que está por vir? A pergunta aguça a curiosidade de qualquer gestor ávido por estratégias bem sucedidas. Apesar da ideia de futuro já ter sido negada por alguns filósofos e, inclusive, pela física quântica, as percepções e atividades humanas ainda estão pautadas na organização clássica de passado, presente e futuro. E se antecipar às transformações parece valer ouro em um mundo competitivo como o que vivemos.,13,Mesmo tratando-se da Saúde, universo onde o efetivo cuidado ao paciente é o aspecto central, antever tendências tecnológicas, administrativas e organizacionais é fundamental para a assistência eficiente e sobrevivência da instituição. ,13,Dentre as já conhecidas movimentações demográficas, aumento de demanda, elevação dos custos, disparidades de acesso, maiores incidências de determinadas doenças – como é o caso do câncer -, as novas tecnologias médicas figuram, também, entre os vetores de mudança do sistema. Mas nesse contexto, ainda atuam antigos entraves que colocam em xeque o desenvolvimento e a sustentabilidade dessas transformações.,13,É consenso entre os especialistas ouvidos pela FH que a robótica, a genética, a biotecnologia, a nanotecnologia, entre outras ciências, têm muito a contribuir para a evolução da medicina nas próximas décadas. Entretanto o Brasil da burocracia, dos altos índices de corrupção e da inexistente cultura de inovação estaria pronto para acompanhar as oportunidades no campo da saúde? A indagação permeia esta edição comemorativa da FH – pelos seus 20 anos -, e responde quais são as tendências e caminhos a serem trilhados pelos gestores, profissionais e consumidores da saúde. ,13,Robôs inteligentes ,13,É indiscutível que a robótica, por exemplo, é o futuro das cirurgias. O método, já praticado em diversos países no mundo, está em plena evolução devido aos avanços da Inteligência Artificial, que forma o ?cérebro? dos robôs. Em entrevista exclusiva à FH, o ex-astronauta da NASA e responsável pela cadeira de Inteligência Artificial e Robótica na Singularity University, Dan Barry, considera que as intervenções com robôs revolucionarão o modo de tratar os pacientes.  ,13,Atualmente o robô da Vinci, fabricado pela americana Intuitive Surgical, é o único voltado para cirurgias em operação. O sistema é usado em diversas especialidades cirúrgicas, como urologia, ginecologia, cardiotorácica, cirurgia geral, colorretal e cabeça e pescoço. ,13,Daqui a alguns anos, Barry fala sobre a possibilidade de existirem robôs trabalhando em hospitais como enfermeiros, sendo capazes de medicar o doente ou entender um eletroencefalograma ou, ainda, robôs assistentes de fisioterapia ? verdadeiros auxiliares na aplicação de exercícios. ,13,Cooperação entre os robôs é outra previsão evidenciada por Barry, realizável por meio da nanotecnologia. Os chamados nanorôbos poderiam ser injetáveis no ser humano para atacar um tumor, por exemplo. Ou ainda capazes de estimular o crescimento de células em uma área danificada. ,13,Ao contrário de outros setores, onde as tecnologias, em geral, reduzem os custos no longo prazo, as tecnologias médicas aumentam. Nos Estados Unidos, por exemplo, as estimativas indicam que a tecnologia médica contribui entre 40 e 50% para o aumento dos custos anuais do setor.,13,Desde 1970, os gastos com a saúde continuam a crescer de forma exponencial nos EUA. Mais recentemente em torno de 9,8% ao ano, cerca de 2,5 pontos percentuais à frente da economia. De acordo com levantamento da Kaiser Family Foundation, a despesa do setor aumentou de US$ 75 bilhões em 1970 para US$ 2 trilhões em 2005, e estima-se chegar a US$ 4 trilhões em 2015.,13,Particularmente na robótica, Barry é otimista. Segundo ele, os sensores são os responsáveis pelos altos custos dos robôs em geral tendem a diminuir. ?Os sensores que fazem um robô custar US$ 200 mil, hoje, vão baratear em dois ou três anos, podendo o custo chegar a US$ 2 mil?, exemplifica Barry.,13,?A escolha da tecnologia certa será essencial para evitar desperdícios. Antes de definir qual o robô será usado, é preciso analisar os recursos humanos e financeiros necessários?, enfatiza o presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SDPM), Rubens Belfort Junior. ,13,Especializada e Personalizada  ,13,Com as novas tecnologias ganhando espaço se torna evidente, cada vez mais, a necessidade de profissionais capacitados e especializados. ?Antes o médico era generalista. Hoje não. O futuro aponta claramente para a especialização e terceirização de subgrupos de especialistas. Uma grande operadora não vai ter 30 especialistas, pois seria caro. Ela teria um, terceirizado, para fazer a gestão de um determinado assunto e, este, se reportaria para um gestor maior, generalista?, prevê o oncologista e especialista em auditoria médica e farmacoeconomia, Stephen Stefani.,13,Daqui duas décadas, tudo indica que as equipes técnicas vão ter mais responsabilidades e autonomia, modificando a estrutura de poder vigente na atualidade ? ainda muito centralizada nos médicos.,13,Outra aposta dos estudiosos do setor está nos tratamentos customizados. Assim como uma das grandes preocupações das Tecnologias de Informação e Comunicação em Saúde (TICSs) é integrar informações clínicas dos pacientes, os estudos genéticos decodificam com precisão as características biológicas de uma pessoa e viabilizam um tratamento dirigido.,13,A consequência disso é a transformação de como as drogas são desenvolvidas hoje. ?Isso tem que mudar porque ano após ano o custo de fazer novos medicamentos aumenta enquanto a produção cai. Isso não é sustentável. Biotecnologia avançada está realmente ficando mais fácil de fazer e, por isso, deve haver uma quebra no sistema?, diz, em entrevista exclusiva à FH, um dos responsáveis pela cadeira de Bioinformática e Biotecnologia da Singularity University, Andrew Hessel – também cofundador, em parceria com Jayson Tymko e John Carlson, da Pink Army Cooperative, a primeira cooperativa de biotecnologia do mundo, que trabalha para desenvolver terapias ?open source? para tratamento
personalizado contra o câncer.,13,A prática recorrente, hoje, é tratar-se com um medicamento já apresentado para o mundo. No entanto, segundo Barry, existem drogas que funcionam bem para um grupo de pessoas na Rússia e que não são eficazes para alguns no Brasil, por exemplo. ?No futuro, saberemos o genoma (informações hereditárias presentes no DNA), e o proteoma (proteínas encontradas em uma célula, sujeita a um certo estímulo). Dessa forma, seremos capazes de produzir medicamentos específicos para um determinado indivíduo?, ressalta Barry. ,13,O cientista Hessel é categórico ao afirmar que, em 20 anos, a biologia sintética será muito parecida com os computadores. ?Teremos sequenciado o DNA de quase todas as criaturas do planeta. Haverá milhões de pessoas que irão programar coisas vivas como parte de seu trabalho diário. Seres vivos modificados serão importantes para, praticamente, todas as áreas: saúde, alimentação, ambiente, energia, água, espaço, segurança, câncer e muitas doenças ?órfãs? serão curadas ou tratáveis. No geral, eu vejo a biologia como a próxima indústria de TI?, diz Hessel.,13,O alinhamento de equipes especializadas, com eficiente gerenciamento de informações clínicas e tratamentos customizados contribuem para a transformação do conceito de valor no segmento.  ,13,Para o diretor da área de Saúde da PwC, Carlos Alberto Suslik, as instituições e profissionais do setor vão, no futuro, acompanhar a evolução do paciente. As empresas vão vender pacotes de tratamentos integrais. ?O modelo de negócios atual está focado no procedimento, ou seja, na doença, e a alteração disso exigirá um novo modelo de remuneração, com base na entrega de valor ao paciente?, afirma Suslik. ,13,
O Brasil é capaz?
,13,Os avanços científicos no mundo incitam o movimento do setor de Saúde e, mais do que isso, induzem os players a repensarem o atual modelo de negócios brasileiro. ,13,A existência de alta tecnologia por si só não resolve nada. Falar em futuro sem falar em inovação seria uma discrepância, e é aí que está o maior pecado desta nação de quase 200 milhões de habitantes.,13,Segundo o Insead (The Business School for the World), o Brasil é 47° do ranking global em inovação, composto por 125 países avaliados por cerca de 80 indicadores, ficando atrás de países como Costa Rica, Jordânia e Malásia. Além disso, ocupa a 11° posição em requisições de patentes, segundo estudo da Organização Mundial de Propriedade Intelectual. E, destas, mais da metade vem de fora e de pessoas físicas, diferente dos países desenvolvidos em que cerca de 90% dos pedidos são feitos por empresas. ,13,Nos últimos quatro anos, a taxa média de crescimento de estudos clínicos caiu 4,4% no País. De acordo o CEO do Instituto de Pesquisa VIS e PhD em tecnologias biomédicas (Harvard e MIT), Fabio Thiers, uma das razões prováveis seria o menor índice de crescimento econômico em relação à China e Índia ? regiões com grandes avanços em pesquisas clínicas, além dos entraves regulatórios. ,13,Os Estados Unidos lideram o ranking com 94,9 mil centros de estudos na área ? o que representa 42% da força de pesquisas no mundo. Na 13º posição aparece o Brasil com 3,317 mil unidades de estudos, equivalente a 1,5% das pesquisas mundiais. ,13,A rede nacional de pesquisas clínicas no Brasil conta com 32 hospitais públicos efetivamente como, por exemplo, o Hospital das Clínicas de São Paulo e Escola Paulista de Medicina. Entretanto, o Instituto VIS está mapeando mais 320 outras entidades com algum tipo de iniciativa na área. Para se ter uma ideia, o Estado da Flórida, nos Estados Unidos, possui 1500 instituições envolvidas nesse tipo de pesquisa.,13,Na opinião do líder da Deloitte na área de Life Sciences & Healthcare no Brasil, Enrico De Vettori, é preciso, com urgência, que as universidades se aproximem da indústria, inclusive das internacionais, como é praxe nos países desenvolvidos.,13,?Não temos pesquisadores sendo subsidiados pela indústria. Existe ainda um feudo muito forte na academia e nem sempre as aplicabilidades estão de acordo com a demanda do mercado?, opina Vettori.,13,Falta de inovação certamente é o grande empecilho para um futuro próspero da Saúde, mas não é o único. Como pensar em aproveitar as novas tecnologias que estão por vir com uma balança comercial deficitária de US$ 10 bilhões.
?Se não revertermos a situação da balança comercial da saúde, perderemos o bonde dos avanços e deixaremos de trazer benefícios aos pacientes?, conclui Vettori.,13,O executivo traça quatro pilares básicos, que devem ser construídos juntamente com a entrada das novas tecnologias para um melhor aproveitamento das oportunidades. São eles: indústria e academia, com a necessidade de conexão entre elas; Financiamento, com políticas que melhorem a diferença entre as importações e exportações, além de antever possíveis problemas de financiamento, tendo em vista a retração de alguns países europeus; Medicina Personalizada, alterando o modelo atual centrado na doença; e Atitude do Paciente, conscientizando-o a ter hábitos mais saudáveis. ,13,Os próximos anos podem ser caracterizados pela palavra evolução nos mais diversos componentes deste estrato econômico e social. Entretanto, para Vettori, as novas tecnologias médicas, como a robótica, biotecnologia, entre outras, demorarão mais de 20 anos para tornarem-se realidade no tratamento da maioria dos brasileiros.,13,?Não temos nem saneamento básico direito neste País. Vai haver, daqui algumas décadas, maior harmonia na balança, maior presença de centros de Pesquisa  & Desenvolvimento, crescimento da qualidade dos genéricos, pessoas mais informadas,  mas o acesso às tecnologias médicas de ponta ainda ficarão restritas aqueles que frequentam  o primeiro mundo da Saúde?, conclui Vettori.