sou responsável pelos sistemas para marketing e vendas para toda América Latina, China, Índia, Rússia, Turquia e Coreia. O principal sistema é o CRM e estamos estudando qual será o software implementado em todo o mundo. Hoje, dois grupos estudam isto, um do mercado maduro (baseado nos Estado Unidos) e outro dos emergentes (que eu estou tocando).

IWB – A companhia está organizada desta forma?

Nascimento Pinto – Os negócios estão divididos assim, porque o ritmo de crescimento, os investimentos e a atenção são diferentes. Faz sentido isolar o mercado emergente para ter pessoas dedicadas a entender as necessidades e dar atenção especial e soluções diferentes. Até então, era uma solução única que tinha de servir para todos os países. Agora, temos a liberdade para escolher.

IWB – Você assumiu o cargo em março. O que ocorreu neste período?

Nascimento Pinto – A primeira coisa foi o senso de urgência. Fui para China e Cingapura e foi muito interessante. Visitei dois hospitais na China, um de medicina igual a nossa, baseada na indústria de diagnóstico e em medicamentos, e outro de medicina tradicional, que tratam com ervas. Queria ver como era e foi espetacular, porque, quando comecei a conversar com os colegas de negócio de lá, já tinha a visão completa de como funciona de fato.

IWB – Até porque a medicina tradicional concorre diretamente com vocês.

Nascimento Pinto – Com certeza. E lá na China, 70% do povo ainda se trata com a medicina tradicional. A barreira de entrada é maior e você precisa entender este tipo de competição. Na farmácia, há sacos de ervas de diferentes tipos para manipulação.

IWB – Como esta observação influencia as decisões de CRM?

Nascimento Pinto – Por exemplo, em Xangai existem dez hospitais do tamanho do HC, cada hospital com 4 mil médicos. Então, quando você fala em CRM, precisa entender que se pode encontrar 4 mil pessoas em um único estabelecimento; e isto muda completamente o cenário. Ou seja, alinhar ao negócio não é reagir à solicitação, mas oferecer alternativas. Não tem como acreditar que a tecnologia não vai afetar o ramo da saúde, como todos os outros. Já existem pílulas com chips que fazem o monitoramento interno.

IWB – Mas isto cabe à TI?

Nascimento Pinto – Eu acho que sim, porque, por exemplo, quando falamos em pessoas que precisam de home care e de acompanhamento constante, existem devices pequenos para fazer o monitoramento e a avaliação e eles se conectam com o médico, caso haja alguma variação. Nós fornecemos o remédio, ok, mas, se você olhar nossa missão e visão, que é levar soluções de saúde à humanidade, vai ver que isto não é levar somente remédios, passar por tecnologia, atendimento humano, psicológico. Este é o nosso interesse, pensamos em muito mais que só o medicamento.

IWB – Qual é a maior dificuldade da indústria farmacêutica hoje?

Nascimento Pinto – Um problema grande de qualquer laboratório é ter um bom programa de adesão. Os pacientes, à medida que se sentem melhor, param de tomar o medicamento. Há estatísticas que mostram que no Brasil mais de 70% das pessoas abandonam o tratamento antes de ele terminar. A tecnologia pode ajudar a fazer o monitoramento, porque tem como checar este tipo de coisa. É absolutamente um CRM.

IWB – Por isto o enfoque tão grande no sistema de relacionamento. Mas qual é o gargalo?

Nascimento Pinto – Hoje, fazemos o CRM só com o médico, porque temos muitas restrições para falar com o paciente. Enxergamos que a influência do médico no tratamento vai diminuir um pouco, não é necessariamente correto isto, mas as pessoas recorrem à internet para saber mais da doença e chegam ao médico com muito mais conhecimento do que tinham antes. Os exames diagnósticos também estão mais apurados do que antes. Por isto, o CRM tem de atender a todas as áreas – médicos, pacientes, farmacêuticos, enfermeiras dos hospitais, healthcare providers e fazendeiros (para linha animal), hospitais, governos, clínicas, associações, consumidores, farmácias, entre outros. Na outra vertente, está quem lida com estes clientes e como, por meio de qual interface.

IWB – O CRM será único?

Nascimento Pinto – Temos várias soluções e não acho que será tão diferente. O Siebel é o principal software de CRM hoje, mas foram criados complementos para ele. O mais importante é que o repositório – a base de dados – seja único, porque a partir disto você tira todas as estatísticas que precisa, além da parte de qualidade de dados. Também temos a preocupação de simplificar o processo e dar ao usuário somente o que ele precisa, nem mais e nem menos. Precisa ser fácil de usar, eficiente e simples. É o que chamamos de ?somente o necessário”.

IWB – Em que fase está?

Nascimento Pinto – Estamos no piloto. Começamos pela parte de prescrição, que é o negócio mais relevante. Agora estamos discutindo a solução para visitação de farmácias. Está no campo e eles estão adorando. O primeiro passo antes de começar o piloto foi o assessment com o negócio.

IWB – Para onde caminha?

Nascimento Pinto – A organização no futuro será mais centrada no cliente que em produtos. Ou seja, vamos observar como uma determinada marca se comporta nos diversos mercados. Por exemplo, o Buscopan não é tão relevante na China e precisamos saber como o introduzimos lá conhecendo o mercado chinês.

IWB – Qual é o marco da TI do Brasil?

Nascimento Pinto – Começamos em 2007 um trabalho chamado brand”s support e trabalhamos o CRM de uma maneira completamente diferente. Naquela época, tivemos um projeto de colocar tecnologia dentro das ambulâncias e dos hospitais, olhando para as marcas dos produtos. Para mim, o marco foi a integração do negócio. Acho que fui convidado por conta deste projeto a ser o represente global para o mercado emergente.

IWB – A Boehringer Ingelheim cresceu acima do mercado farmacêutico mundial no ano passado. A que você atribui?

Nascimento Pinto – Nossa companhia é uma das poucas que é familiar neste ramo. O crescimento não é por compra de outras empresas, ele é orgânico. Significa dizer que temos um pipeline importante hoje e, além disto, vamos lançar cinco produtos nos próximos dois ou três anos. Temos um portfólio amplo e estamos entrando em áreas como oncologia e diabetes, que não entrávamos antes. Um outro motivo é que não dependemos de capital de terceiros. O capital é fechado e a empresa reinveste muito em pesquisa e desenvolvimento.

IWB – Qual é a sua formação?

Nascimento Pinto – Sou formado em administração de empresas e tenho algumas pós-graduações em TI. Também me formei em finanças e em controladoria. Isto me dá uma facilidade de tratar custos de TI de forma financeira e de negócios. Não sou um cara técnico. Não sou e acho que o grande segredo é que tenho uma equipe muito boa comigo, porque ninguém faz nada sozinho.

IWB – Qual é o seu estilo de trabalhar?

Nascimento Pinto – O mais legal de toda minha experiência foi de trabalhar por projetos, juntando a área de TI com negócio e fazendo um projeto. É meu estilo. Tem de deixar o running para quem é especialista. Aqui, terceirizamos muito. O que faz a diferença para as áreas de negócio é TI estar inserida no contexto deles. Como, por exemplo, as soluções de home care devices. A tecnologia deveria construir um banco de dados e fazer a conexão com os médicos. Isto teria de ser um trabalho dos stakeholders do mercado de saúde. Veja, tem o paciente, uma companhia de diagnóstico, uma de plano de saúde e uma empresa que cuida da saúde dos funcionários e os laboratórios. Se elas trabalhassem juntas, o conjunto poderia ser muito mais barato para a sociedade e para o governo. Trabalhar a prevenção é muito melhor que a correção.

IWB – O mercado já tem planos para isto?

Nascimento Pinto – Não sei se o mercado todo tem, mas nós temos. Queremos fazer uma solução integrada de saúde, juntar laboratórios, que somos nós, produtores de sensores, planos de saúde, recursos humanos de todas as empresas que estão preocupadas com a saúde de seus funcionários. Fica muito mais fácil prevenir acidentes ou doenças e isto reduz os principais custos de RH, que é saúde.

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