O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou ontem a Pesquisa sobre Qualificação, Trabalho e Qualidade de Vida do Médico. As informações, que agora estão reunidas no livro “O Médico e seu Trabalho”, foram coletadas via Internet. Durante todo o ano de 2002, o CFM, a Associação Médica Brasileira, AMB, os Conselhos Regionais de Medicina e as Sociedades de Especialidades disponibilizaram o questionário em suas homepages.
Ao todo, 14.405 médicos, de todas as regiões do Brasil, abrangendo todas as especialidades médicas responderam as questões que envolvem características demográficas, formação profissional, participação científica, mercado de trabalho, orientação/participação sociopolítica e atitudes frente à vida e valores humanos.
Quanto às condições gerais de saúde da população da cidade e/ou região dos entrevistados, a maioria dos médicos indicou serem inadequadas (46,2%); apenas 9,9% opinaram que tais condições poderiam ser consideradas adequadas.
Padrão de resposta muito similar foi observado quando se perguntou sobre a situação do atendimento às urgências e emergências na cidade e/ou região em que atuam; a maioria a considerou inadequada (49,4%), correspondendo a mais do que o dobro dos que relataram que esta era adequada (18,2%).
Também foi perguntado aos médicos o quanto eles consideravam adequadas as condições da assistência materno-infantil. As respostas indicaram uma distribuição mais eqüitativa, com maior porcentagem dos que opinaram que tais condições eram mais ou menos adequadas (39,9%); os que as consideraram inadequadas foram mais freqüentes (32,9%) do que os que as percebiam como adequadas (27,2%).
De uma maneira geral, podemos concluir que os médicos brasileiros têm uma percepção negativa das condições gerais de saúde da população, destacando-se, entre os itens pesquisados, o atendimento às urgências e emergências.
Embora se possa considerar este o perfil geral da assistência médica primária no país, algumas variações podem ser observadas em função do local onde o médico exerce o seu ofício. Por exemplo, as condições gerais de saúde da população são consideradas mais inadequadas na Bahia (72,1%), Maranhão (71,6%) e Pernambuco (67%), tendo sido observadas menores porcentagens em Santa Catarina (19,3%), Rio Grande do Sul (26,9%) e Paraná (27,5%).
O atendimento às urgências e emergências foi considerado mais inadequado na Bahia (80,4%), Rondônia (77,5%) e Maranhão (71,1%), e percebido como menos precário no Amazonas (24,2%), Paraná (33,6%) e Paraíba (34,2%).
Finalmente, a assistência materno-infantil foi avaliada como mais inadequada na Bahia (68,5%), Alagoas (55,6%) e Rondônia (53,9%), e mais adequada no Paraná (16,3%), Santa Catarina (16,6%) e Rio Grande do Sul (17,2%).
Quanto à avaliação que os médicos fazem do SUS, foram considerados seis aspectos principais: cobertura da assistência, emprego médico, qualidade dos serviços, organização dos serviços, rendimentos médicos e condições de trabalho.
Para cada um os médicos deveriam indicar uma das seguintes opções: diminuiu/piorou, não se alterou ou aumentou/melhorou. No geral, a avaliação do processo de implementação do SUS foi considerada inadequada, pois dos seis fatores considerados em quatro deles os médicos indicaram majoritariamente diminuiu/piorou, a saber (em ordem decrescente): condições de trabalho (52,6), rendimentos médicos (52,4%), qualidade dos serviços (47,4%) e organização dos serviços (40,7%); em dois deles aumentou/melhorou: cobertura da assistência (50,7%) e emprego médico (44,8%).
Na avaliação do impacto da implantação do Programa Saúde da Família, PSF, foram considerados fatores e alternativas de respostas semelhantes ao que antes se descreveu para o SUS. No geral, comparando com a percepção expressada em relação a este sistema de saúde, pode-se dizer que os médicos têm uma apreciação mais positiva do PSF.
Concretamente, os médicos foram mais unânimes em indicar um aumento/melhora do emprego médico (74,6%) e da cobertura da assistência (70%). Em média, aproximadamente 46% dos médicos indicaram que não se alteraram a qualidade dos serviços, a organização dos serviços, os rendimentos médicos e as condições de trabalho. Apenas quanto a este último fator foram mais freqüentes os que relataram ter havido uma piora (26,3%); em média, cerca de 39% dos médicos informaram um aumento/melhora da qualidade dos serviços, da organização dos serviços e dos rendimentos médicos. Considerando este conjunto de informações, parece razoável assumir que os médicos têm uma percepção positiva do PSF.