O Mapa Assistencial da Saúde Suplementar 2013 da ANS apontou que a principal causa de mortalidade entre mulheres beneficiárias da saúde suplementar de 20 a 59 anos foram as neoplasias, com destaque para os cânceres de mama e colo de útero. A mesma publicação mostrou que cerca de 4,49 milhões de mulheres de 50 a 69 anos realizaram mamografias em 2012 e 4,5 milhões em 2011. Com relação ao exame de citopatologia cérvico vaginal (exame de Papanicolaou), cerca de 6,3 mihões de mulheres de 25 a 59 anos realizaram este exame em 2012 e 6,4 milhões o fizeram em 2011.
A pesquisa VIGITEL Saúde Suplementar 2011 revelou que o percentual de mulheres de 25 a 59 anos de idade que realizaram citologia oncótica nos últimos anos variou de 68% (Aracaju) a 91% (Curitiba). Estes ?gaps? na prevenção do câncer de colo do útero redundaram num aumento do número de internações para tratamento destes tumores de 2011 (23.436) para 2012 (24.656).
Recente publicação da prestigiosa revista médica Lancet acerca do planejamento do controle do câncer na America Latina e Caribe trouxe informações importantes. Apesar da incidência de câncer ser menor na América Latina (163/100.000 habitantes) em relação à Europa (264/100.000 habitantes) ou aos Estados Unidos (300/100.000 habitantes), a mortalidade é maior, provavelmente pelo diagnóstico em estágios mais avançados da doença ou pelo menor acesso a tratamento. Por exemplo, nos Estados Unidos, cerca de 60% dos cânceres de mama são diagnosticados em estágios mais precoces, mas no Brasil este índice é de apenas 20%. Além disso, na área pública, a maioria das mulheres com câncer de mama recebem quimioterapia de primeira geração (ciclofosfamida, metotrexate e fluoracil), em comparação com a saúde suplementar onde este esquema é ministrado para um terço das pacientes. Fatores como estes fazem que a sobrevivência em cinco anos após o tratamento do câncer de mama seja de 80% nos países de maior renda e de 40% nos países mais pobres.
A Argentina foi primeiro país da América Latina a dispor da vacina contra o papilomavírus (HPV) para meninas a partir de 11 anos de idade, de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste caso, a vacinação contra o HPV se constitui numa poderosa ferramenta contra a desigualdade regional no acesso a rastreamento de lesões precursoras do câncer de colo do útero.
A abordagem dos cânceres de colo de útero e mama exige um esforço integrado dos diferentes atores do sistema de saúde. Na área privada, certamente as operadoras de saúde deverão elaborar e implementar programas efetivos de rastreamento, diagnóstico precoce e tratamentos eficazes que abranjam toda a população-alvo e não dependente apenas da busca espontânea. Por outro lado, certamente será necessária a implementação de políticas públicas que tenham alto impacto, como a vacinação contra o HPV, para evitar que tenhamos ainda tantas mulheres com morbimortalidade precoce por estas doenças.