Há 12 anos, quando foi realizada uma reforma administrativa no Mato Grosso do Sul, nem o mais otimista gestor público poderia imaginar que o órgão criado para oferecer assistência de saúde aos servidores passaria, em algum momento, a ser considerado referência no segmento. A Caixa de Assistência dos Servidores de Mato Grosso do Sul (Cassems) foi criada a partir da extinção do Previsul, que oferecia assistência à saúde para funcionários do governo. ?Foi um momento difícil. Havia o receio do atendimento pelo SUS. Muitos achavam que a criação da Cassems era loucura, que não daria certo e que o servidor ficaria sem atendimento?, lembra o atual presidente da organização, Ricardo Ayache. Depois da criação, veio o começo dos contatos com a rede credenciada para proporcionar atendimento aos servidores e, hoje, a Cassems é uma associação civil de fins não lucrativos da modalidade autogestão, ou seja, os próprios beneficiários são responsáveis pelos rumos da Caixa. Segundo a União das Instituições de Autogestão em Saúde (UNIDAS), esse modelo de organização já representa 11% do total de beneficiários do sistema de saúde suplementar. Em 2012, as companhias de autogestão apresentaram uma receita total de R$ 10,52 bilhões e a Cassems figura entre as maiores do País com 180 mil beneficiários. Com uma estrutura de 900 funcionários ? que atuam em funções administrativas e de atendimento -, hoje, a instituição tem instalações em nove de cada dez cidades sul mato-grossenses e tudo que a empresa fatura é reinvestido para ampliar o acesso e melhorar os serviços de atendimento. Em cada uma das 11 microrregiões de Mato Grosso do Sul, há uma unidade regional, uma espécie de sede administrativa justamente para dar apoio às que estão nos municípios. ?A interiorização do atendimento é uma das principais metas da presidência. Mas, esse atendimento deve seguir a excelência da qualidade que sempre permeou o atendimento Cassems?, observa Ayache. Financiamento
Hoje, a Cassems é financiada através da contribuição de 8,75% do salário de cada servidor, sendo 3,5% pagos pelo governo e 5,25% descontados do salário. Mas o crescimento dos custos assistenciais, grande reclamação dos planos de saúde convencionais, também complicam a gestão. ?Para que possamos avançar na qualidade assistencial e garantir a nossa sustentabilidade no futuro, é preciso incrementar as receitas?, admite. Para isso, pode ser necessário aumentar esse porcentual. ?O cálculo atuarial realizado em 2011 aponta para a necessidade de elevar para 12%?, reconhece. O executivo lembra que o plano de saúde Cassems é um dos mais baratos do mercado, com receita per capita de R$ 121, bem inferior aos R$ 200 de receita per capita de outros planos. Tudo isso com o desafio de manter ? e até elevar ? o padrão de qualidade e aceitação. Na pesquisa realizada em agosto deste ano, a entidade teve índice de aprovação de 80% dos 180 mil beneficiários. Mais de 90% afirmaram que recomendariam o plano. Um paradoxo que reúne alta de custos e necessidade de gastar mais. No último ano, dos cerca de R$ 260 milhões de receita, menos de 10% vieram dos hospitais próprios, mas com a construção de novos, esse valor pode aumentar. Conveniados
São usuários do plano da Cassems servidores ou empregados ativos, inativos, pensionistas, celetistas, comissionados e convocados incluídos na folha de pagamento. Entre as categorias profissionais estão professores, policiais e funcionários da administração direta e indireta. Também estão incluídos servidores da Assembleia Legislativa, e de órgãos da justiça. Embora reconheça que ainda há grande necessidade de ampliar o atendimento, o presidente da Caixa exalta as conquistas recentes que permitem acesso à saúde mesmo longe de MS. ?Os convênios de reciprocidade foram adotados como solução para a deficiência de atendimento na região do Bolsão e para a cobertura nacional em caso de urgência e emergência?, explica Ayache. A Caixa Beneficente dos Funcionários do Banespa permite, por exemplo, aos beneficiários da divisa com São Paulo ser atendidos no estado do sudeste, enquanto a Fundação de Seguridade Social (Geap) permite a quem estiver viajando pelo Brasil acessar a cobertura em casos de urgência e emergência. Mais recente é o convênio com a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, que permite ao conveniado Cassems contar com auxílio para realização de atendimentos que não podem ser feitos pela Caixa. Futuro
Mesmo com as dificuldades para adequar a arrecadação aos projetos, a Cassems tem uma série de projetos para o futuro ? com o desafio de manter qualidade e aumentar o acesso dos servidores a serviços de saúde. ?A busca é executar ações de expansão e aumento da qualidade do atendimento, com metas para os próximos três anos, além de ampliar a rede, com novos hospitais, a Cassems vai modernizar o Centro de Diagnósticos e implantar um sistema de agendamento online de consultas?, planeja. A ampliação da rede própria também é prioridade. Em maio de 2013, por exemplo, a autogestão inaugurou e entregou o maior hospital particular da região Norte, o Hospital Cassems de Coxim, com 1.800 m². Para essa obra, foram investidos R$ 4,5 milhões. Agora, entre os próximos projetos, estão a construção do Hospital Cassems de Campo Grande, a reforma do Centro de Diagnóstico Três Lagoas, a reforma do Centro de Diagnóstico Três Lagoas e do de Dourados, além da implantação do Centro de Diagnóstico Avançado de Campo Grande, do projeto de um hospital em Corumbá e da ampliação do Hospital localizado em Naviraí, além de centros odontológicos no interior. A prevenção também permeia o planejamento da Cassems. Prova disso é a existência de uma série de projetos, como o Dia M, de prevenção a câncer de mama e de colo uterino; o Pronutri, para incentivar uma alimentação mais saudável; o Viva Saúde, que incentiva o combate ao sobrepeso, sedentarismo, tabagismo e consumo elevado de álcool; o casal grávido e o odontologia para bebês, voltados para maternidade; além de campanhas de vacinação, como contra o HPV. Boletins de indicadores do Programa de Estudos Avançados em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e da Escola de Administração da FGV colocam a Cassems como única figura de representatividade entre os planos de autogestão do Brasil. ?Quando começamos, em 2001, não acreditávamos que poderíamos chegar tão longe?, reconhece o presidente da Caixa, procurado por autogestões do Mato Grosso, Goiás e Alagoas. Além disso, a instituição também conquistou premiações em gestão e responsabilidade sócio ambiental. Iniciativas como reciclagem de lixo eletrônico e o projeto ?TI Verde?, que desenvolve e oferece alternativas simples na utilização de recursos tecnológicos dentro do ambiente de trabalho ajudaram a empresa a ganhar o prêmio Destaque Empresarial Brasileiro em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável 2011. Cassems ? 77 unidades de atendimento divididas em:
? 2 Centros de Prevenção em Saúde
? 8 centros médicos (para serviços de atendimento ambulatorial)
? 18 Centros Odontológicos
? 8 hospitais
? 180 mil beneficiários no Mato Grosso do Sul (e há um grande projeto de expansão)
? 1847 especialistas e 2200 trabalhadores na área de saúde
? 2.036 profissionais para tratamento odontológico
Cassems: autogestão cresce na região Centro-Oeste
Cassems foi criada há pouco mais de uma década e possui estrutura de 900 funcionários e instalações em nove de cada dez cidades sul mato-grossenses
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