Com tiradas engraçadas e uma capacidade de raciocínio que desponta (parece que ele tem seu próprio sistema de analytics de Big Data no cérebro), o futurista italiano Vito di Bari chamou a atenção da plateia que participava do TEDxFiap, em novembro do ano passado, quando apresentou uma palestra que indicava, para 2022, o chamado Big Bang dos dados. Chamou tanto a atenção que foi inevitável a tentativa de uma entrevista posterior com o renomado especialista, que após dificuldades de agenda para uma bate-papo por telefone (também pudera, já que ele é professor de design e gestão da inovação na Universidade Bocconi e diretor científico do LabNext, o ?tanque de conhecimento de Milão?), foi realizada por e-mail e entregue nos primeiros dias de 2013.
Para relembrar seu ponto de vista, o italiano alerta que até 2001, todo o conhecimento da humanidade representava 5 exabytes em capacidade de armazenamento. ?Os dados de toda a história da humanidade, com 18 mil anos de civilização?, ponderou durante o TEDxFiap. Em 2020, produziremos o equivalente de conteúdo que toda a humanidade produziu em 18 mil anos a cada 18 minutos. Ou seja: 5 exabytes de dados serão jogados na nuvem a cada 1080 segundos, o que dá um estoque de 25 mil exabytes. ?Este será o Big Bang do Big Data?, comentara.
Na entrevista por e-mail, Di Bari não economizou palavras e perspectivas que enchem os olhos ? e não somente daqueles que são mais íntimos com a tecnologia. A primeira questão que veio à mente: com o Big Bang dos dados, haverá igualmente um Big Bang nos sistemas e infraestrutura, que vão acabar por simplesmente explodir e não aguentar tanta informação? Segundo ele, não. A dificuldade de infraestrutura será transposta nos próximos anos. A grande diferença passará de buscar, no amontoado de dados, incógnitas conhecidas (estágio que estamos atualmente) para o desvendamento de incógnitas que, ainda, são incógnitas. Será a descoberta de um mundo totalmente novo.
A entrevista é longa, então mas sugiro que seja lida até o final. De novidades médicas a dispositivos como o Óculos do Google ? que com realidade aumentada, vão aposentar os smartphones convencionais ? o futurista detalhou como será nosso dia a dia, e os desafios de segurança e privacidade do futuro. Segundo Di Bari, as maiores empresas do mundo, que compõem a lista da Fortune 500, simplesmente não existirão em 2020. No que envolve redes sociais, também haverá transformação. ?Em 2020 haverá duas vezes mais comunicação entre dispositivos inteligentes na rede do que entre computadores tradicionais. Isso vai mudar para sempre a forma como pensamentos e interagimos entre nós e com os dispositivos na rede. Por exemplo, vamos usar redes sociais para seguir coisas inteligentes, e não somente pessoas ou marcas?, contou.
E quer saber como se proteger em uma sociedade hisperconectada? Salve o link desta notícia, favorite no Twitter, e leia com calma em casa, especificamente na pergunta de número 5.

Leia a entrevista na sequência.

1. Depois do Big Bang dos dados, que o senhor previu que ocorrerá em 2022, como sistemas de armazenamento e de rede, assim como de analíticos, vão atuar? Haverá um crash nos sistemas?
Acredito que lidar com o problema de Big Data requer uma mudança na forma de pensar. Não deveria ser sobre ?gerir sistemas de storage?, mas sobre ?gerir informação?. Em 2022, a taxa de aumento dos dados é esperada para 4400% de seu total atual. Mover para processamento em nuvem será o próximo passo lógico. No entanto, isso ainda não é suficiente. O volume de informação no nível de zettabyte vai requerer novos métodos analíticos. Em dez anos vai passar para analíticos que aprendem sozinhos e sites que se autoafinam.
Hoje muitas companhias são focadas em encontrar soluções para analisar os grandes amontoados de dados que chegam, procurando pelo que Donald Rumsfeld chamou de ?incógnitas conhecidas?, ou soluções para problemas que existem hoje. No futuro vamos procurar por ?incógnitas incógnitas?, ao passo que os analíticos, amparados por inteligência artificial, vão permitir procurar por padrões que não conhecíamos, identificando tendências e anomalias antes mesmo de elas ocorrerem.
Não acredito que haverá um crash no sistema. Agora mesmo estamos enfrentado o que eu chamo de ?paradoxo de acessibilidade?. Enquanto a maioria das tecnologias que contribuem para o Big Data são open source, sua efetiva organização e análise é reservada às companhias com maiores orçamento, tais como Google, Amazon, Netflix e Wal Mart. Em dois ou três anos pequenas e médias empresas vão seguir seus líderes, ao mesmo passo que propostas com custo efetivo vão surgir para domar o volume, velocidade e variedade de dados massivos. E lá por 2020 Big Data será apenas Data (dados).
2. O senhor poderia descrever algumas mudanças positivas que este cenário trará?
Literalmente todos os setores serão afetados pelo Big Data em dez anos e vamos nos beneficiar disso de diferentes formas. Em um nível pessoal, o tema e analytics ?faça você mesmo? vai nos ajudar a enxergar causas e efeitos de nossas ações em tempo real, o que gerará um comportamento mais consciente.
No nível organizacional, Big Data vai se tornar uma base-chave para competição, embasando novas ondas de crescimento da produtividade, inovação e permitindo que as companhias obtenham insights críticos sobre as fraquezas e forças de seus competidores. Em adição, nos próximos três anos o tema não somente vai criar perto de 4,5 milhões de empregos de TI globalmente, mas vai abrir oportunidades de emprego para 13 milhões de pessoas fora do setor de tecnologia.
Na escala global, a modelagem de análise do tempo real vai nos permitir prever mudanças climáticas, assim como diagnóstico efetivo de quebras de controle epidêmico, resguardando milhares de vidas. De fato, Sergey Brin e Larry Page, fundadores do Google, pediram aos reguladores governamentais que não os obriguem a apagar termos de pesquisas com muita rapidez, o que prova que esse tipo de informação é uma excelente ferramenta para sinalizar e controlar surtos de gripe com muito mais rapidez do que o feito por oficiais de saúde. No futuro, ferramentas similares de controle serão usadas para controlar pandemias, prever com assertividade catástrofes naturais, conservar e gerir fontes preciosas, como água ou energia, e promover avanços enormes na composição genética individual.
3. E Como novos produtos, como os Óculos do Google (Google Glass) vão mudar a forma como as pessoas interagem com a internet?
Até 2022, a internet vai transformar completamente as expectativas e comportamento dos consumidores de todo o mundo, focando em individualização, transparência, disponibilidade e rapidez. Este processo já começou.
Ao longo dos últimos dois anos testemunhamos o nascimento de diversas maravilhosas inovações, tais como realidade aumentada, computação vestível (wearable technology/wearable computer) como o Google Glass ou a tecnologia NeuroSky?s ThinkGear, que sente e reconhece sinais de ondas cerebrais e padroniza o zumbido elétrico do cérebro e usa a informação para controlar tudo: de jogos de computadores a equipamento médicos e internet. Adicione na mistura funcionalidades como reconhecimento de face ou capacidades de eye-tracking, e você terá o cenário de quanto nossos relacionamentos com o mundo físico e a internet vão mudar.
Apenas imagine a situação. Você está andando pela rua e de repente vê uma cidente na estrada. A câmera embarcada em seus Óculos do Google vai gravar tudo, transformando você em um repórter ao vivo, somente pelo fato de você estar exatamente no ambiente de ação. A função de um sistema de reconhecimento de face vai permitir que você saiba quais são os envolvidos. O mais: você não terá de apertar nenhum botão para postar as informações na rede. Graças à tecnologia de reconhecimento de ondas cerebrais você poderá acessar sites somente com o poder de sua mente.
Além disso, os analíticos de Big Data vão analisar e identificar nossos padrões de comportamento entre ferramentas de buscas para prever corretamente nossas necessidades bem à frente do tempo.
4. Em sua opinião, como serão as redes sociais do futuro?
Por enquanto, de 80% a 90% das informações publicadas são desestruturadas. A maior parte disso vem de mídias sociais, vídeos e de dispositivos como smartphones e tablets. O Gartner prevêe que análises de redes sociais e análise de conteúdo vão crescer mais de 600% em cinco anos. Estimo que estes números serão ainda maiores, ao mesmo passo que informações geradas por multimídia, mídia social e ?Internet das Pessoas? receberão uma nova rede ? ?Internet das Coisas?. Nanocomputadores embarcados em objetos físicos do dia a dia serão conectados à nuvem e poderão não somente enviar informações sobre eles mesmos e seus entornos, mas comunicar-se entre si. Não é necessário dizer que a Internet das Coisas vai representar um crescimento exponencial nos dados. De fato, em 2020 haverá duas vezes mais comunicação entre dispositivos inteligentes na rede do que entre computadores tradicionais. Isso vai mudar para sempre a forma como pensamentos e interagimos entre nós e com os dispositivos na rede. Por exemplo, vamos usar redes sociais para seguir coisas inteligentes, e não somente pessoas ou marcas.
5. Em uma sociedade hiperconectada ? que estamos começando a sentir nesses dias iniciais ? temos duas coisas a prestar atenção: privacidade e segurança cibernética. Como isso vai evoluir em um contexto de Big Data?
Como mencionei antes, Big Data e hiperconectividade vão trazer inúmeras mudanças positivas na forma como as pessoas interagem no mundo. No entanto, como você mencionou, há uma ?pegada?. Enquanto os dados se proliferam, o mesmo acontece com as capacidades de explorá-los. O cibercrime vai continuar a evoluir no curso dos próximos dez anos e a segurança deve fazer o mesmo. Companhias organizações governamentais vão investir milhões de dólares para proteger sua privacidade, ao passo que controle sobre a informação vão se tornar os assets mais poderosos
No entanto, resolver as questões dos desafios de privacidade e segurança cibernética não é somente sobre proteger o servidor corporativo de ataques. Mais e mais empregados são conectados remotamente, usando seus próprios dispositivos móveis, e postando informações em redes sociais e na nuvem.
Qual a solução?
Como Albert Einstein pontuou, ?não podemos resolver problemas com o mesmo processo de pensamento que utilizamos quando o criamos?. Em vez de tentar proteger nosso limite em Big Data, vamos transformar Big Data em solução
Uma startup de Israel chamada de Seculert já introduziu a ferramenta ?Securlet Sense? (algo como percepção de alerta de segurança) neste ano. Ela busca usar análises de grandes dados para descobrir ameaças cibernéticas no universo corporativo. A ideia por trás é coletar dados de malwares ativos, acelerar detceção de doenças e aumentar a segurança corporativa fora da rede. Em adição, analytics poderão nos ajudar a prever falhas em hardware e evitar fraudes.
6. Como os dispositivos desta nova era serão? E como isso vai mudar os negócios e o departamento de TI?
Fiz uma previsão há alguns anos dizendo que os dispositivos da nova era seriam vestíveis, conectados e escondidos em nossos objetos do dia a dia. Esta é a filosofia principal atrás do Design de Inovação Di Bari ? melhorando e dando a objetos do dia a dia uma nova vida, pela implementação de diferentes tecnologias e novos materiais
Dispositivos como computadores e smartphones vão se fundir e desaparecer em joias digitais e acessórios de realidade aumentada e acessórios similares aos Óculos do Google. Nanochips e nanossensores vão transformar nossos objetos do dia a dia em computação poderosa, que não vão somente entender o ambiente, mas comunicar essas informação com a nuvem em tempo real. Todas essas mudanças vão causar uma grande mudança na indústria de TI.
De 2013 a 2020, a indústria de TI vai completar sua transição para a ?terceira plataforma?, que será construída em computação móvel, redes sociais, serviços de nuvem e tecnologias de análise de big data.
Essas tecnologias vão responder por 90% de todo o crescimento do mercado de TI. Em 2015, empresas vão gastar mais de US$ 100 bilhões em novas tecnologias e soluções para criar novos produtos e serviços e redefinir as relações existentes com clientes. Acima de tudo, o gasto global com TI vai exceder US$ 3 trilhões. Isso é quase o mesmo tanto que o PIB da Índia e da Rússia combinados.

7. E quais são os desafios dessa nova situação?

Esta é uma grande questão. Um dos maiores desafios futuros que eu vejo quando Big Data não é a inabilidade de capturar ou organizar ou analisar. Sou otimista que estes problemas serão endereçados e resolvidos nos próximos três ou cinco anos.
O maior desafio, em minha opinião, depara-se com a hierarquia rígida das companhias e sua habilidade de tirar o máximo proveito desses dados que estão recebendo. Isso é especialmente verdade para os gigantes internacionais que ainda não reorganizaram seus sistemas de tomada de decisões. Dados em tempo real requerem uma efetiva reorganização de decisões baseadas em dados de tempo real. Além do mais, para quê investir em ferramentas que garantam dados em tempo real se você não consegue reagir em tempo real? Esta é uma das razões pelas quais algumas das empresas que hoje representam a lista da Fortune 500 não vão mais existir em 2020 e porque algumas das startups de Big Data e relacionadas a nuvem vão se tornar empresas de bilhões de dólares em dois ou três anos.
8. Cloud computing talvez seja a mudança mais transformadora dos anos recentes. O que podemos esperar para o futuro em termos de infraestrutura? Poderemos ser ainda mais flexíveis hoje do que já somos com a nuvem? como?
Você está certa, cloud computing é uma das maiores mudanças que testemunhamos nos anos anos recentes. Até 2020, devemos esperar três maiores mudanças em computação em nuvem, que não representarão evoluções, mas revoluções. Primeiramente, com mais e mais tecnologias sendo consumidas como serviço, o software vai se separar do hardware e a computação vai se tornar ainda mais invisível. O CIO não será mais capaz de desenhar seu mapa de infraestrutura, porque esses será locado em um espaço extremamente abstrato.
Em segundo lugar, nascerão novos tipos de aplicações ?flutuantes?. Elas serão baseadas na nuvem, mas serão capazes de enganchar em outras nuvem e também em outras aplicações, flutuando por dentro e por fora de provedores de serviços.
E, finalmente, data centers irão funcionar como ecossistemas, controlados por um ?cérebro? ou por sistemas superiores, rodando equipamentos via software. Assim como um organismo respiratório, esses sistemas vão crescer e encolher de acordo com os fluxos de trabalho.
Isso pode soar muito futuristico, mas para a nova geração de CIOs que vão crescer usando ferramentas de nuvem, será um preceito
Respondendo à sua pergunta de como podemos ser mais flexíveis com cloud computing, eu diria que precisamos pensar em termos de criar nuvens mais especializadas. A CSC prevê que até 2020, mais de um terço de todos os dados vão viver ou passar através de nuvens. Provedores de serviços de cloud com ofertas de tecnologia para armazenamento e computação não vão mais endereçar as necessidades do cliente. Afinal de contas, você não iria ao médico de família esperando que ele curasse uma dor de dente. De forma similar, companhias que enfrentam desafios específicos vão olhar além de nuvens existentes em relações às três categorias principais: ou oferta de infraestrutura-como-um-serviço, plataforma como um serviço ou software-as-a-service. No futuro as nuvens serão divididas em pequenos nichos, e diferenciados pelas suas capacidades infraestruturais, cada uma oferecendo um agama específica de serviços ou endereçando problemas extremamente específicos.